"CABEÇA DE MERDA" Conto de: Flávio Cavalcante

CABEÇA DE MERDA

Conto de:

Flávio Cavalcante

As vezes pensamos que já vimos de tudo na vida. Coisa que de fato o nosso dia a dia nos mostra que basta viver nesse mundo para aprendermos sempre e não adianta falar que sabemos de tudo porque no mesmo dia temos experiência que contradizem nossas opiniões. O que leva uma pessoa a ter uma vida de rei, tendo tudo nas mãos e enveredar por caminhos tortuosos sem justificativa alguma? Essa história que vou relatar aqui se trata de um fato que me deixou bastante perplexo.

Na minha vida conheci várias pessoas e sempre tentei me relacionar com elas da melhor forma possível. Sempre respeitei o espaço de outrem, tendo isso como uma lei para mim. A minha educação dada pelos meus pais sempre foi aquela educação digna de honestidade e cidadania. Assim, como o lado religioso, sempre tentando enveredar pelo caminho do bem, fazendo o bem sem olhar a quem. Ás vezes implantando ás parábolas dos profetas acabamos usando-as de formas errôneas, prejudicando a uns e principalmente a nós mesmos.

Sempre levei uma vida regrada, pago minhas contas em dia para não ter problemas. Na realidade sempre procuro estar de bem comigo mesmo e não troco minhas noites de sono por nada. Gosto de pôr minha cabeça no travesseiro e dormir feito um anjo. Corro de problemas assim como o diabo corre da cruz. Mas parece que quando a gente tenta andar o mais correto na linha, sempre aparece alguém para querer te desviar dos objetivos delineados por você.

Um dia andando por um lugar, considerado uma área de muito risco para uma visita a um colega, conheci uma mulher por nome de (R), parente desse meu colega. Não sabia que a partir daquele momento minha vida tão regrada iria se tornar tão tensa. Cheguei á sua residência e a (R) foi logo me convidando para entrar. Sua casa era uma residência muito humilde, mas á ponto de logo perceber que eles passavam necessidades. E não bastou muito tempo para eu passar a conhecer os problemas de cada um da família. Conheci também seu filho do meio. Este, fiz uma amizade que se estendeu por muito tempo. Com o passar do tempo fui me envolvendo com os problemas financeiros da família á ponto de chamar o amigo para passar uns tempos na minha casa, até pra amenizar o sofrimento e despesas na casa da amiga. Tarefa propriamente simples se tudo corresse da forma como planejada.

A vida ensina a fazer o bem sem olhar a quem, mas é necessário olhar a quem para não cair na esparrela que me meti.

O cidadão passou uns tempos lá em casa. Como sempre fui muito organizado nas minhas economias, tinha minha vida controlada, não via necessidade alguma de exigir alguma ajuda nas despesas até pela situação momentânea que ele estava passando. De alguma forma posso dizer que até o fato dele já sair daquele lugar, já foi uma grande vitória para ele mesmo. Posso dizer que se o inferno é aqui na terra aquele lugar é o caldeirão do diabo. Cada esquina um campo de batalha. Homens e menores de idade armados com armas de vários calibres, distribuídos e várias esquinas e escondidos atrás de postes e luz. Troncos velhos de árvores cruzados em várias ruas para despistar o avanço da polícia. Confronto á toda hora impedindo dos moradores saírem de suas casas até para não irem de encontro á morte.

No lugar onde moro, posso dizer com toda convicção é um paraíso comparando com este lugar. Costumo falar que se Deus é brasileiro, Jesus Cristo morou aqui no bairro onde moro. E foi exatamente pra esse lugar que esse cidadão veio. Chegou desempregado e consegui através de conhecimentos, arrumar um bom emprego. Enfim; começou a ter uma vida social de um cidadão, assim como sempre fui.

Não bastou muito tempo para uma sessão de mentiras invadirem a sua cabeça. Depois de dois meses de trabalho honesto, abandonou o emprego sem dar a mínima satisfação a ninguém e só vim descobrir a façanha um mês depois, pois a gerente do local de emprego ligou pra minha residência procurando-o e foi a partir daí que a minha vida regrada começou a ter uma mudança radical.

Com o tempo passei a descobrir que havia dado oportunidade á uma pessoa que não havia acordado para a realidade e estava destruindo toda a chance de sua própria vida. Tentei relevar e me propus a fazer uma sessão de recuperação de um ser humano para não ser mais um na história da bandidagem desse país e aguentei momentos horrendos provocados por ele. Tive que amargar algumas agruras; pois, cheguei a um ponto de percepção que a recuperação deste cidadão seria uma questão de honra da minha parte, mas, uma tarefa dificílima.

As manias trazidas de toda uma existência em um lugar de criação sem a mínima noção de educação, dificultou ainda mais o meu esforço e por causa dessa doença entranhada desde criança, trouxe pra dentro do novo habitat todos os maus costumes que com certeza foram de encontro aos meus princípios.

Além de viver numa moradia de paz e amor ele passou a criar um mundo próprio parecido com o seu habitat natural. Começou então uma sessão de mentiras, vivia furtando os armários da despensa pra suprir as necessidades dos seus entes que carregavam situações difíceis, mas sem comunicar absolutamente nada, achando que eu não estava percebendo as suas atitudes erradas. Aliás, chegou um ponto culminante que transformou a minha vida organizada num caos. E depois de muito tempo tive que tomar atitudes que realmente não é do meu feitio. E hoje tiro este fato como uma grande lição de vida e sempre me pergunto o porquê as pessoas agem dessa forma? O que passa na cabeça dessas pessoas que agem prejudicando a si próprio?

Hoje, vejo isso como um distúrbio. É incompreensível que uma pessoa que vive numa situação diferente da sua anterior, venha a ter certos comportamentos. Um fator psicológico; uma situação que merece ser tratada com cuidados especiais por especialistas. Pois vejo pessoas que agem dessa forma uma futura ameaça para a sociedade, caso não tenha um tratamento urgente. E tiro como conclusão desse fato, que devemos sim fazer o bem sempre, mas temos que olhar a quem estamos fazendo o bem, para a sua vida não virar de cabeça pra baixo.

Flávio Cavalcante

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/08/2011
Código do texto: T3186662
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