Andando entre versos e estrofes

Isaac sempre fora um menino diferente dos demais. Aliás, não era tão diferente assim, só possuía algumas qualidades incomuns para meninos da sua idade-ele tinha 9 anos. Mas, como a nossa sociedade evidencia tudo que é um pouco diferente, ele se destacava.

Sua característica peculiar era escrever poesias. Ele as amava como se fossem as suas filhas, sangue do próprio sangue. E não é que o menino tinha jeito mesmo para a coisa? Ele era filho de dois médicos, que sempre lhe deram tudo o que precisava e também o que não precisava, já que acreditavam que o pouco amor que lhe era dado poderia ser suprido por carrinhos, jogos eletrônicos, festas infantis...A sua solidão era nítida, somente não para os seus pais, que nem mesmo sabiam do seu romance com os versos e estrofes.

O menino de 9 anos cresceu, mudou completamente, da água para o vinho. Essa mudança radical obviamente não se fazia no ato de escrever, pois como já deixei aqui bem claro, ele era apaixonado por todo tipo de poesia. Ah, antes que eu me esqueça, ele mudou. E mudou bastante. E para melhor. O tímido garotinho que sentava ao fundo das salas de aula para evitar chamar o máximo de atenção, se tornou um menino sorridente, comunicativo, espontâneo e possuidor de muitos fãs( que amavam tanto as suas poesias quanto o seu modo de agir perante todos.

Os pais que não conheciam o filho, continuaram assim sem conhecer durantes esses dez anos que passaram. Agora o moleque virara um homem, um bom e belo homem, de 1.90 m e no auge dos seus 19 aninhos.

Quando Isaac terminou o ensino médio, decidiu passar dois anos morando na Irlanda. Os seus pais, que sempre foram de família abastada, financiaram a sua viagem na maior facilidade, sem o menino ter que gastar o seu latim com argumentos que deixassem os pais sossegados, quanto ao fato dele passar dois anos fora em um lugar onde não conhecia ninguém.

Pois bem, Isaac passou dois anos vivendo uma vida tranquila e cultural na Irlanda. Sempre que acontecia festivais de poesia ele se inscrevia e sempre recebia elogios. Quanto voltou ao Brasil, seus pais –Henrique e Giovana- decidiram que era hora dele tomar um “rumo” na vida prestar vestibular, entrar em uma faculdade- de medicina, é claro- e continuar a linhagem sucessória da família de médicos.

Essa participação e interesse repentino dos pais na vida do garoto, notoriamente foram acompanhados por um baque emocional para Isaac, que apesar de ser responsável, sempre tivera uma vida cheia de regalias e nenhum esforço. Na hora de conversar sobre qual profissão seguir, o desfecho deu-se em choque de opiniões e aborrecimentos dos pais para com os filhos e vice versa.

(Giovana)-Meu filho, vai acontecer um vestibular no próximo ano, para uma das melhoras faculdades de medicina e você vai fazer. E vai passar.

(Isaac)- Como assim ??? Quem foi que te disse que eu quero fazer medicina ?

Giovana e Henrique ficaram incrédulos com essa reação do filho, nunca esperaram dele essa resposta. Para os pais estava mais que determinada a profissão futura do filho. É claro, não conheciam seu amor pela poesia.

Com o fim da tensa conversa não chegaram a lugar alguem. Isaac pensou que os pais tivessem esquecido o acontecimento e deixou de lado. Ele não sabia que os pais não estavam brincando e seguiu sua vida normalmente. Até o dia que lhe foram bloqueados os pais sobre o "drama econômico", os mesmos explicaram a situação :

- É o seguinte Isaac, ou você estuda e passa em medicina ou vai trabalhar com a tia Isabella.

Isaac passou em medicina- mesmo sem nenhuma dedicação intelectual- e entrou na faculdade com 24 anos. Não podia se esperar qualquer atitude dele a não ser o desinteressa toral. Aquilo definitivamente não era o que ele queria para a sua vida. Enquanto os médicos tratavam dos sintomas das doenças, ele queria tratar a alma das pessoas, com as mais belas poesias.Isaac desistiu. Desistiu de tudo, da vida. O belo poeta tornou-se alcoólatra, abandonou a faculdadem foi abandonado pela família. Virou mendigo. Fo literalmente para as ruas.

Nas ruas, ele se reencontrou consigo mesmo, através da poesia renasceu. Um dia, um famoso editor caminhava pelas ruas quando o viu declamando um poema em alto e bom som em praça pública. Reconheceu Isaac- agora já possuia os seus 60 anos- dos comitês realizados na Irlanda na época que ainda era um garoto.

Enquanto o editor, Bob, o observava, ele falava empolgado :

" Que me direis vós, que caminham apressadamente

pelas minhas ruas, minhas praças

debaixo do meu sol ou de minha sombra ?

Não me acuseis de louco

por achar que sou dono disso tudo

Loucos, desculpem-me a aspereza,

poderá ser vós !

Que praticamente correm e dizem que i tempo

é ouro, e não param ou respiram

e esquecem de olhar para o lado

e admirar solenemente o que é vosso

vossas praças, ruas

sol e sombra

O que Deus lhe deu gratuitamente e

vós desdenhais e não aproveitais".

Bob agora teve certeza. Esse mendigo, velho e maltratado pela tristeza era Isaac. Bob falou com Isaac sobre a publicidade de suas poesias, que haviam feito sucesso na Irlanda e que poderiam lhe dar uma vida mais digna. Isaac aceitou apenas a parcela necessária para a sua sobrevivência, mas antes subiu com dificuldade no banco da praça e profetizou:

- Mas para você, o que seria dignidade ?

Bob admirou-se da pergunta e olhou no fundo dos olhos de Isaac, aquele garoto que faziam todos se apaixonar. Bob sabia que Isaac sabia a resposta. Ele era a resposta.

mmmalencar
Enviado por mmmalencar em 13/05/2012
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