Conto Nublar #033: Parte 3/3
 
A INCRÍVEL HISTÓRIA DE JOÃO NINO CENTELHA

ENFIM, SÓS!
 

EPÍLOGO

[...]

_ “Mas, Coronel...!” _ Ao que ele replicou-me interrompendo:

_ “Mas coisa nenhuma e só volte daqui a oito dias pra pegar a Rosinha! Chispa! Chispa!” _ Foi curto e grosso.

Voltei super revoltado. Não foi isso que eu sonhei todo esse tempo de espera. _ "Pra que o Zequinha foi me ensinar tudo aquilo?", _ Pensava com os meus botões, enquanto os arrancava de raiva, um a um e os jogava ao longo da estrada. Meus pissuídos doíam de revolta.

Passei quatro dias nessa revolta sem comer direito. Só pensava na Rosinha. Então, na manhã do quinto dia, tomei coragem e fui enfrentar o sogro. Aquilo era um absurdo! Onde já se viu, se casar e a noiva ficar com os pais dela?

Quando cheguei na fazenda do Coronel, este veio me receber sorridente e perguntou-me a que devia o prazer da visita. Ora! Que pergunta mais boba? E ele não saberia o real motivo?

_  “Senhor meu sogro, bom dia! Eu vim aqui buscar a Rosinha com quem me casei e não acho justo ela permanecer aqui, com vocês. O lugar dela é lá em casa, ao meu lado.” _ Disse tudo isso num só fôlego.

_ “Espere aí, meu rapaz! Está muito afobado e bem apressadinho! Não é assim, não!”

_ “E não é assim! Não, mesmo! O Senhor está abusando da autoridade de pai! A Rosinha agora é minha mulher e não vou tolerar nem mais um minutinho longe dela. Eu quero levá-la agora mesmo comigo! Mande ela pegar suas trouxas pra ir embora comigo!”

_ “Eita que meu genrim tá é abusado pro meu gosto! Mas, tá certo! É mais do que justo! Mas façamos assim! Você volta e eu mando as carroças levar as coisas da Rosinha. Aí eu mando também as camareira pra ir arrumando a casa e prepare a festança pra hoje à noite que eu e a Sinhá vamos levar a Rosinha pra você. Combinado?” _ Assenti com a cabeça que sim e voltei encabulado, porém mais confiante.

Tudo pronto, mais de cinquenta pessoas se fizeram presentes lá em casa e deixaram tudo preparado para a chegada da Rosinha. Salpiquei água de cheiro por todos os cantos da casa para ficar mais aconchegante.

Às sete da noite chega o Coronel, Dona Sinhá e a Rosinha. Tive medo de o meu coração saltar de goela a fora. O sogro foi chegando e foi logo me dizendo:

_ “Pronto, João Nino! Aqui está sua Rosinha como prometi. Agora, trate de a respeitar e fazê-la feliz, senão você vai ter que se ver comigo. Tás entendido, meu filho!”

_ ”Sim senhor, meu sogro! Disso não se preocupe. O que eu mais quero é fazer a Rosinha feliz e ser feliz com ela!”

_ “Então! Cadê as bebidas, as comidas e o tudo o mais pra começar a festança. Sanfoneiro! Puxa o fole que já vai começar a dança!” _ Mais que depressa, saltei na frente de meu sogro, com o dedo em riste, gritei com todos os meus pulmões:”

_ “Alto lá, Coronel! O Senhor está aqui, em minha casa e fique de uma vez por todas sabendo que, o Senhor manda em sua casa. Aqui, quem manda sou eu!! Festa? Pra que mais festa? Já tivemos a nossa festa lá em vossa casa. Eu quero que todos saiam daqui que estamos muito atrasados. Entendidos? Fora! Fora todos!”

Saíram todos e, um a um, voltaram para suas casas. Só nós, o casal de pombinhos, ficamos, naquele aconchegante ninho, feito com todo o carinho. E, enquanto a lua descambava num quarto minguante, eu adentrava com a Rosinha em meu quarto cada vez mais crescente. Trancamos bem as portas e janelas e fomos radiantes pra nosso cantinho, entornar o leite com vontade e sem pressa sobre o leito nupcial. Era a primeira vez de cada um. A Rosinha não sabia direito o que iria acontecer. Eu só tinha uma noção, mas a natureza se encarregava de a preparar, depois de cada carinho, cada beijo apaixonado que trocávamos entre nós. Eu nem mais me lembrava das brincadeiras inocentes que intencionava fazer com ela naquele momento. Aliás nem pensava, mas gentilmente, nos demos mutuamente naquela inesquecível momento e, como penhor e selo de felicidade, entregamos um à outra as nossas virgindades, e com a maior pureza de coração, nos conjugáramos numa só carne.

É certo que numa convivência prolongada há altos e baixos. Tem os seus revezes. Mas nós aprendemos a discutir nossas arengas no dia a dia. Com o tempo vimos que guardar mágoas de nada servia senão para aumentar o desgaste e cavar um abismo intransponível entre nós. Chegamos à conclusão que a melhor coisa a fazer era conversarmos e nos perdoarmos mutuamente. Vivemos felizes e realizamos os nossos sonhos. Revivemos juntinhos, em meio à sensação de ninho vazio, cada um desses felizes momentos. A saudade dos nossos dez filhos, genros e noras, netos e bisnetos é amenizada com a chegada das férias, quando os recebemos prazerosamente em nossa casa. A alegria volta a reinar nos corredores e arredores da casa.

E fomos muito felizes até que a Rosinha partiu, sem volta, para a eternidade. Tadinha! Nem deu tempo de fazermos a nossa festança das bodas de ouro. Faltava tão pouco..."

****************

Uma lágrima de saudade rolou em seu rosto, enquanto dizia isto.

Em memória de Rosinha Ram Centelha!
Eterna saudade de João Nino, Nino Filho, Esnesto,
Débora, Rute, noras, genros e netos.


Ouça no Youtube QUERIDA com MOACIR FRANCO


Encontrei o JOÃO NINO CENTELHA no percurso entre Missão Velha e Juazeiro do Norte, na Região Metropolitana do Cariri, Sul do Ceará. Um senhor de quase 68 anos, bem lúcido e muito conversador. Sem que eu nada lhe perguntasse, papo vai, papo vem, findou contando a sua história. E, antes de eu saltar do ônibus em Juazeiro, perguntei-lhe se me permitiria contar a sua história e ele prontamente consentiu.

Apesar de a Televisão e demais mídias atacarem a estabilidade do casamento isso não é uma utopia, a nossa personagem vivenciou exatamente o que está escrito no plano divino: “Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele.” ... “Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem (Gênesis 2:18; 24, Mateus 19:5-6)”.

 

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 08/10/2011
Reeditado em 21/08/2017
Código do texto: T3264280
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