MEIA NOITE E TUDO BEM

Quando ele chegou à noite já ia alta, o silencio pairava nas ruas irregulares do bairro, apenas os cães testemunharam seu retorno cansado seus latidos o perseguindo a cada passo numa saudação irada, talvez medrosa? Quem sabe?

A fechadura da porta não resistiu a sua investida para entrar, a casa o acolheu em silencio nem convidativa nem hostil apenas conformada. Não havia sons, todos os ruídos pareciam ter adormecido também ele deixou no quarto o casaco e deixou os tênis, um leve murmúrio soou na cama onde sua esposa dormia.

Teria ela acordado? Imóvel ele esperou na penumbra, nada mais ouviu e então saiu para a cozinha. Havia um prato feito no micro ondas a sua espera, havia café forte na garrafa térmica, como ele sabia que haveria. Tomou um banho nem demorado nem rápido, vestiu o pijama que pegara quando fora ao quarto. Comeu com vagar após esquentar a comida, e a achou saborosa como sempre.

Depois bebericou o café na sala assistindo ao tele jornal, viu desfilar o teatro da vida em atos cômicos e trágicos que iam do chow daquele famoso cantor aos atentados terroristas, viu tudo sem surpresas sem emoções. Tudo ia como sempre no mundo, e ele não esperava que isso mudasse.

Quando deitou sentiu o calor da esposa, ela ressonou e instintivamente aconchegou-se a ele. Não acordou eles não conversaram, ele beijou seus cabelos cheirosos de algum xampu e adormeceu abraçado a ela.

Tudo ia bem no seu mundo.