O SOL

Aníbal se achava uma boa pessoa, mas não entendia até onde isso realmente poderia lhe favorecer na vida. Já começava a imaginar pensamentos estranhos sobre isso. Vivia apaixonado por Letícia, um doce de criatura. Só que ela não tinha olhos para ele. Aquilo o estava consumindo. Em sua cabeça apenas ela, durante um dia inteiro com pequenas interrupções às quais ele não podia evitar. Sabia que ela era um sonho, que se não era de todo impossível, era sim muito distante, além do que pudesse alcançar. Queria muito ter certas qualidades que chamassem a atenção dela, mas sabia que realmente tudo que fizesse não adiantaria. Pensava ele que ela pertencesse a algum outro mundo diferente ao qual ele não fazia parte.

Demorou, mas ele decidiu investir em si mesmo, fez algumas coisas que ele mesmo jamais imaginava que iria se propor a fazer algum dia. Tentou fixar sua cabeça em algo que o colocasse pra frente, que impulsionasse sua vida, desse a ela algum valor, coisa que ele não costumava enxergar muito em si mesmo. Associou-se com uns amigos em um negócio que estava dando certo. Uma loja virtual que cada vez mais crescia ao longo do tempo. Ele e Letícia moravam na mesma cidade, tinham amigos comuns, se viam ou se comunicavam todos os dias, mas Letícia jamais percebeu o interesse de Aníbal. Ele mesmo parecia fazer com que isso continuasse assim. Era justificável, pois tinha bastante medo de prejudicar sua amizade com ela, já que não tinha lá muitas esperanças de ver seu sonho virar realidade.

A loja virtual de Aníbal atingiu tal sucesso que adquiriu ares internacionais, e logo Aníbal teve que se mudar por uns tempos. Tempo indeterminado na verdade, ficaria em outros países o tempo que fosse necessário. Enquanto isso Letícia vivia amores e decepções. Sempre tentava ser feliz a seu modo, mas sua rara beleza atraía muita gente que não se importava com o que ela era realmente. Nem todo mundo a olhava como Aníbal, que a via como belíssima mulher de cabelos e corpo lindíssimos, mas também como um ótimo exemplo de pessoa humana, que encantava aqueles que davam valor a alguém de caráter.

Já se passavam cinco anos que Aníbal estava na Itália, pouco saía para se divertir, mas nesse dia ele iria se arriscar pela cidade luz. Paris estava linda como sempre, e a noite prometia, vários lugares bem concorridos e divertidos eram boa opção de divertimento naquela noite. Tinha em sua cabeça a imagem de Letícia ainda, mas nem por isso deixava de tentar achar uma outra pessoa que o fizesse feliz. Saiu a noite, procurou um lugar onde pudesse dançar. O lugar possuía janelas de lado a lado, era um pouco modesto, mas era bem movimentado. Decidiu dançar sozinho no meio da pista. Não era nada fora do comum, várias pessoas ali faziam o mesmo, e se divertiam muito dessa maneira. Eis que algo que ele não esperava aconteceu: alguém estava ali cutucando suas costas, ele virou e teve uma das maiores surpresas de sua vida. Era Letícia que o havia reconhecido, dizendo que ficaria em Paris por um tempo. Ela trabalharia na equipe de promoção da loja virtual de Aníbal. Que coincidência feliz!! Pensou Aníbal. Eles dançaram por aquela longa e divertida noite. Nada mudou para que Aníbal tivesse alguma esperança, mas como a simples presença dela o fazia bem! Pena que quando chegava em casa via como a realidade afundava em sua cabeça. Eles ficaram cada vez mais amigos, quase confidentes, mas mesmo assim, sabia Aníbal que ela nunca sequer o perceberia. Por mais perto fisicamente que ela estivesse, tão longe de fato sempre estaria do sonho que Aníbal desejava que se tornasse realidade.

Eis que o tempo passou e Letícia voltou ao Brasil, deixando Aníbal na Europa. Esse segundo distanciamento dos dois fez Aníbal perceber de uma vez por todas que deveria esquecê-la. Passou-se anos em que os dias eram totalmente sem graça para ele. A vida parecia tão melancólica, ele não conseguia imaginar que pudesse existir no mundo alguém que desse cores a sua vida como Letícia. Sete anos depois estava ele novamente naquele mesmo lugar em que encontro Letícia em busca de uma esperança que já não existia mais nele. Era já o começo da manhã, os raios de sol começavam a aparecer quando sentiu uma cutucada nas costas, pensou: será? Não, não era Letícia, também nem poderia ser, sabia do paradeiro dela, estava ela cuidando dos interesses da loja no Brasil. Era uma linda mulher que pedia simpaticamente por um par em uma simples dança. Aníbal a via se confundindo com um reflexo do sol que vinha refletido de uma vidraça de uma janela. Tudo o iluminava literalmente, logo eles foram se conhecendo melhor e se afeiçoando. Era engraçado, naquele momento sua cabeça não era mais de Letícia, isso era tão surreal para ele!! Casaram-se e tiveram dois filhos lindos. Ele jamais esquecera aquela imagem iluminada pela luz do sol que tanto tinha trazido felicidade para ele. Certo dia foram à praia, dia nublado, e Aníbal ouvia alguém perguntar insistentemente quando o sol apareceria. Não se conteve e rindo com ele mesmo respondeu que por mais que ele não acreditasse, algum dia seria o dia de sol. Podia demorar, não sabe o quanto, mas que este dia chegaria, ah se chegaria, era só estar preparado para ele.

Frank Santos
Enviado por Frank Santos em 24/01/2007
Reeditado em 23/04/2007
Código do texto: T356969