No escuro, eu sonhava...

Capítulo 1:

Lugares observam muitas coisas

Minha família sempre foi tão feliz e tão diferente do que ela se tornou agora.

A fazenda era incrível, apesar de ser um tanto velha e afastada da cidade grande, sempre estranhei por qual motivo nos mudamos para este lugar, assim que eu nasci.

Quando era criança, eu, Rebeca, sempre indagava a minha mãe Ruth, porque nós morávamos tão afastados do resto do mundo, apesar de vivermos intensos e maravilhosos momentos juntos, minhas lembranças já estão se esvaindo, uma a uma, já faz tanto tempo que tudo isso aconteceu.

Eu passava horas e horas, brincando com algumas bonecas que eu tinha, perto da lagoa que existia na fazenda do meu pai. Bem, não posso dizer que era uma fazenda, daquelas grandes e ostensivas, como as que passam em filmes e novelas. Mas era acolhedora, e isso era o que importava realmente para nós, era confortável e tinha muita história escondida nela. Era misteriosa e depois de um tempo se tornou muito sombria para mim, tudo a minha volta me ameaçava.

A fazenda não era muito grande, era rodeada por árvores formando um círculo, no mínimo estranho, a terra era bem fofa, fértil e produtiva, minha mãe e eu sempre plantávamos alguma coisa juntas, nós nos amávamos muito, passávamos horas inteiras no jardim plantando flores, as margaridas eram as minhas preferidas, sempre tão lindas e radiantes. Um dia minha mãe me presenteou com um canteiro inteiro só para mim, disse que eu poderia plantar qualquer coisa, qualquer flor que eu gostasse. E como vocês devem estar imaginando, eu plantei margaridas em todo o meu novo canteiro, achei elas lindas, eu estava realmente muito feliz com o presente, muito emocionada com todo aquele gesto de carinho da parte de minha mãe.

Minha casa era bem humilde, afinal não éramos nem um pouco ricos, ás vezes meu tio, por parte de pai, vinha nos visitar, ele era bem sombrio, quase gélido, tinha um olhar penetrante e esmagador, quando passava por mim, me olhava de um jeito muito estranho, ás vezes eu tinha medo dele, outras vezes tinha apenas uma leve indiferença pela sua presença na minha casa. Ele ficava muito tempo trancado no escritório, junto com meu pai, sempre passava por perto da sala, onde os dois conversavam, mas minha mãe nunca deixava eu penetrar na sala, enquanto os dois estavam discutindo sobre assuntos que até hoje eu não sei.

Minha mãe aparentava ter muito medo e receio das visitas periódicas que meu tio fazia a meu pai, eu também, não gostava nem um pouco dele, ora, que tipo de tia, vinha na casa as sobrinha, sem trazer ao menos um presente, mas no fundo eu sabia, que ele não só, era mal educado, como também um sujeito muito ruim.

Fora isso, minha infância era muito boa, mesmo com alguns ataques de raiva que meu pai tinha com minha mãe, de vez em quando, eu nunca entendia o motivo das brigas dos dois.

Adorava o meu quarto, mesmo sendo bem humilde, ele era bem confortável e do jeitinho que eu queria,as paredes tinham papéis de parede coloridos, lembro que na época foi muito difícil para meu pai, poder compra-los à vista, tive que insistir por muito tempo, até levar algumas palmadas, que acredito que não merecia, afinal de contas, que criança nunca fez birra.

Minha cama tinha um colchão meio duro, mas minha mãe sempre me dizia que era melhor para a coluna. Minha janela ficava de frente para o poço, na parte de trás da casa, era um poço bem belho, feito de pedra, ainda existia água dentro dele, suja, mas existia.

Eu tinha muito medo daquele poço, sempre tive, era meio obscuro, deve ser porque ele teria uma grande importância no meu futuro.

Minha vida era simples, com algumas turbulências e alguns mistérios, mas era perfeita dentro do possível, pelo menos no meu ponto de vista, ou seja, no ponto de vista de uma criança. Ninguém poderia imaginar, que minha vida iria tomar o rumo que tomou, ninguém mesmo.

Adorava as vindas de Jorge na fazenda, ele era contratado do meu pai, para ajudar nos serviços da fazenda, como cuidar do rebanho de vacas que meu pai tinha, das galinhas, do leite, e de alguma plantações, juntamente com meu pai.

Ele era muito engraçado, muito mesmo, não sei por que, mas minha mãe sempre ficava radiante com suas visitas na casa, ela sempre se arrumava mais no dia em que ele vinha nos visitar, lavava o cabelo, secava com um negócio estranho que saia uma vento quente, que sempre queimava minha mão, quando eu me arriscava colocar perto minha mão, passava creme de maça nas pernas e nos braços, usava um pó no rosto que a deixava um tanto mais jovem, não que ela fosse velha, minha mãe sempre me dizia que aquilo ajudava a esconder as marcas de expressão, nunca entendi muito bem esse conceito, passava esmalte vermelho nas unhas dos pés e nas unhas das mãos, e banhava seu corpo com um perfume que eu achava insuportável, mas sempre falava que era muito gostoso, pois nunca gostei de magoar ninguém, muito menos minha mãe, que sempre foi tão boa para mim, não se dando por satisfeita, perfumando só o seu próprio corpo, ela enchia todas a casa com uma essência de lavanda, que era muito cheirosa, eu adorava quando ela fazia isso, nunca entendi bem o motivo de tanta pompa, mas hoje acredito que já tenha descoberto o motivo para tudo isso.

Meu pai nunca gostou de como minha mãe tratava o tal sujeito, tinha pensamentos estranhos a respeito dos dois, que eu mesma só fui entender alguns anos depois.

O grande estopim para a ira incontrolável do meu pai, foi esse acontecimento, essa estranha aproximação de minha mãe com Jorge, na época para mim, não dava a mínima importância para isso, mas depois de um tempo fui conseguindo juntar as peças do quebra cabeça muito bem.

Minha irmãzinha, era muito linda, tudo aconteceu quando ela era ainda muito pequenina, aposto que ela não deve entender nada do que aconteceu com nossa família até hoje, é muito inocente.

Eu adorava levá-la para fora, no jardim, para que ela pudesse apreciar, meu canteiro favorito, o mesmo que Ruth tinha me dado de presente quando mais nova, ela também o adorava, assim como eu, ela mantinha uma intensa paixão para com as flores, gostava de todos os tipos, rosas, margaridas, orquídeas, crisântemos, lírios, petúnias e outras.

Mas as suas preferidas eram as margaridas, acredito que foi de tanto eu falar com ela sobre as margaridas, para mim as margaridas tinham uma luz especial dentro delas, elas brilhavam, eram lindas, intensamente belas.

Penélope se apaixonou por elas, assim com eu, éramos muito unidas, como todas as irmãs devem ser, amigas.

Penélope, infelizmente tinha um grande defeito, era extremamente desligada, vivia no mundo da lua, não prestava atenção em nada de importante que estava acontecendo com nossa família, o mundo em que nós vivíamos estava desabando em nossa cabeça e ela só pensava em suas bonecas e em mais nada, era muito avoada.

Meu pai estava ficando cada vez mais constrangido com sua esposa, sua raiva começava a ganhar mais intensidade, eu via a hora em que ele acabaria com minha mãe, só com o olhar, ele era realmente muito nervoso, não gostava nem um pouco de ser contrariado, ainda mais se fosse por uma mulher.

Meus pais brigavam constantemente, nossa vida se tornou um verdadeiro inferno com o passar do tempo.

Nesse mesmo momento, eu estou trancada no porão de minha casa, no escuro, com fome e com muito medo, meus olhos ardem toda vez que ele abre a porta, para enviar uma comida nojenta, não suporto mais o fedor deste lugar, é insuportável, não consigo mais viver assim, é muito difícil continuar desse jeito, sonhando com tempos melhores, mantendo a fagulha da esperança acesa dentro da minha alma, preciso vencer, preciso continuar acordada, não posso me despedir do mundo assim, eu ainda não vivi nada, minha infância foi roubada, minha vida foi roubada pelo meu próprio pai, e eu nem sei o motivo desse gigantesco ódio que ele insiste em manter por minha causa, não o reconheço mais, ele não pode ter se transformado nesse monstro, não é possível, é tudo tão irreal, não sei mais o que fazer, ás vezes penso em desistir de tudo isso, será que existe um lugar melhor, com certeza, qualquer coisa é menos insuportável do que ficar acorrentada aqui, nesse chão frio e úmido, cheio de urina, com apenas a companhia de um rato nojento, sou apenas uma jovem, uma criança de 17 anos em busca de vida, eu tenho sede de viver, mas a única coisa que eu faço é sonhar, sonhar no escuro, por dias melhores.

Obs.: não se preocupem com os erros ortográficos, é só um rascunho!!!

Se possível, deixem comentários!!!!

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 11/02/2012
Código do texto: T3493695
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