So, What's Going On (ou então: se bebeu, não pergunte)
Jorge Luiz da Silva Alves



     Sentia-me estranho. Áspero, antenado a tudo ao redor, pegajoso com carinhos fúteis e azedo para verdades. Olhei-me  num espelho de shopping: não era eu, talvez um esquisitão do planeta Mongo, personagem tardio de Guerra nas Estrelas, um Chewbakka só que carapaçudo. Sei lá, a saideira de ontem/hoje de madrugada não caiu bem, mas os olhares dos demais eram idênticos ao que eu mesmo me outorgava. Numa estranha defensiva, ruminava ataques ao menor tom irônico, a qualquer manifestação de preocupação com minha palidez ou rouquidão, sei lá! Queria, mesmo, perguntar algo, mas um bolo acre travava-me as cordas vocais, seria impressão minha?, receio do turbilhão que, porventura, assaltar-me-ia?! Às dez da manhã de angelical segunda-feira e parece-me que o sabático ainda endemoninhava-me as dúvidas do que sou agora, do que fiz no fim de semana, sobre quem viveu, morreu, ressuscitou e, agora, zumbizava comigo... mas tinham tanto pavor quanto eu, de fazer a pergunta capital...


     ...naquele instante, loja adiante, Marvin Gaye interveio-nos, salvador.     



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Jorge Luiz da Silva Alves
Enviado por Jorge Luiz da Silva Alves em 02/03/2012
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