A musa.

Caminhando pela praia no fim da tarde eu a vi.

Aquele tom de amarelo alaranjado iluminando seu corpo na areia.

Aquele cheiro de mar e a água molhando meus pés.

Aquela paz invadindo minha alma.

O meu coração batendo forte ao vê-la assim, despida.

Sua beleza se misturando com a beleza do lugar.

Era como se nada mais existisse além daquele lugar e daquele momento.

Sentei-me distante e quase invisível.

Não queria que me visse.

Queria apenas poder ficar ali admirando aquela cena.

Parecia uma pintura viva, uma obra de arte.

Ela levantou-se da areia e caminhou de encontro ao mar.

Peguei a câmera fotográfica e bati algumas fotos preservando sua imagem, sem que pudessem reconhecer seu rosto.

Seu corpo nu com aquela iluminação parecia uma miragem.

Ela se banhou como se o mar fosse sua casa.

E juro que se alguém a visse assim, com as águas pela cintura, a chamariam de sereia, de encantada.

Eu seria capaz de passar horas a fitá-la sem me mover.

Não desejei possuí-la, nem sequer saber seu nome.

Eu só quis vislumbrar de forma intensa aquele momento mágico.

Ela foi saindo da água e deitou-se na areia.

Estava tão distante em seus pensamentos que nem ao menos se preocupava em olhar para os lados.

Parecia que só existia ela no mundo e que ninguém apareceria ali.

Fiquei algumas horas ali observando-a.

E foi assim que ela adormeceu, nua na areia.

Fui caminhando em sua direção calmamente, em silêncio.

Abri minha bolsa de palha, peguei uma saída de praia e cobri seu corpo.

Sentei ao seu lado e escrevi um bilhete que dizia:

Doce e deslumbrante criatura...

Hoje saí de casa com o coração triste e a alma pesada.

Vim para a praia para tentar escrever um pouco, sou escritora.

Andava sem inspiração para meu novo livro e isso estava me amargurando.

Confesso que foi Deus que me guiou até aqui hoje, só pode ter sido.

Obrigada por ter me devolvido a paz, por abrandar meu coração e por me dar a inspiração que eu precisava para escrever.

Que você tenha doces sonhos.

Cobri você pois o vento começou a soprar suave porém frio, não desejo ver-te adoecer.

Deixo água e comida, caso acordes com sede ou fome.

Muito obrigada.

"A escritora"

Coloquei o bilhete junto com algumas frutas, água, sanduíche e suco.

Levantei-me e fui caminhando com os pés na água.

Alguns meses depois estava em uma livraria em uma noite de autógrafos quando sem olhar pra cima, já um tanto cansada, peguei um livro das mãos de uma mulher para autografar perguntando:

_Autografo para quem?

_Pode escrever para a mulher da praia que me inspirou a escrever este livro.

Levantei meus olhos e vi novamente a minha musa. Que sorrindo me disse:

_A propósito, adorei essa foto minha, amei o livro e obrigada pelo lanche, estava delicioso. Posso retribuir com um jantar?