vergonhas amostras

Silêncio dentro de casa. Não pode falar. cala boca, menino. minha vo nao deixava

a ninguem abrir a boca na semana santa. "hoje devemos guardar Deus na solidão".

E a gente louco pra brincar emandar tudo pra puta que pariu.

Meu meu pai nao estava nem pra Deus. Logo de manha, foi pro bar seu Pires

e encheu o cu de cachaça. veio um homem menos bebado que ele trazer.

"seu pai bebeu um pouco". deixa ele ai que ja pego. Você são todos vagabundos.

Minha mãe nao tinha papas na lingua. só veio com balde de agua fria e jogou na cara dele.

molhando toda calçada. um homem quase morto abriu os olhos incrédulos

"fica, menina, é pecado viu. deus vê tudo". Vê porra nenhuma, respondeu minha mãe cheia de odio.

Juda aqui troço. eu num braço e mamae no outro. meu pai arrastando o resto do corpo não, gastando o joelho no cimento. sentamos ele na mesa da cozinha. Abaixou a cabeça. e olhava a parede com uma fungueira que dava nojo. bebe logo esse café. È pai, bebe. Para de paparicar. ele precisa é de porrada. minha mãe humilhava adorava humilhar o coitado. eu não sabia como tratar. nao sabia se fazia igual minha mãe ou se tratava igual gente.

mas minha vontade era de xingar també, destratar, porque nao aguentava mais ver daquele jeito. Sem respeito nenhum. igual a vagabundo sem esperança. so fazia a gente sofrer.

no quarto, na mesinha da penteadeira, minha vó com uma vela acessa. um terço e os labios tremendo, rezando baixinho. essa semana santa que não acaba. eu pensava. Não muda nada. mas todo mundo fingindo que tem fé. Ou que está tudo bem, quando so vejo merda espalhada por toda casa.

depois do café, levou ele até o banheiro. me ajuda aqui a tirar a roupa dele. sentamos numa cadeira e tirei a roupa de meu pai. fiquei impressionado com o tamanho da pica dele, mesmo mole. o que você está olhando. nada, mãe. nao serve pra nada, se não é um homem de carrega. entendi. enquanto esfregava a bucha nas costas dele. vi minha mãe dando uma risadinha. o ambiente ficou um pouco leve. esfregava a cabeça dele com raiva no começo. aos pouco foi fazendo com carinho. lagrimas desciam de seu rosto. Pega a tolha lá. tá. enrolamos ele e levamos até o quarto. dormiria a tarde toda do lado de nossa senhora aparecida que via tudo aquilo sem picar o olho.

Dia santo e casa desse jeito. Perdoe essa família senhor. Vó, o que é um dia Santo? um dia de Deus so isso. os outros não são?

vai logo comer. fritei batata. ela nunca respondia bem as coisas. eu já nao me importava tanto. sabia que a tarde meu pai acordaria e ninguem tinha coragem de falar nada pra ele quando estivesse são e minha mae ficaria entrufada o resto da semana pela vergonha que passou com os vizinhos.

a vela estava acabando. ja tinha queimando quase um pacote, a casa parecia um enterro. um fedor de parafina deixava nossa vida com gosto de velorio.

um dia ainda vou me embora. minha mãe lavando roupa. eu juro que vou. vai nada, eu retrucava so pra mim. no fundo parecia gostar dessa

merda toda, porque bastava meu pai ficar machao de novo que ela se derretia e esquecia a face de fracassado que mostrava

quandos ia pro bar. mae, porque meu pai bebe tanto? porque você nao pergunta pra ele? minha cara de tacho. deixava ele esfregando as nodoas de vinho barato que estragava a camisa branca que ganhou no aniversario...

um cheiro de peixe azedava meu estomago. gosto de carne. é pecado. jesus comia muito peixe. e daí, vó. come e cala a cala a boca

ta cheio de espinho. daqui a pouco leva uma chinelada. nao mexe no do prato. é do infeliz do seu pai. daqui a pouco ele acorda dando uma de machão. vó, jesus gostava de ovo. nao sei, nunca soube. eu quero um frito. nem liganca ela deu. comi o peixe mesmo. ruim e salgado, gosto de

lavagem. duvido que jesus comeria essa merda. assim que acabei fui cagar e vomitei tudo no vaso. o cheiro de pinga ainda ardia no banheiro, o que só aumentava minha ansia. deu vontade de crescer e ir embora pela primeira vez, e engolir só as coisas que gosto.

Não sai, assim que seu pai acordar, todo mundo vai fazer a oração. sua tia arminda vem. credo! cruz credo. devo vomitar de novo mais tarde. não aguento tanta fé dessa gente. so merda, mas nao esquece jesus. se ele morasse aqui em casa, colocaria na bunda de todo mundo. só pra aprender. Não acredito que ele iria suportar isso. com certeza juntaria todas as suas roupas e voltaria pra casa. se eu fosse jesus nao salvaria ninguem. acho ele meio bobo, morrer por uns trastes desses, fingidos e mentirosos. fico pensando se jesus é inteligente como falam.

mesmo assim vou rezar, porque a pacaca pode sobrar pra mim se nao ajoelhar e agradecer a deus pela familia e pelo peixe aguado que a gente comeu. agradecer também por tia arminda que vai deixar nossa casa bem mais barulhenta e oca logo mais tarde.

uma tosse cheia forte e logo uma catarrada veio de lá do quarto. vai la vem se o trem ta morrendo. no quarto meu pai ainda estava vivo, so um fio

amarelo de catarro saindo melecando seus barba, que já estava ficando velha de branco e cinza. o picão estava de fora. molana e caida por cima da coxa. fiquei olhando e orgulho do meu pai ter um picão daquele. olhei o meu por baixo do chorte fiquei um pouco sem graça. e tive orgulho também da minha minha mãe. entendia mais um pouco do amor que ela trazia dentro dela.

No final da tarde. serviu o café na mesa. era raro so em epocas especiais. minha mae reservou o lugar na cabeceira. entrou no quarto e demorou bem uma meia hora pra sair. Saiu de mãos dadas como se nada tivesse acontecido. vestido de camisa bem passada, meu pai sorria, e minha dava cheiro em seu cangote. minha vó fazia gesto negativo com a cabeça como se o mundo não tivesse jeito e tia Arminda na parava de falar. que raiva. vamos gente, vamos logo orar ao senhor. ao redor da mesa todos de olhos fechados. como fiquei a aberto vi a mandioca cozida. lembrava o picão o picão de meu pai,

Ariano Monteiro
Enviado por Ariano Monteiro em 29/02/2012
Código do texto: T3526387