Vazão

Estou com trinta anos. Quero fazer algo, ir embora, sei lá. Não sei bem o quê. Minha familia está nessa cidade desde seu começo. Muitos dos meus amigos foram emboram e eu fui ficando. Não sei se é medo, ou se realmente quero me enterrar aqui. Não que a cidade seja ruim. O que falta aqui é dinheiro, ter grana mesmo como os grafinos que viajam sempre e tem seus carrões. Aqui como qualquer cidade, tem ricos, tem esnobes e tem aqueles que se juntam a todos sem se definir que merda que é. moro numa casa pequena na praça da feira. Tem uma área na frente onde passo a maior parte do tempo. Um tédio do caralho. Moro com minha mãe e uma irmã que vive também no mundo da lua. No verão passado traabalhei um tempo da empresa de estradas que esteve por aqui. Ganhei dinheiro, pensei em prosseguir junto, mas no ultimo momento dei pra trás. Conheci alguns camadas, que me mostrou algumas coisas que não conhecia, principalmente uns livros de estratégia militar, que já me enchi também, não vejo possibilidade de usar esse conhecimento. Minha casa é de uma pobreza miserável. A sala voltada pra rua mostra tudo que a gente tem, um rádio semp da decada de quarenta, uma sofá de madeira e couro e uma mesa com duas cadeiras. Aqui na varanda em um banco de ferro, grudado no chão, coisa antiga, bonita até. As paredes carrega sua pintura original, um amarelo feio e desbotado que descascado exibe tijolos vermelhos e esfarinhados. O quintal é pequeno e escondido, cimentado, triste como o resto da casa. Na parte de trás do banheiro, um tanque de lavar roupa, onde minha mãe passa a maior parte da vida. a maior parte de meus amigos foram embora, alguns deles deram certo, ganharam dinheiro e outros voltaram com cara de merda, e está trabalhando de balconista ou de vendedor na feira. Desanima saber que o mundo la fora não é tão acolhedor. Que vou embora é um fato, mas preciso de mais tempo, tenho ainda coisas aqui que preciso saber.

Tenho umas duas amigas que conversamos coisas sem sentidos. A noite quando estou aqui, embaixo da luz parda que vem da rua, uma dela costuma ficar um pouco aqui comigo. A que mais aparece é Jeruza, tão desencantada com a vida como eu. Senta do meu lado e me fala de seu pai, da sua mãe, da sua vontade sumir. Quando estamos cansado de conversar, tiro a blusa dela e mordo os bicos do peito, ou deito ela no chão e chupo sua boceta. Ela parece uma boneca de tão fria. Só toco ela porque é que tem depois que tudo se esgota. Nunca vi mulher tão fria e tão sem amor. Sua companhia é pra mim em certa medida também desagradável. Outra hora encontro com ela na rua. É como se não tivéssemos nenhuma intimidade, mal nos cumprimentamos.

Ouço suas queixas por caridade, ou em certa medida aprendo ouvindo seus traumas. Acho que devo em certa medida parecer com ela.

Um lugar que passo boa parte do meu tempo é na biblioteca municipal. Há um gramado e uma arvore, onde bancos e mesas foram colocadas. O ar de fazenda, me relaxa. Leio muita filosofia e geografia. Entre o um livro e outro, me perco nas fotos, me desloco pra certos lugares. Busco suas pessoas, as comidas, os bares, os assuntos que ele se interessam. Alem do mais tem a balconista que trabalha na cantina de lá. Uma moça de uns quinze anos, magra, de corpo colorido e elétrico. Com uma tristeza encorpada que me deixa bastante em casa conversando com ela. trocamos alguns olhares. Isso me agrada. Estou criando coragem pra chama-la pra sair, ir até a minha casa, ou passear na barragem. Isso tem alegrado um pouco minhas tarde. Outro dia fiquei sabendo um pouco dela. gosta de conversar.

Como pode ver, não me agrada ficar muito em casa. Procuro incessantemente um lugares pra passar o tempo. Não foi sempre assim. Não que fosse alegre, mas existia uma calma que pelo menos não me afastava de casa. As coisas ficaram feias quando meu irmão ficou doente e morreu de repente. Minha mãe não vive mais, meu pai foi embora por causa de sua tristez. Ficou esse amargo dentro de casa. Não era muito único com ele, mas era bom de conversar. Era um sujeito inteligente, dizia coisas interessantes que esses imbecis em sua maioria não conhece ainda. E era natural, coisa rara nesse monte de safado afetado. Odeio essa gente esnobe, que não se abre pra nada.

Ele era diferente do meu pai, que de verdade mesmo era um escroto. Um irresponsável, um babaca sem tamanho. Conversar com ele era impossível. Não enxergava um palmo alem do seu umbigo. Meu irmão tinha essa capacidade extremamente dificil de estar com outro, sem pertubar minha existência. Não sei sei tenho falta. Sinto um vazio infinito. Imagino que seja um estágio anterior á perda, um vazio oco sem som ou degrau.

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 02/02/2012
Reeditado em 02/02/2012
Código do texto: T3476730