A prisão da Alma.

Escrevo-te esta carta, meu amigo, para deixar-te a par dos dias em que passei nesta prisão.

Foram momentos de alegria e prazer, mas também de muita solidão.

Dia após dia, pensando no que fazer, olhando o tempo. Daqui o céu parece azul, mas não tenho tanta certeza assim. Meus olhos me enganam e as vezes não vejo as cores do mundo.

Sabia que um dia seria libertado. Percebia a cada dia que se passava, que as grades desta minha prisão deterioravam. Mesmo assim não tinha forças para quebrar aquelas barras.

Cada tentativa, cada frustração, somente serviam para me conformar e me confortar com meu destino.

Percebi então que precisava viver tudo aquilo para que eu tivesse direito a essa tão sonhada liberdade. No tempo que me restava, eu escrevia, lia muito e me ocupava das coisas que minha prisão requeria para manter-se.

Contudo meu amigo, não me foi falado quanto tempo eu permaneceria aqui. Vivia cada dia como se fosse o último. Meus momentos de alegria eu os dividia com os amigos. Tantas foram as vezes que nos encontramos para uma conversa, saborear um petisco. Tantas outras foram as vezes que tivemos que dividir a dor.

Nestes momentos minha prisão parecia fortalecer, criar vigor, como se tivesse querendo me dizer para não desistir.

Mas a minha luta não era para escapar. Precisava viver todos os momentos que estavam preparados para mim.

Um dia um homem chegou e me disse que eu estaria livre em pouco tempo. Mas eu não queria ouvir aquilo. A tristeza tomou conta de mim e me fechei para tudo.

Passei a sofrer sozinho as angústias, o medo, o temor de encontrar lá fora o desconhecido.

Nos momentos que se passavam, sentia cada vez mais a fragilidade da minha prisão. Embora percebesse a facilidade em sair, eu lutava para ter mais tempo. Tempo para dividir, tempo para sentir o vento tocando em meu rosto, a chuva me molhando e até mesmo os meus medos.

Fechei os olhos para descansar.

Já não precisava mais lutar. Ao meu redor, tudo parecia acontecer. Meus desejos se transformavam em realidade. Eu não via mais grades, não sentia mais a prisão me sufocando.

Finalmente eu estava livre.

Mas daqui de onde estou ainda vejo pessoas chorando, algumas saudosas, outras compulsivamente. Outras ainda falando dos tempos que eu estava recluso.

Peço a ti, meu amigo, que digam a elas que estou bem. Estou feliz e mais vivo que nunca.

Peça a essas pessoas para que transformem o choro em oração, a compulsividade em aceitação, as minhas lembranças em um retrato.

Sei que um dia vamos nos encontrar novamente. Estarei aqui. E antes que tudo aconteça, faça eterno todo meu viver apenas lembrando que um dia, ao seu lado, eu passei meus melhores momentos de um simples ser humano.

Um abraço, um eterno abraço, meu amigo.

Luiz Caeté
Enviado por Luiz Caeté em 01/04/2012
Reeditado em 24/08/2012
Código do texto: T3588863
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