Traços de Loucura/ No Escuro, eu sonhava.../cap.3/part.2

Os dias foram se passando e a vida do casal foi se normalizando pouco a pouco, Rebeca já não mantinha o mesmo medo pelo seu pai, embora ainda se sentisse meio rejeitada por ele.

As cicatrizes no rosto de Ruth já começavam a desaparecer, ela já conseguia andar sem a ajuda de apoio, os hematomas no pescoço e nas pernas já haviam sumido, tudo já estava voltando ao normal, a não ser por pequeno detalhe, Ruth estava passando mal constantemente e começara a ganhar alguns quilos.

Estava grávida, era Penélope que estava chegando na fazenda, uma nova criança poderia reacender a chama do casal, poderia fazer com que a alegria reinasse novamente na casa da família de Rebeca.

Rebeca estava ansiosa para a chegada de sua irmãzinha, já estava para completar dez anos quando ela nasceu. Rebeca já não via mais a mesma graça de ficar brincando horas na frente da lagoa com suas bonecas de pano, se sentia muito sozinha, não ia mais na escolinha que estudava quando morava na cidade, pois seu pai fazia questão de que ela terminasse seus estudos em casa, já não gostava mais de correr em volta das árvores como antigamente, em menos de dois anos, parecia que já tinha envelhecido uns dez.

A responsabilidade sobre as costas de Rebeca era muito grande, pois não recebia carinho de seu pai, não convivia com a sociedade, não mantinha contato com outras crianças e sua mãe dependia mais dela do que ela de Ruth, ultimamente, a mãe de Rebeca ficava chorando pelos cantos, sempre que tinha tempo, no resto do dia fazia seus serviços domésticos, por medo de apanhar como da outra vez, em que seu marido voltou para casa depois de uma longa caçada com seu irmão. Ela não queria que sua filha ficasse traumatizada por conta desses episódios sinistros, que ela sempre protagonizava, tinha medo de ela se assustar, de se fechar para o mundo, tinha medo da depressão.

Penélope foi como um raio de Sol que surgiu do horizonte em direção a vida de Rebeca, ela era linda, sua irmãzinha era muito bonita e muito esperta, mas infelizmente muito diferente de Rebeca, que achou muito estranho.

Penélope tinha os olhos castanhos escuros e o cabelo preto e encaracolado, muito diferente da aparência de Rebeca, porém ela era a cara de seu pai, Horácio.

Com o passar do tempo Horácio foi mimando muito sua filha menor, deixando Rebeca totalmente de lado, cabia agora só a Ruth cuidar e olhar Rebeca, seu desenvolvimento nos estudos, suas atividades, seu crescimento e amadurecimento.

Penélope estava cada vez mais ligada ao pai, sentimentalmente. Horácio brincava muito com ela, quase todos os dias, durante o almoço a menina só sentava no colo dele, Horácio era um pai perfeito para ela, mas infelizmente não era nem sequer um pai para a outra filha, isso deixava Ruth cada vez mais deprimida e angustiada.

As surras e ameaças eram constantes, ainda mais depois da gravidez de Ruth, qualquer coisa servia de desculpa para que Horácio se enfurecesse com ela, com isso Rebeca se afastava cada vez mais do pai e entristecia pela vida que sua mãe estava levando, ela não entendia porque seu pai ficou tão agressivo com o passar dos anos, isso não era normal, será de seu pai era louco, pensava Rebeca.

O pasto começara a ficar maior e as plantações começavam a se expandir, o trabalho já estava duro demais só para o casal e Rebeca era muito frágil, não conseguia nem arrastar um carrinho com terra.

Horácio cansado das murmurações de sua mulher, resolveu contratar um pião para ajudar com o gado e as terras.

O seu nome era Jorge.

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 15/02/2012
Código do texto: T3500450
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