DEUS EXISTE, EU O ENCONTREI NA FORMA DE CUPIM
DEUS EXISTE, EU O CONTREI NA FORMA DE CUPIM
Falar de assuntos assim torna-se bastante difícil, porque nem todas as pessoas enxergam as coisas por um mesmo prisma. Existem pessoas que nem sequer acreditam na existência deste ser maravilhoso que chamamos de Deus. Eu mesmo já fui muito descrente e blasfemador, mas hoje se alguém me perguntar o porquê desta minha falta de fé, simplesmente eu responderia que não sabia, talvez por ignorância, por falta de motivação dos meus próprios pais, que apesar serem católicos não eram praticantes assíduos, freqüentavam esporadicamente em datas festivas e ou casamentos, batizados e missas de sétimo dia, por viver afastado da igreja desde que um padre injustamente me levantou pelas orelhas sem eu estar fazendo absolutamente nada, pois as crianças que estavam bagunçando na igreja quando viram o padre correram e eu como não tinha aprontado fiquei quieto no meu cantinho, mas só que quando o religioso chegou perto de mim foi logo me castigando. Confesso que apesar de não ser nenhum santo sempre fui uma pessoa cometida desde minha infância, mas naquela hora eu perdi totalmente o controle e disse poucas e boas com o vigário, palavras do mais baixo calão além do mais ainda cheguei dar um chute nas suas canelas, aí então, desta data em diante criei certa aversão pela igreja, que hoje com o entendimento que tenho vejo como uma besteira de minha parte, porque sei que a instituição igreja não tem nada a vê com os erros dos seus membros.
Confesso a luz da verdade e da sabedoria divina, que sem querer ser grosseiro estou pouco preocupado com que as pessoas vão pensar ou falar da minha maneira incomum como encontrei com Deus. Para mim o importante não foi à maneira, mas sim o despertar, o toque, o alvorecer, a chama que se acendeu dentro de mim, a abertura de meu coração, a tirada da venda que tapava meus olhos, o deslumbramento do infinito através da alma e da razão, a passada segura em busca do caminho, da verdade e da vida.
Em dezesseis de julho de 1976, com muita honra e orgulho da dignidade eu consegui me formar terceiro sargento de infantaria na 165ª turma da Escola de Especialistas de Aeronáutica, turma Tenente Brigadeiro do Ar MÁRIO CALMON EPPINGHAUS, tendo sido classificado por término de curso na Base Aérea de Belém, unidade esta que me recebeu de portas abertas e me designou para prestar serviços na Companhia de Infantaria de Aeronáutica, que posteriormente foi elevada a categoria de Batalhão, neste ambiente de trabalho eu juntamente com meus colegas construo uma verdadeira família de irmãos não ligados por laços sanguíneos, mas de uma amizade sólida, alicerçada no respeito mútuo, num pensamento coeso de amor ao próximo e de dedicação ao trabalho em prol da formação do homem para desempenhar seu papel na caserna e como cidadão na sociedade. Os vínculos de amor fraterno entre os membros desta família são tão grande que ainda hoje perduram, seus membros mantém contatos e se visitam para matar um pouco da saudade.
Na proporção que o tempo se passava ia chegando novos reforços e crescia também a harmonia e coesão da família que se estendia com a amizade dos parentes de cada um. A dedicação da equipe era tamanha que nunca mais eu vi nem consegui ver outra igual, o entrosamento é tanto que até hoje apesar do tempo e da distância que separa os membros desta equipe nunca se partiu este elo forte que nos une para sempre.
Foi justamente no auge desta união e deste trabalho espontâneo e voluntário que resolvi enfrentar o desafio da construção de um anfiteatro todo em madeiras virgens colidas em uma mata que fica próxima ao paiol de munição da Base. Com mão de obra a vontade e material a disposição começamos a construir a gigantesca e audaciosa obra, que tinha capacidade depois de pronta para acomodar duzentos homens devidamente sentados confortavelmente.
O trabalho desenrolava-se a todo vapor, o local não poderia ter outro melhor, localizado dentro de um bosque de bambu, perto do Batalhão, de fácil acesso, lugar tranqüilo e aconchegante de uma beleza rara e com uma coberta natural que certamente proporcionaria um conforto maior para os usuários. A madeira utilizada era toda de lei, de primeira qualidade e resistente as intempéries próprias da região tais como: sol, chuva, calor, umidade, os parafusos eram todos galvanizados e fortes, feitos através de encomendas.
Quando a construção estava quase pronta, que se divulgou pela Base a beleza e a grandeza do feito começou a aparecer às visitas das mais variadas espécies, umas para elogiar outras para tecer algumas críticas. A maioria dava os parabéns pelo capricho e suntuosidade do empreendimento, outros faziam comentários desaprovadores: você devia ter feito isto, devia ter feito assim, deveria ter feito aquilo, eu simplesmente respondia seria muito bom companheiro se você estivesse chegado antes da ter sido feita.
Certa feita chegou uma destas visitas inescrupulosas e maliciosamente me perguntou, Mesquita este local tem capacidade para quantas pessoas sentadas? Eu simplesmente respondi duzentos homens devidamente sentados. O visitante com ironia disse: esta merda vai cair. Na posição que eu estava retruquei em voz alta, alterada pela ira, que me envolveu o corpo e a alma naquele momento e simplesmente respondi: esta merda, nem Deus derruba, aí então, morreu o papo.
No dia seguinte como costumeiramente fazia, cheguei muito cedo ao quartel e fui logo tratando de dirigir-me para o local da construção com o intuito de admirar o meu intento. Eis que de repente fui sobressaltado por uma multidão incalculável de cupins, que devoravam de forma assustadora a madeira virgem de minha obra prima de um dia para o outro.
Confesso que sou meio cabeça dura, não sou fácil de deixar me levar por certas impressões ou superstições, mas por instantes fiquei estático e atônico, o desespero tomou conta de mim, o sangue me faltou na face, as minhas pernas cambalearam, o meu coração disparou de taquicardia, a solidão tomou conta de mim, tive a sensação que iria desmaiar, por um momento pensei em sair correndo a esmo. Após alguns segundos de uma eternidade, respirei e consegui voltar a mim exclamando comigo mesmo, não precisa de Deus para destruir esta merda, um simples cupim tranquilamente a transformara em pouco tempo em ruínas.
Lembrei-me de minha blasfêmia e com arrependimento vindo do fundo de meu coração e de minha alma, sozinho, mas na presença do Pai Celestial desabafei: Deus existe, eu o encontrei na forma de cupim. Desde este dia a minha vida mudou de uma maneira significativa eu passei a vê o mundo de outro prisma através dos olhos do coração sem com tudo me esquecer da razão. Tomei aquele episódio como o maior exemplo de vida que se possa ter e a mim mesmo prometi de nunca mais blasfemar, duvidar dos poderes daquele que tudo ver e sabe, porque é onipresente, onisciente e onipotente. Com o passar do tempo começou a fluir em minha memória mensagens com o cunho de sabedoria divina, com promessas de um mundo melhor, com visões futuristas, com propósitos instrutivos e com lições educativas.