MADAMAS

Elas era tudo mulher direita antes de tere se conhecido. Tudinha num se distraía com risada e nem fuxico. Mas mulher é de carne e osso e, às vez, dói.

A Dalva era do lar, fazia faxina em casa de dotô e cafofo de assalariado, num importava de onde viesse o soldo, se desse pra inchê de feijão o bucho dos pequeno e de cachaça o rabo do Comédia – seu encosto de aliança no dedo, com a graça de Deus – já tava bom. Fátima era um passarin mudo, uma santa católica cum jeito de índia tremembé, dividia seu tempo entre as ida à Igreja e às surra do Miro, aquele sargento seboso, com desejo em menina virge. A Andréa, quando era moça nova, foi eleita Miss Fortaleza num concurso de televisão, depois virô rapariga de homi rico e ficô cheia da nota, chegô a tê carro do ano e apartamento na praia, pra no fim tê acabado malamanhenta, feia e amancebada com o Túlio, um traste bonito e sem alma que lhe sugô sem pena o viço e o último centavo. Lena era analfabeta, oca, assombrada, rota e mulhé do Plaza Mecânico, o pessoal dizia que ele era baitola, que tinha caso cum moço da Ceasa, mas a Lena num creditava, num sabia lê nada, nem ninguém. A Gilda tinha um marido bom e uma casa boa, mas, de tanto medo da esmola que a vida lhe dava a troco de nada, preferiu chifrá em banda de lata o coitado do Bebeto, um homi bom que ela temia amar e purisso num respeitava.

Se conhecero no Francisca Clotilde, um desses canto adonde mulhé que sai de casa com medo de morrê recebe socorro. A Dalva tava com uns beiço de fazê inveja a um jumento, o sangue coalhado no canto da boca, os olho desencontrado, procurando pelos filho. Fatinha segurava com força um rosário nas duas mão, rezava um terço misturado, toda queimada de cigarro, mais santa que tremembé, a raiva da índia debaixo dos pé e dos mistério de Nossa Sinhora. Andréa acendia um cigarro atrás do outro, jurava o Túlio de morte, se ria e se chorava, se ria e se chorava, secando com as costa da mão o olho fechado que supurava um sangue leitoso, tava tomada pelo diabo, ai, ela tava. A Lena, de tanto não querer ler, aprendeu vendo: pegou o Plaza e o Castro Verdureiro de arrumação na cama onde ela tinha parido três filho, num deu outra, apanhou do esposo e do macho dele. Mas a Gilda, sem tirá nem pô, era a mais lascada de tudo, tinha porrada nas costa, na cara, nas perna, acabou recebendo das cunhada que sempre lhe odiaro a paga pelo seu mal passo, Bebeto ficou só oiano de braço cruzado, a cara seca, o ombro encolhido, num chorô, mas chorava.

As conta do rosário de Fátima pularo longe, as outra meio que se assustaro, como se um anjo torto anunciasse o ajuntamento de um desgosto ainda maior. Gilda se agarrô-se cum ela e tentô segurá o diabo dentro da garrafa, mas aquela moça se perdeu-se pra sempre foi naquele dito momento de imoral revelação. Eu vô sê rapariga, disse ela cum sorriso de possuída nos dente, aquele excomungado e Deus nunca que me dero nada na vida além de pisa e cuspe na cara, cansei deles dois, agora todo homi da face da Terra vai me pagá pelo que aqueles dois fizero comigo, e vão pagá em moeda de ouro. Andréa se riu da loucura de sua esfolada cumade de sofrimento e lembrô dos tempo bom, onde era rainha na cama dos veriadô e dos deputado, se aprochegô-se da índia que queria dançá o toré das quenga e falô que de vadiage sabia a missa inteira e mais um cadinho, que ia ensiná Fátima a virá uma boneca Suzi, de vestido de festa e maquiage na cara. Ainda abraçada à menina que agora mais sorria que chorava, Gilda falô que tinha uma casa de sua avó que fazia tempo tava abandonada no Bairro do Montese e que muito bem serviria de cabaré para todos elas, assim viverio sem o dinheiro dos homi e também terio de como se mantê. O desinfeliz do Comédia nunca que me bateu um prego numa barra de sabão, se balançô-se a Dalva dentro de sua roliça estampa de negrinha, dinheiro nunca me deu, e só me comeu pra me encher o bucho de filho, vou deixá meus bacurinho no interiô cum minha irmã e vô desempenhá função no puteiro das amiga. Fui casada com uma égua a vida inteira e nunca foi que me apercebi, debochô Lena da falsa macheza do Plaza e arregaçô a saia até aparecê as calcinha, agora é minha vez de me deitá com os verdureiro da Ceasa.

O Madamas ficou conhecida em toda a Região Metropolitana de Fortaleza, desde Maranguape a Horizonte. E num era famoso pela boniteza de suas cunhãs, mas por elas tudo sê mulhé fugida de marido valente. Caiu no gosto dos homi pela novidade, mas fechô suas porta em menos de um ano de intenso funcionamento. A casa da avó da Gilda no Montese inté que era grande, mas num tinha mais condição de abrigá tanta gente, uma muierada sem fim vinda de todo canto, quase todo dia.

Do Cabaré Madamas, sobrou apenas um burburinho pra ser contado na falta de uma prosa decente. E suas puta? Se apercebero do mau passo e hoje são de novo tudinha muié casada.

EMERSON BRAGA
Enviado por EMERSON BRAGA em 23/09/2011
Código do texto: T3236506
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