Afogando-se no Rio da vida

Conquanto não soubesse nadar, nem ao menos boiar, afundou-se na profundeza do Rio. Do lado mais longínquo de qualquer superfície terrestre, as entranhas molhadas o sugavam para dentro, cada vez ia e ia mais fundo Rio adentro. Mergulhado também em um sono profundo, dopado pelo medo. Quando recobrava a consciência, se debatia desesperadamente, sem qualquer recompensa pela sua atitude. Qualquer momento de razão era mera ilusão, tudo que mais se sabia, era que se havia retornado ela pela vontade inconsciente de viver. Todo desespero, todo medo. Tudo em vão. Nem mesmo a coragem, a audácia, a sapiência faria alguma diferença, estar em meio ao Rio, de nada valia viver se quer mais um segundo. Tudo o que se promete; o que se conquistou; tudo que iria presenciar; tudo se torna em nada, quando não se tem mais para onde esticar uma mão para escapar do afogamento. Ainda assim, ainda que esteja tudo perdido em um Rio profundo, pode surgir algum mergulhador para te resgatar, para te reanimar, para você viver novamente, para poder, quem sabe, um dia nadar contra toda maré.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 09/05/2012
Reeditado em 10/05/2012
Código do texto: T3658186