A GRANDE VINGANÇA.

Ninguém sabe bem como aconteceu, mas uma reviravolta tomou a Terra.

O homem involuiu e o bicho evoluiu. Aquelas criaturas que só mugiam, grunhiram, cacarejavam, grosnavam, etc. receberam do Criador o néctar da inteligência. Já a raça humana, tão sábia, tão sagaz, tão avantajada no seu QI, virou bicho. Literalmente.

Deixou de raciocinar, de associar ideias, de pensar de fato.

Os bichos, com a sua neo-sapiência, obviamente dominaram o mundo. Passaram a estabelecer regras de comportamento, ditar o que era certo e errado, mandar e desmandar como devia ser. O homem ficou numa situação complicada, dependendo da bicharada para suprir suas necessidades básicas, como jogar golfe ou abrir a lata de aspargos importados da Tailândia.

Nessa nova fase, os bichos colocaram em prática uma antiga vontade, submersa nos seus cocorocos há milênios.

Decidiram abrir açougues humanos por todo planeta, exatamente como os humanos vinham fazendo desde sempre para vender a sua carne.

Montaram imensos matadouros para acabar com a raça dessa gente, sem a menor preocupação em minimizar o seu sofrimento, exatamente como haviam sido tratados pelos seus algozes originais.

E passaram a vender orelha, pé, fígado, carne de primeira, carne de segunda, carne de terceira, testículos, bucho, miolo, coração, estômago, língua e o que mais pudesse vir a ser aproveitado, quero dizer, comido. Tudo carne que um dia foi de gente.

Esses açougues fizeram o maior sucesso. Muitos tinham fila na porta.

Faziam até aquele espetinho, vendido de forma informal no meio das ruas, com aquela farofinha irresistível. A nova moda pegou.

Vendiam até carne humana congelada pra comer depois em casa, tomando uma bela cervejinha.

Dava gosto ver os pedaços de coxa, a bochecha, os bifes de barriga, rim, fígado, estômago, cotovelo, língua, pé, o lindo narizinho arrrebitado, a bunda rechonchuda, as orelhas, a mão e a carne de pescoço cheia de pelancas, tudo pendurado nas vitrines.

Tudo carne da melhor qualidade.

Assim os bichos fizeram a sua desforra pelos tantos anos em que foram simples utensílhos para encher a nossa barriga com suas picanhas, presuntos, maminhas, asinhas de frango, fígado e filé mignon.

Barriga que, por sinal, está em promoção: R$ 1,99 o quilo, no Açougue do Burro Afonso, logo ali na esquina.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 02/05/2012
Reeditado em 04/05/2012
Código do texto: T3645516
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