Desconfiança serve de alimento para os insanos. / NEES cap. 4

Capítulo 4:

Desconfiança serve de alimento para os insanos.

Jorge era um homem um tanto mais jovem que Horácio, moreno de olhos escuros como jabuticabas, corpulento, porém baixo, os cabelos eram crespos, Jorge era de origem muito humilde, foi despedido da outra fazenda que trabalhava, porque não soube domar um dos cavalos corretamente, causando a morte de um dos filhos de seu patrão, por isso se tornou um homem muito amargurado, não foi preso, nem julgado, mas se sentia o responsável pela morte de um inocente como aquele.

Jorge já estava familiarizado com as plantações e com o gado, embora tenha ocorrido aquele incidente, ele era um dos melhores piões da região.

Horácio havia arrumado um pequeno quarto dos fundos para ele repousar, depois que tivesse realizado todos os serviços do dia.

Rebeca tinha adorado a nova companhia, ela gostou muito de Jorge, apesar do seu jeitão meio casca grossa, ele era muito agradável com a pequena Rebeca que tinha acabado de completar doze anos de idade, Penélope também tinha gostado dele, mas não como sua irmã, pois para ela, Jorge não era um empregado de seu pai, e sim, uma nova pessoas com quem poderia dividir suas frustrações e seus sonhos de uma vida melhor, Jorge entendia muito bem o que era isso.

O almoço era sempre com Jorge na outra cabeceira da mesa contando piadas para a alegria das meninas, Ruth estava muito encantada com a nova presença na casa, até que enfim, surgiu alguém para trazer alegria para casa, leveza e harmonia, isso era fundamental para ela.

O olhos de Ruth brilhavam toda vez que Jorge entregava o prato para ela lavar deixando encostar a palma de sua mão nas costas da mão dela.

Pode parecer bobeira, mas Ruth achou que isso era um gesto de amor, amor proibido para ela.

Mas quem sabe ela não poderia viver esse amor com ele, fugir quem sabe, para outro lugar, um lugar em que ela não sofresse tanto, levaria suas ilhas consigo, tudo ficaria bem melhor, longe de Horácio, Rebeca com certeza iria adorar a idéia de uma vida melhor, uma vida com carinho e com liberdade para que pudesse sonhar a vontade. Sem ter que se preocupar com as horas sofridas vividas com Horácio. Ela finalmente poderia se livrar daquele inferno de vida.

Certa tarde, quando o Sol estava muito quente, Ruth resolveu levar um copo de limonada para Jorge, que estava quase derretendo de tanto calor trabalhando na lavoura de seu marido.

- Muito obrigado, Dona Ruth!!! – agradeceu o pião meio sem jeito.

- Só pensei que você estivesse com sede, depois de tanto trabalho pesado da fazenda... – respondeu fazendo mesuras, Ruth.

- E estou mesmo, com muita sede, obrigado pela gentileza... – disse apertando a mão de Ruth com suavidade por agradecimento.

Ruth ficou toda vermelha com o gesto de Jorge, será que ele estava realmente gostando dela, mesmo sendo alguns anos mais moço. Ruth não sabia se deveria ou não investir nele.

- Onde está sua mãe? – indagou Horácio a Penélope que estava chegando no pasto trazendo consigo um copo de limonada.

- Foi entregar limonada para o tio Jorge, ela estava muito animada!!! – respondeu inocentemente Penélope.

- Você tem certeza disso, minha querida?

- Sim papai... Acabei de ver ela saindo com um copo na mão...

- Hummm... Não estou gostando nada disso, muito estranho...

- O que é estranho papai?

- Nada... Esquece... – disse Horácio, muito pensativo.

- Muito obrigado pela gentiliza e pela hospitalidade, Dona Ruth, eu estava precisando muito desse emprego, na outra casa que trabalhava a comida não era tão boa e tão farta com essa aqui, nem a senhora tão aplicada nos trabalhos domésticos, obrigado por tudo mesmo... – falou Jorge para Ruth, que estava apoiada na parede.

- Ahh, que isso, não... Há de quê... – respondeu Ruth.

- A senhora é realmente muito gentil e também muito bonita e prendada, como as moças de minha terra...

- Ohh, que isso Jorge, assim você me deixa acanhada... – corou-se Ruth com todos os elogios que Jorge disse.

- Desculpe!

- Deixe para lá e pode parar de me chamar de senhora ou de dona, odeio essas formalidades, elas não servem para nada...

- Está combinado.

- Só não diga isso para meu marido, ele é muito ciumento...

- O quê ele não pode me dizer, Ruth...? – vociferou Horácio, chegando juntamente com sua filha Penélope.

- Nada querido... Eu só estava fazendo um comentári...o sobre... sobre... a vaca... Mimosa... ela está muito... magrinha... só...isso... e como você gosta muito dela... disse para o Jorge não comentar nada com você... pois tenho certeza que você não gostaria.

- Sei, sei... bem... – disse muito desconfiado, Horácio.

Jorge já tinha terminado de fazer o seu serviço do dia, quando Rebeca pediu para que ele ouvisse uma história que ela iria contar de um de seus livros preferidos.

Com o pouco tempo que Jorge estava trabalhando ali na fazenda, os dois já conseguiram iniciar uma intensa e carinhosa amizade. Jorge, durante muitas vezes tomava conta de Rebeca, como seu fosse um pai para ela, ele durante seis meses e meio foi um pai que ela nunca teve e que nunca mais iria sonhar em ter na sua vida.

Rebeca e Jorge resolveram subir para poderem jantarem, pois estavam mortos de tanta fome, mas o que eles não esperavam iria acontecer. Uma terrível briga tinha começado entre Ruth e Horácio, sendo o próprio Jorge o culpado de tudo.

- Me responda...ande...fale a verdade...sua vadi...a..você está tendo um caso com esse rapaz...fale...meretriz!!! – esbravejou Horácio apontando o dedo no rosto de sua mulher.

- Não! Mas é claro que não! Você está louco, eu não estou tendo nada com o Jorge, somos apenas amigos, você sabe muito bem disso... – disse Ruth, apavorada.

- Não é verdade! Penélope disse que você estava toda alegre quando foi levar limonada para o seu amante... eu te odeio...

- Penélope é apenas uma criança Horácio, ela não fala as coisas da maneira correta, nem sabe a hora que está com fome...

- Não tente inventar desculpas, eu sei que minha filha nunca mente para mim... sua cadela interesseira e falsa!!!

- Eu já disse que não estou mentindo, Penélope, Penélope, você sempre batendo nessa tecla, ela é só uma criança, fala as coisas sem pensar, como você é idiota em levar tudo o que uma criança diz ao pé da letra.

- Idiota? Você está me chamando de idiota? Você e sua filha, a Rebeca, aquela bastarda, é que são idiotas, você acha realmente que engana com essa cara de santa, eu sei muito bem que Rebeca não é minha filha legítima, ela não se parece com nenhum de nós dois, você acha o quê? Que me enganou esse tempo todo, sua mentirosa, golpista... – vociferou Horácio desferindo um soco no lado esquerdo do rosto de sua esposa que caiu em cima da cama com o impulso.

- É melhor, nós dois sairmos daqui... – disse quase sem fôlego Jorge para Rebeca que estava com lágrimas nos olhos, após ter ouvido o barulho da mão de seu pai dando de encontro com o rosto de sua mãe que não merecia tamanha desconfiança e tamanha brutalidade dele.

- Sim... – disse Rebeca assentindo com a cabeça para Jorge.

Chegando na porta do seu quarto Rebeca ouve mais sons de tapas e socos vindos do quarto de seus pais que ficava do lado do seu quarto.

Com um ímpeto de bravura Rebeca voltou correndo até o corredor foi direto até a cozinha pegou uma caçarola rapidamente e foi correndo novamente em direção ao quarto de seus pais, local onde estava ocorrendo a surra.

O pião ficou aturdido com a cena de coragem que Rebeca, sua mais nova amiguinha havia feito.

Foi realmente lindo, Rebeca era muito amorosa com sua mãe, sempre a defendia nesses momentos de ira do seu pai.

Mas Jorge ficou ainda mais absorto quando viu a pequena Penélope correndo em direção a Rebeca, pensando certamente que tudo não se tratava de uma brincadeira de criança, como pique-pega ou esconde-esconde.

Obs.: é somente um rascunho, não reparem nos erros, pois ainda não revisei, se possível deixem comentários...

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 16/02/2012
Código do texto: T3502625
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