LUCY

Era uma vez uma garota chamada Lucy, que tinha o curioso habito de ficar sentada na varanda de sua casa admirando o céu. Não importava a que horas fosse ou como estava o tempo em cada dia, apenas ficava imaginando o que se escondia por trás daquelas nuvens. Tinha inveja dos pássaros que cantavam e gorjeavam perante a mais bonita e magnanima criação da natureza. Era algo que Lucy não sabia decifrar, mas seus olhos sempre se enchiam de admiração quando pingos de água caiam dos brancos pedaços de algodão, ou simplesmente quando um poderoso raio iluminava o magnifico negro. Lucy queria morar por entre as nuvens, e esse era o mais profundo e poderoso desejo que a inocente criança guardava em seu coração. Acredito eu que talvez fosse apenas uma forma de ela conseguir ficar sozinha, pois era onde Lucy se refugiava... Onde ela podia ter um pouco de paz. A vida dela não era perfeita, mas era a vida que muitas crianças desejariam ter, menos Lucy. Cheguei a acreditar uma vez que Lucy tinha adquirido um perigoso problema na cabeça, pois foi o que disse seus pais quando vieram até mim dizendo que a pequena garotinha de nove anos não conseguia concentrar-se em outras atividades. Ao chegar apressadamente do colégio a única coisa que fazia era se deitar à grama verde e fixar seus grandes olhos a imensidão azulada. Tentei explicar aos pais que não passava de uma pequena fase de criança, onde os filhos se desviam da realidade e buscam seu próprio mundo de ilusoes, mas seus pais estavam convencidos de que aquilo não podia ser normal. E como estava certos... Para Lucy era uma obssessão.

Engraçadamente um dia, chegou até a negar quem era seu pai, dizendo que não pertencia aquela lugar, pois seu verdadeiro mundo a estava esperando. Perguntei qual era e não me respondeu. Acho que Lucy realmente não sabia ou não queria contarme de modo algum, Porém fez questão de abrir um imenso sorriso sem desviar os olhos do céu quando a perguntei como chegaria a seu verdadeiro mundo.

- Doutor Hugo, só preciso aprender a voar.

Sinceramente não achei aquelas palavras diferente do que meus longos anos de estudo e trabalhando como psicologo estou acostumado a ouvir. Gostava de tratar crianças, principalmete apos a morte de minha filha. Lucy se parecia muito com ela, e sentia que com essa menina era diferente, pois pela primeira vez surgiu na minha frente um caso em que os varios diagnosticos não faziam sentido. Ela não apresentava nenhum sintoma, exceto do que falava e do que sentia. A pequena garotinha não conseguia dormir ou ficar em lugares fechados por muito tempo, e quando tentavamos com doses de soniferos diários acordava-se transtornada chamando pelo céu como se o necessitasse para viver. Estava convencido que pela primeira vez longos anos apreendendo não resultariam em nada. Lucy não dormia, parou de comer e dificilmente tomava água. A garotinha estava morrendo e eu não conseguia fazer nada. Apos uma noite inteira de pesadelos com ela decidi o pior, pois não tinha outra escolha além de uma série intensiva de eletro-choques. Expliquei aos pais que não havia dor alguma, e que era recomendado para os pacientes ficarem mais tranquilos... Eles concordaram, pois Lucy já demonstrava um padrão fisico muito baixo para sua idade. As primeiras sessoes foram tranquilas mas logo percebi que não havia efeito, o corpo de Lucy parecia rejeitar cada coisa feita para sua necessidade. Não sabia mais o que fazer.

Perguntei a Lucy qual era o seu problema, me entreguei totalmente aquela garotinha tentando descobrir uma forma de ajuda-la. Ela apenas respondia que era a vontade do que vivia além das nuvens. A perguntei se essa força grandiosa conversava com ela, pois ai sim teria provas talvez de uma esquizofrenia, porém Lucy muito além do que eu poderia imaginar um dia me respondeu que essa força além de conversar com ela guardava o espirito de minha filha em seu coração. Chorando segurei sua mão e ela com a pureza de uma menina tocou meu rosto e disse-me que ela estava bem, e que seu lugar era ao lado de seu pai. Nunca a havia contado sobre minha filha e não havia forma de Lucy ter descoberto a minha maior fragilidade. Pela primeira vez acreditei em algo alem do que meus olhos estavam acostumados a ver... Enxerguei a sua verdadeira face, descobrindo que o grande problema que eu procurava em Lucy não existia. Ela apenas era pura demais.

Lucy faleceu na noite seguinte, onde seu corpo foi encontrado onde ela permaneceu a vida toda, sentada na varanda de sua casa admirando o lindo céu negro. Acredito até hoje, que Lucy foi um anjo, um anjo perdido que desceu a terra para fazer as pessoas terem mais fé. Acredito também que ela conseguiu realizar o seu mais profundo desejo e fico feliz por ela...

Acho que agora estando contando essa história, mudaria seu começo para algo tão puro quanto Lucy:

Era uma vez uma garotinha chamada Lucy, que se transformou em um anjo e voou até os céus.

CarolEscritora
Enviado por CarolEscritora em 22/12/2011
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