"UM CONTO PARA TEREZA"

Todos os dias quando ia para o trabalho eu a via no jardim do casarão onde residia com mais alguns idosos, uma espécie de asilo. Ela ficava ali todas as manhãs, sentada entre as margaridas e rosas, ao seu lado quatro bonecas. Passei a observá-la e ficava intrigada com aquela cena nada comum já que os outros idosos nunca estavam por ali também. Numa conversa com a coordenadora do local fui informada que Tereza fazia isto há muitos anos, desde que fora abandonada pelos quatro filhos, que alegavam não poder cuidar mais dela. Com os seus 82 anos, se mantinha fiel ao seu ritual de todas as manhãs, quando logo ao se levantar levava consigo as quatro bonecas, que para ela representavam cada um de seus filhos, para o jardim, a fim de tomar sol e apreciar as flores. Ninguém conseguia convencê-la do contrario, mesmo em dias de chuva, lá ia Tereza cumprir com sua sina, ficava no jardim por toda manhã e só na hora do almoço é que voltava para o seu quarto, guardava suas bonecas e seguia a rotina triste do seu dia a dia. Trazia consigo um silêncio misterioso, carregava no rosto as marcas de uma vida sofrida e amargurada. Aquela senhora era para mim um exemplo de vida, que passei a valorizar um pouco mais depois de ver a sua solidão, a sua dramaticidade. Tentei por diversas vezes ouvir de volta o seu “bom dia”, mas era em vão, Tereza não expressava nenhuma reação, mas os seus olhos tristes muito me falavam. Tinha vontade de abraçá-la, de lhe fazer um carinho e até mesmo de chamá-la de Vó, mas ao mesmo tempo me continha, respeitando a sua privacidade e a sua quietude.

Foi numa manhã fria e de vento forte que tive uma grande surpresa, ao ver Tereza no jardim, parei e a olhei entre as grades do casarão, depois de alguns instantes da minha insistente presença, Tereza ergueu os olhos, fixou-me e sorriu, baixando de imediato o olhar voltou a se ocupar com suas companheiras tão mudas e indiferentes quando ela. Nunca mais esqueci aquele sorriso, me marcou para sempre. Só no dia seguinte é que entendi que foi uma doce e singela despedida, pois na noite daquele mesmo dia Tereza voltou para Deus.

Ainda passo por lá todas as manhãs e parece que ainda vejo Tereza naquele jardim, naquela cena que tanto me marcou. Levo comigo aquele sorriso triste e único, mas que para mim valeu por todas as vezes que não o tive.

Rosana de Pádua
Enviado por Rosana de Pádua em 26/08/2011
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