Desconfiança serve de alimento para os insanos. / 4p2

Mal sabia ela, que iria presenciar uma das mais terríveis e mais chocantes cenas de sua pequena vidinha de criança.

Jorge também saiu correndo em direção ao corredor em que Rebeca saiu correndo com uma imensa panela na mão seguida por sua irmãzinha, que ia saltitando pelo caminho.

Enquanto Rebeca corria pelo corredor um turbilhão de pensamentos passava por sua mente, todas as cenas estavam sendo rodadas em seu cérebro como num filme de cinema, as terríveis cenas protagonizadas por seus pais, sempre sua mãe levando a pior, sendo humilhada, espancada, ultrajada, maltratada, há muito tempo essas cenas estavam ocorrendo na vida de Rebeca, ela nunca desistiu de sonhar que um dia, ela iria viver em paz, seu pai não espancaria mais a sua mãe, os dois viveriam com muito amor, sonhava com a redenção de seu pai, mas infelizmente ela sonhava no escuro, porque isso nunca iria acontecer realmente.

Enquanto Rebeca corria, podia ouvir perfeitamente os sons provocados pelos socos e murros despontados no corpo de sua mãe. Tudo era tão triste, tão humilhante. Ela não sabia ao certo o que faria com a panela, mas de uma coisa ela tinha certeza, faria de tudo para que este tormento acabasse.

Faria o que tivesse que ser feito.

Quando abriu a porta Rebeca deu de cara, com a cena mais horripilante de sua vida, seu pai tentava de toda maneira possível enforcar sua mãe, que chegava a gemer de tanta dor, seu rosto já estava começando a ficar com um coloração meio roxa, os seus olhos estavam quase saltando das próprias órbitas, seus lábio que estavam em carne viva, não paravam de sangrar nem um minuto sequer, suas pernas já estavam tão falhas que a qualquer momento pareciam que desabariam no chão, suas mãos estavam muito trêmulas, seu rosto todo amassado de tanta pancada, sua roupa rasgada e amarrotada, enquanto nas mãos de Horácio havia cabelos de sua mulher, tamanha a força exercida na hora de espancá-la.

Numa última tentativa de se salvar, Ruth cravou suas unhas com a última fagulha de força que ainda habitava sem seu ser, fazendo Horácio estremecer de dor, enquanto seu braço sangrava, ele soltou ela por alguns instantes. Momentos estes, que foram mais do que suficientes para que Rebeca com toda a força desse com a panela na cabeça de seu pai.

Mas infelizmente isto não foi o suficiente para acalmá-lo.

Horácio parecia estar possuído, pois a raiva que sentiu de sua filha, Rebeca, foi tamanha, que da sua boca jorrava espuma, parecia que ele tinha contraído raiva, seus olhos estavam queimando de ódio, embora meio tonto ele ainda foi capaz de cometer um último ato execrável, pois no meio de toda aquela confusão, ele liberou um soco no rosto de sua filha menor, Penélope, que vinha correndo em sua direção para abraçá-lo, pois estava muito assustada com toda aquela cena pitoresca que acabara de ver.

A pequena Penélope caiu inconsciente no chão do quarto do casal, mesmo Ruth com todos aqueles ferimentos foi em direção a sua filha tentando ajudá-la a se recompor, Jorge que tinha acabado de chegar, ainda muito chocado com toda a cena, também tentou ajudar Penélope, que estava caída no chão com a boca sangrando.

O silêncio pairou no quarto, o cheiro de sangue havia ficado forte e insuportável, todos estavam estatizados olhando a figura pálida da pequena garota que foi agredida sem querer por seu próprio pai. Horácio estava indignado, antes estava soltando fogo pelas ventas, mas agora, agora era diferente, agora era sua filha, a sua pequena Penélope, ele não podia ter feito isso, não com ela, a sua preferida, a sua princesinha.

Por um breve momento todos pensaram que ela estivesse morta.

- Seu crápula!!! Você não podia ter feito isso com a minha filha, seu nojento!!! Ordinário, se acontecer alguma coisa com ela, eu nunca vou te perdoar, você merece a morte... a morte... – esbravejou Ruth, com um ódio profundo de seu marido.

- Mass...ss não foi.... minha inten...ção... machucá-la... eu a amo... ela é minha filha... não pode ter morrido... ela não pode... – delirou Horácio.

- Chame o médico mamãe!!! – gritava esbaforida Rebeca, ainda com a panela na mão.

- Oh!!! Meu Deus do Céu!!! Eu vou chamar o médico agora... - disse Jorge tristemente.

- Não faça isso! – ordenou Horácio.

- Mas por quê? É muita crueldade deixá-la morrer assim... – disse quase sem voz o pião.

- Horácio, por favor, eu te clamo, deixe-me salvar minha filha, só isso que eu lhe peço, mais nada, ela é o meu bem mais precioso na vida, juntamente com Rebeca, não deixe ela morrer assim... – disse com lágrimas nos olhos a mãe da menina.

- Minha sentença já foi dada, você sabe que a minha palavra não se volta atrás.

-Masss...

Nesse momento a linda e brincalhona Penélope acorda, com uma tremenda inchação no lado esquerdo do rosto, acordou com as duas mãos segurando o ferimento da boca e o hematoma do rosto, provavelmente estava sentindo uma dor insuportável, não estava entendendo absolutamente nada do que estava acontecendo e muito menos por que seu pai havia lhe dado um soco.

Estava tudo muito confuso na mente de Penélope...

- Ela está voltando a si. – todos falaram em uníssono.

Naquela noite todos ficaram muito baqueados pelo choque, Horácio tinha demonstrado mais uma vez sua frieza perante os seus familiares, Rebeca tinha demonstrado uma bravura e uma coragem que nem ela mesma sabia que existia dentro dela, Ruth tinha caído a ficha, não podia mais viver desse jeito, ela tinha que fugir para bem longe dali, antes que algo pior viesse a acontecer com suas filhas e Jorge ficou pasmo com a cena, nunca na sua mente poderia ter passado a vaga ideia de que Horácio fosse capaz de fazer tamanha atrocidade com sua própria família, ela tinha que ajudar de algum modo, de alguma forma, não só porque ele estava sentindo pena de Ruth e das crianças, mas porque no seu coração, bem lá no fundo, ele estava começando a nutrir um amor pela mulher do seu patrão, que provou ser o cão em pessoa.

Gabriel de Paiva Fonseca
Enviado por Gabriel de Paiva Fonseca em 17/02/2012
Código do texto: T3504378
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