canto do norte

Julinho ainda não esqueceu o dia que o pai foi embora, era de manhã. quando acordou viu seu heroi de mala na mão dizendo baixinho que assim que as coisas melhorasse ele voltava. quando? logo. e mamãe? cuida dela, ta bom. bagunçou seu cabelo e saiu pela porta. desde entao uma fé seca e afofada sacode o seus dias. brincando levanta a a cada tempo o cabeça e olha pra porta por onde seu pai sempre voltava quando saia para o trabalho e ou quando das noites de serestas, empurrava com cuidado o portão pra não acordar quem já estivesse dormindo. passou o primeiro ano. e nada de suas esperança se concretizar, o rosto do pai foi perdendo impactato, quase nao lembrava, a unica que coisa que vinha eram algumas frases, palavras soltas ou algumas ocasiões que sairam juntos. lembrou de quando saia pra pescar e o pai deixava a vontade. corria na frente, olhando o céu com toda clareza que Deus dava, os pés descalsos pisava sem freios no chão espinhento, molhado por chuvas noturnas, ou embrenhava em capoeiras gigantes, de pau d'espinho, as vezes se cortava, as urgigas passavam em suas pernas. coçava até sangrar, desperava, entrava no rio, espantava os peixes, sentava abria o enroladinho de fubá, com café quente, comia com gosto, observando o outro lado rio, que cada vez parecia mais raso, mais pobre e mais perto. seu pai do outro lado, nao baixava levantava a cabeça. so existia peixe naquele momento e a vontade de os levar pra casa. acendia seu cigarro, e esfumaçava o proprio rosto. esboçava um sorriso que nao saia do início, como se ja tivesse rido demais daquilo, de cá julinho tem impaciencia. vontade de voltar pra casa. sente esgotado, não tem nada mais pra fazer, so a esperar. ja tentou pescar, nao gosto de tirar os bichinhos assim, do rio. peixe deve ter pai e mãe, e os irmãozinhos como deve ficar, a noite quando um deles nao estiver por perto. levantou o olhou a terra que morava, tao grande e azul e o céu nem parecia ter fim. passaros cantavam e a fome ja apertava seu estomango. teve saudades de janaina, que fazia tempo foi embora. sentou-se numa pedra e danou a pensar nela, que nunca conseguiu naramorar janaina. mas mesmo assim cultivou a vontade estar com ela. sonhou seu corpo e seu beijo. desiste de ficar no transe da saudade, volta pra fora e ver que seu pai ainda nao pegou peixe e nao se cansou de esperar. "pai, quero embora" o palma da mão aberta, pede pra esperar e depois com o dedo na boca pede silencio. seus pés estão tao doídos, pensa que deveria ter vestido um alpercata, ganhou uma couro do vovo arlindo, feita em vitória, tentou até calçar, mas estava tão dura. queria uma dessas de verdade, feita de couro trabalhado e macio. queria fumar igual o pai. ser grande pra fazer o que quisesse. até ir ambora. mas deixaria o velho ali sozinho, sem peixe. pensou no almoço que já deveria estar pronto. carne-de-sol com feijão e pimenta. sua mãe fazia comida gostosa, adorava sentar a beira do fogão e sentir o cheiro de coentro e cebola, colhido na horta do quintal. lembrou de tudo enquanto seu pai nao se mexia. pai. vamos embora. recebeu um olhar de reclamação, assim os peixes se espantam. perguntou pra si mesmo que peixe? ha tempo ali, e nada, ali nao tem nada. mesmo assim ele espera, como a qualquer momento o peixe grande e suculento fosse pedir pra sair do rio. começa a odia o jeito preguiço do pai, que nem sequer tentou peixe em outro lugar. ficou ali no mesmo ponto durante toda a manha. nao conseugindo nada e so fazendo ele ficar chateado e sem paciencia. pensou nisso e veio outras ocasioes em que as pessoas nao faz outra coisa mesmo nada dando certo. sentiu muito inteligente em perceber isso. que muita gente nao está mudando nada em suas vidas. com janaina foi assim, nunca foi criativo, direrente e nunca disse de verdade pra ela, apenas ciscou do seu lado, nem tem certeza que se verdadeiramente ela percebeu seu interesse, apesar de tantas vezes terem conversando. teve odio de si mesmo, por te sido tao bobo, de nunca ter chegado mais perto, tocado sua mão, batido forte na porta de sua casa e quando seu pai abrisse, pedisse com jeito forte, a presença de janaina. mas nao nao mesmo. prefere deixar-se descoberto, prefere o acaso ou a boa vontade vir até perto. tem agora raiva do pai, de não sair do lugar, de nao levantar a cabeça, de ficar tanto tempo fitando a agua turva e o anzol vazio...

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 29/01/2012
Código do texto: T3468534