QUANDO A DROGA SE COLOCOU ENTRE NÓS

Eu o conhecera no carnaval de 1987 talvez

Lembro-me que foi o ultimo ano que brinquei,deveria estar com uns dezessete anos, a alegria era contagiante, com compromisso apenas de me divertir.

No decorrer da noite percebi um rapaz a me olhar, ele não era o tipo de homem lindo, mas havia algo em si que me despertou.

Seus cabelos eram encaracolados, ao sorrir fazia duas covas no rosto,um peitoral largo e um olhar sedutor que chamou atenção.

Como quem nada queria, foi se aproximando,apresentou-se e perguntou se poderia juntar-se a turma em que estava, um tanto que sem graça respondi que sim.

Ficarmos juntos aquela primeira noite...e as outras também,findando o carnaval pediu-me em namoro.

Tinha fala mansa, era delicado, romântico.

Tratava-me feito princesa e por mais zangada que estivesse e desejasse brigar não conseguia, tinha sempre um jeito especial de contornar a situação.

Ele havia saído do quartel e tão logo começou a trabalhar em um banco, tudo parecia bem, sonhávamos alto, tinha planos, eu já estava com dezoito anos e também trabalhava em um consultório.

Depois de dois anos resolvemos ficar noivos, aprovado pela a família

Que no qual ele era bem aceito .

Eu o amava de mais e não cabia em mim de felicidade, sua família por vez também me aceitara, tudo perfeito.

Meus pais haviam se separado eu precisava ajudar financeiramente a minha mãe desta forma que me sobrava era pouco, mas com toda dificuldade fui fazendo meu enxoval e sonhando com o dia em que ficaríamos juntos para sempre.

Sentia-me nas nuvens, a mulher mais feliz.

Caminhando, as vezes olhava para o céu e dizia:

Estar vendo aquela estrela triste?

Balançava a cabeça afirmativamente

Ele continuava:

Ela estar triste com inveja de sua beleza e pelo o amor que sinto por ti.

E por mais que isto soe falso e hipócrita mente, o seu amor, o seu romantismo era verdadeiro, sincero realmente, ele chegava a sonhar adiante comigo grávida.

Havia dias em que eu ficava sem dinheiro para trabalhar no dia seguinte e ele olhava no bolso pegava tudo o que tinha dava-me indo embora a pé numa distancia considerável, precisava de muito até chegar em casa.

Tinha o maior zelo para com minha avó doente e por muito a carregou no colo.

Era respeitado pelo o meu tio considerado o ser mais difícil e antipático, os dois conversavam, bebia junto, bem chegado.

O homem que pedi a Deus, o príncipe encantado, pensava quanta sorte tive em pleno carnaval.

Mas por vezes falava algo sem nexo , meio que entre linhas que eu não entendia e logo fugia não explicando claramente,como:

“Meu maior sonho é de casar-me com você, mas tenho medo de não fazê-la feliz existe um problema que não posso falar agora, mas irá saber quando for a hora e temo que venha me deixar”

Pensava:

O que poderia haver de tão grave que eu não poderia aceitar, afinal para eu ele era o homem perfeito.

Convivi com esse enigma, essa dúvida por três anos, então certa vez minha comadre fez o convite para ir com ela a um centro espírita,nunca gostei disso, mas a duvida era cruel,consumia-me e na insistência acabei por aceitar, chegando lá uma entidade virou para eu e disse:

Esse rapaz ama por demais você, mas existe com ele um segredo que teme revelar“Se vocês vierem a se casar” serão muito felizes

Esse “Se” deixou-me mais preocupada, comecei a questionar o que ele teria para Contar-me.

A essa altura nosso relacionamento apesar de intimo não havíamos mantido diretamente relações sexuais.

Eu perdera a virgindade com ele sem que tenha consumado totalmente a penetração, acreditem.

Conversamos muito sobre o assunto e meio a conversa revelou que não

Conseguia levar até o final o ato, por problema de ereção, custei a crer, achei ser desculpas, ou coisa parecida, como poderia um jovem saudável com seus vinte e um ano de certa forma impotente, só se fosse alguma doença.O que mais tarde vir a entender porque.

Ele sabia o real motivo, o que faltava era eu saber, foi dito apenas meia verdade, mas contudo o amava , não sei se sabia ter algo de errado e fingia não ver ou se cega de amor não enxergava mesmo, talvez até por falta de experiência.

Nessa época tanto eu como ele fumava cigarro e ele tinha o habito de guardar sua carteira em minha bolsa toda vez que saiamos.

E neste tempo eu também trabalhava em um consultório dentário como assistente e atendente,ele por sua vez resolveu fazer tratamento com o meu patrão.

Um dia fui chamada pelo o mesmo a uma conversa e levantou a hipótese de que meu noivo era viciado em drogas, perguntei baseado em que havia dito aquilo, explicou cientificamente o que não me convenceu. Até porque embora tivesse quase setenta anos meu patrão gostava de garotinha e vivia me assediando e sua implicância com meu noivo eram constantes,acabamos por brigar seriamente recusei-me acreditar, pedi demissão e terminamos na justiça trabalhista, não comentei com o meu noivo o real motivo de minha saída.

Logo a seguir consegui outro emprego dentro da mesma função em outro consultório, então ele (meu noivo) com o tempo resolveu retomar o tratamento dentário e mais uma vez tal qual foi minha surpresa meu patrão fizera a mesma revelação ou desconfiança do outro.

E eu não tinha porque duvidar de seu profissionalismo e seriedade fiquei sem chão, mas preferir omitir o fato, talvez não quisesse crer, dizem que o pior cego é aquele que não quer ver.

Comecei a puxar por minha memória tentando lembrar-se de algum sinal

Que ele tenha dado e que passei por despercebido, alguma coisa.

Nunca sentira nada em sua boca, foi então... que lembrei de alguns episódios tipo:

Às vezes chegava com os olhos vermelhos e quando perguntava dizia que era cansaço ou que havia tomado uma cerveja, nunca duvidava.

Sentira cheiro de maconha no quintal de minha casa, mas sempre achava que vinha de um terreno baldio ao lado.

Certa vez em sua casa ele foi tomar banho e demorou mais que necessário e sua mãe foi ríspida exigindo que saísse logo do banheiro, percebi que falava não pelo o banho demorado, mas por algo mais que não sabia o que.

Com tudo sofri sozinha sem nada dizer, precisava mais que suspeita,talvez fosse ver para crer.

Adiante veio o aniversario de um ano do meu afilhado, minha presença na condição de madrinha era indispensável, conversei com ele a respeito de me acompanhar,concordou prontamente, mas fez um pedido, se poderia levar um amigo.

Não entendi muito, primeiro porque nunca fomos de andar acompanhado, nem se quer conhecia seus amigos, depois por qual motivo um cara sozinho, sem filho, não era intimo, faria num aniversario de criança.

Tentei argumentar sutilmente, mas ele usou como justificativa que seria uma boa, pois poderia conhecer a minha comadre que era mãe solteira, estava sozinha, que o cara era parceiro, etc. Acabei por concordar

Fomos os três para o aniversario, observei que no decorrer da festa os dois saiam vez ou outra a francesa e depois retornavam, pedi explicação e disse que o amigo estava um pouco deslocado, festa de criança, blá, blá,blá.

Preferi não questionar, deixei passar, afinal essa postura por ele adotada não era de hábito.

Em certo momento o dito sumira, perguntei ao meu noivo onde ele se encontrava e comunicou de que o mesmo havia ido embora.

Questionei: Mas sem se despedir?

Disse apenas que não quis atrapalhar.

Pensei: Atrapalhar o que?

Já havia atrapalhado quando auto se convidou para ir, mas tudo bem.

De certa forma aliviada por seu amigo ter ido embora, não tinha nada haver sua presença até porque era uma festa familiar

O meu noivo nessa época fumava e eu também, mas não gostávamos da mesma marca, ele tinha preferência pelo o mais forte tipo ministre e eu os mais fracos, toda vez que saiamos guardava a sua carteira em minha bolsa, normal.

Quando retornamos da festa já era um pouco tarde então minha mãe ficou preocupada em deixá-lo ir embora àquela hora, por certo não encontraria mais ônibus e teria que seguir a pé, então o convidou a ficar.

Eu morava em uma casa de dois andares e quando era o caso minha mãe o colocava para dormir na sala que ficava no primeiro andar. Ele aceitou ficar, disse que estava cansado. Fomos dormir, mas ele avisara que haveria de sair cedo.

Pela manhã acordei com ele chamando pedindo que pegasse sua carteira de cigarro, ao pegá-la certifiquei de que havia pouco e o meu terminara, então pedi que deixasse a sua já que estaria na rua e tão logo compraria outra.

Ele me pedira para ver quantos tinha, lembro que rasguei a parte superior para ter melhor visão, conclui que havia apenas três cigarros, mas que no fundo havia uma binga, tipo quem fumou pela metade e apagou,resolvi tirar e fui surpreendida com um cigarro de maconha.

Gelei, fiquei estática custava-me crê no que via, não podia ser verdade, fiquei sem reação a frente do que via, sem saber o que fazer, parecia um pesadelo que no qual despertei com uma voz

chamando-me... era ele.

Desci a escada meio atônita, parei a sua frente e perguntei:

Você pode me explicar o que significa isso?

Minha esperança era de que negasse, dissesse que era do seu amigo, mas não o fez, simplesmente confessou.

Contou-me toda a verdade, quanto tempo fumava como se viciara.

Tudo começara no quartel e deu continuidade quando entrou para o banco, ouvi atentamente, mas não conseguia assimilar tal informação.

Então pedi que fosse embora e que mais tarde conversaríamos, queria pensar, afinal fui por três anos enganada pensando que o conhecia.

Chorei, chorei,desesperei, pensei... Não queria que minha mãe soubesse,precisava primeiro saber qual postura tomar, afinal eu o amava e isso tornava tudo mais difícil.

A maior burrice que pude cometer foi acreditar que o amor pode tudo,

Que poderia mudá-lo, tirá-lo do vicio... Mero engano.

Quando retornou a noite conversamos e prometera se esforçar, tentar

Largar o vicio, eu prometi ajudá-lo e escondi de todos.

Talvez tenha sido este o meu erro.

De acordo que se passavam os dias ele perdia a vergonha, já fumava no quintal de minha casa a qualquer hora e pedia para eu vigiar, ele passou a me levar para festas de amigos seu próximo a sua casa, deixava-me sozinha e dizia:

Princesa espera aí um pouquinho que vou ali dar um tapa.

Quando os amigos questionavam por estar fumando na minha frente falava:

Esquenta não, ela sabe de tudo

Quando estava duro queria que eu pegasse um remédio liquido usado pelos os dentistas que tinha o mesmo efeito da droga ,claro que recusava não iria arriscar meu emprego.

De repente aquele homem que eu amava aos poucos foi desaparecendo, dando lugar a outro que eu desconhecia totalmente.

A situação foi fugindo do controle e ficando insustentável ao invés de tirá-lo das drogas estava sendo conivente e cada vez mais me envolvendo.

Nunca senti vontade de experimentar, também por sua vez me respeitava, aos poucos percebi que o fardo era muito pesado não podia carregá-lo melhor seria sair fora enquanto havia tempo e assim fiz.

Sofri demais, chorava dia e noite, vi obrigada a contar para minha mãe

Mas pedi segredo quanto aos familiares, que nada entenderam com o termino e me acusaram, afinal era querido por todos sem exceção

Tive a necessidade de passar por psicólogo, fazer tratamento de eletro sono e etc.

Na verdade foi um trauma na minha vida e o pior ainda estava por vir.

Por coincidência seus amigos foram denunciados e eles acharam que eu era a culpada e tocaram terror na minha vida.

Era ligações no trabalho ameaçador que meu patrão já não mais permitia eu atender telefone era homem me seguindo que fui obrigada a andar escoltada por amigos.

Ele por sua vez me procurava querendo voltar, seus pais também não entenderam o termino do noivado sem explicação, esperei um tempo e fui procurar sua mãe num hospital onde era enfermeira para conversar, contei tudo que sabia, o que estava acontecendo e sugeri que o internasse para tratamento, ela não manifestou reação como se realmente soubesse, tentou fugir do assunto, desconversou e disse que foi melhor terminar como se não acreditasse numa só palavra.

Os dias se passaram e os caras de certa forma foi me esquecendo, ele não, vez ou outra me procurava.

Depois eu comecei a namorar outro rapaz e em um ano estava casada, não amava meu marido, ele sabia e não se importava, na verdade esse casamento foi uma fuga,a certeza de que não podia fraquejar, não tinha como voltar atrás.

Antes de meu casamento cheguei a me encontrar com o meu ex noivo, insistira em ver-me, precisava falar, como sabia que não desistiria fácil fui.

Não era mais bobinha a tal ponto de acreditar no que quer que dissesse, fui porque eu também queria vê-lo... Que fosse pela a ultima vez.

Encontramo-nos num apartamento em Copacabana de um amigo seu, ele jurou-me amor, mas confessou não ter forças para lutar contra o vicio,abraçamos-nos e ficamos assim por um longo tempo, depois nos beijamos.

Permiti-me viver aquele momento, nos acariciamos, mas nada fizemos.

Confessou-me o medo que tinha de casar-se comigo, por causa das drogas já que não conseguia ter uma ereção completa, muitas vezes falhava na hora H.

Disse que ainda o amava, mas que iria casar-me com outro, pois não queria aquilo na minha vida e me despedi.

Casei-me e depois de um bom tempo fiquei sabendo que ele havia ido me procurar na casa de minha mãe querendo meu endereço e mais tarde também soube que procurara o meu marido dando-lhe um aviso: Que me tratasse muito bem e jamais fizesse sofrer, pois se soubesse iria atrás dele.

Como era de se esperar meu casamento não foi longe durou apenas dois anos, separada retornei para a casa de minha mãe e em pouco tempo o meu ex noivo ficou sabendo, novamente fora me procurar.

Confessou que também havia casado com uma doida qualquer, com tudo seu casamento durou menos que três meses. Acabamos por marcar outro encontro(eu não tinha jeito) saímos e ele como sempre me endeusava.

Quanto arrependimento depois, fiquei frustrada, decepcionada,

Quis acreditar, talvez me enganar que ele havia mudado ....mas não

Fomos para um motel, a princípio tudo parecia normal até ele puxar o maldito cigarro da maconha, em seguida convidei-o a ir embora prometendo a mim mesma que isso jamais tornaria se repetir.

Eu podia compreendê-lo...jamais aceitar

Porque não era diferente dele, também tinha um vício difícil de deixar... Ele, fazia-me mal e não encontrava forças para resistir.

Ficamos mais um longo tempo sem se ver, eu não o procurava e nem ele a mim.

Até que tomou a iniciativa, e quando o vi percebi que meu coração já não era mais o mesmo e não batia tão forte como antes.

Mais uma vez pediu um encontro só que desta vez concordei com intenção de por fim de vez, isso não podia mais continuar, lhe impus uma condição:

Não esperaria um segundo a mais da hora marcada, nesse caso não deveria se atrasar, pois iria embora e nunca mais me veria.

Nem sei por que essa condição, ele sempre fora pontual.

Coisa de mulher talvez, não tinha o que dizer foi qualquer bobagem e ele concordou.“concordaria com qualquer coisa”

No dia e na hora marcado estava eu lá, como sempre fui de uma pontualidade britânica cumpri o prometido, cheguei, não o encontrei fui embora e desde então só o vi casualmente por três vezes.

Na primeira eu o encontrei na rua, tentou se justificar, disse que roubaram seu carro e não tinha como avisar (bom nessa época não tínhamos celular), respondi que:

Não acreditava em coincidência e sim na providencia divina

Era para ser assim... E assim deveria permanecer.

Depois eu havia saído do curso que fazia e a caminho do ponto de ônibus o encontrei, falou-me que voltara estudar e que casara, foi uma conversa rápida e formal, disse apenas que estava feliz por ele.

Quando sozinha com meus pensamentos interroguei: onde foi parar aquele homem de sorriso lindo, cheio de vida que me encantou... Não o reconhecia mais o que a droga fizera de sua vida? Parecia mais velho.

Desde a ultima vez que o vi vai-se mais ou menos uns dez anos, eu estava em meu trabalho (fazia parte da administração de um hospital) e ao passar detraída por um corredor alguém me sorriu, respondi meia sem graça, pois embora aquele rosto me parecesse familiar, não lembrava quem se tratava.

Fui até a cantina, à pessoa aproximou-se e perguntou:

Não estar me reconhecendo?

Ao ouvir a voz o identifiquei, mas realmente pela a fisionomia não.

Perguntou para puxar conversa se eu trabalhava ali

balancei a cabeça afirmativamente e para não deixá-lo sem graça perguntei o que fazia ali.

Disse que estava com a filha doente

não entrei em detalhes respondi somente que lamentava.

Ficamos mudos, por uns segundos quando quebrei o silencio dizendo que precisava retornar ao trabalho.

Falou-me: Bom te ver e para saber deixei o vício graças a você

Eu nada disse apenas agradeci e devolvi a gentileza com um bom te ver também.

E até hoje não sei “Se a droga matou o nosso amor, ou se eu não o amava bastante para aceitá-lo e permanecer a seu lado”

Eu sou boa fisionomista, jamais esqueço um rosto... como pude esquecer de alguém que tive uma relação tão forte, tão próxima. Acredito que... Era preciso

Cristina Siqueira
Enviado por Cristina Siqueira em 01/03/2012
Reeditado em 02/03/2012
Código do texto: T3528410
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