O pesadelo - parte I

Estava mais uma vez terrivelmente abalado pelo rumo que minha vida vinha tomando, principalmente por não entender o destino. Não saberia explicar o porquê de ela estar neste caminho, vivia sem explicações.

Havia uma semana que estava trancafiado em minha casa, antes disto tinha comprado mantimentos suficiente para ficar aqui por duas semanas, e eu não pensava em sair antes desse tempo ter percorrido. Algumas vezes, eu apenas ia até a frente de casa, armava a rede em baixo da mangueira e ficava algum tempo deitado nela. A árvore já estava bem florida e com algumas mangas verdes e pequenas, logo estariam maduras e saborosas, e eu poderia apreciá-las, como fazia todo ano.

Minha casa ficava em um terreno grande, ao lado direito eu cultivava algumas verduras e legumes e mais à frente, eu matinha o canil do Lótus. Lótus é meu Rotweiller de aproximadamente dois anos de idade, um companheiro e tanto, e muito esperto também. Ele não se importava em ficar alguns dias sem sair para caminhar. Quando eu me retirava para a solidão da minha casa, ele logo sabia que ficaria um bom tempo sem ver o outro lado do muro. Por mais incrível que pareça ser Lótus compreendia minha solidão, e ficava durante um bom tempo deitado sobre meus pés enquanto eu estava trabalhando em minhas pesquisas. Ultimamente eu tinha voltado a fumar e o Lótus não gostava que eu fizesse isto. Então, ele passava a maior parte do tempo no quintal com seus brinquedos.

Hoje tive uma vontade imensa de sair para caminhar com o Lótus, ele estava meio abalado por eu estar fumando novamente e não poder ficar perto de mim por muito tempo. Não é sempre que fumo, mas desde que voltei a ficar só eu tenho fumado uma carteira de cigarros por dia ao menos. No entanto, deixei esta ideia de lado e me tranquei no quarto, deitei sobre a cama e dormi durante horas.

Acordei por volta das três horas da manhã, acendi um cigarro e fui olhar o céu. Estava todo estrelado e sem Lua. Amo olhar o céu assim, mesmo sem a Lua. Costumo pensar onde termina o céu e por que Deus não nos deixou uma maneira para irmos para outro lugar, já que existe um universo tão imenso a nos cercar. Já se passara trinta minutos, e eu já estava em meu terceiro cigarro e ainda não tive vontade alguma de voltar para dentro. Lótus dormia silenciosamente na área, aproveitei e reabasteci seu pote de água e coloquei um pouco de ração para quando ele acordasse pela manhã não precisasse me chamar.

Há dias em que estou assim, sem vontade de viver, com um buraco enorme no peito, onde nada sai de mim, nem pensamentos, nem vida, nem vontade de escrever ou de ler. Parece que esses dias são os mais cruéis para mim, eu então abro uma garrafa de vinho e bebo o dia todo, só assim mesmo para eu suportar essa falta de vida. Mas como era de madrugada, optei por tomar meu Rivotril e voltar a dormir.

“— Por quê?

—Se eu soubesse, responderia!

— Mas como você não pode saber?

— Já lhe disse, eu apenas sigo instruções, Fred.

— Tenha piedade de mim, eu lhe imploro Senhor.

— Não é tão fácil como se parece, há coisas que temos apenas que aceitar, seja lá como for.

— Então me deixe fugir, diga que te enganei.

— Hahaha, como se fossem acreditar mesmo, ninguém nunca escapou da Morte!

— Oh Deus, tenha piedade de seu filho!”

São duas horas da tarde, vou almoçar. Preparo meu almoço: Panquecas de soja, arroz branco e feijão preto e uma salada de tomates. Sento-me a mesa e começo a comer. Lembro-me daquele sonho que tive esta noite, como esses pesadelos têm atacado meu sono. Em alguns sou atacado pela morte, em outros estou caindo em algum abismo, em outros fujo desesperadamente por uma rua escura e sem saída. Gostaria muito de uma explicação para esses pesadelos.

Não me sinto suficientemente bem para sair. Estive pensando seriamente em me mudar para alguma chácara na beira de algum rio. Lá tenho certeza ficaria o mais só possível e viria à cidade apenas para pegar alguns livros na biblioteca e também comprar mantimentos. Não precisaria gastar muito com roupa, calçado gasolina, energia, água e até comida, lá poderia cultivar mais coisas. Entretanto, será que conseguiria ficar tão só ao ponto de ficar longo tempo se ver uma alma viva se quer? Como me sinto indeciso nestas horas, como posso viver assim por mais tempo? Outro dia liguei para minha mãe, a conversa foi mais ou menos assim:

“— Oi mãe, sou eu, Fred.

Ela logo me responde grosseiramente: — Acha mesmo que estou velha o suficiente para não reconhecer a própria voz de meu filho?! – Ela nunca foi uma pessoa muito simpática, mas depois de certa idade as coisas pioraram.

— Como a senhora está? – eu lhe pergunto.

— Aqui está tudo tranquilo, mas acho que quem não está bem é você, Fred. Diga-me logo o que quer, vamos.

— Desculpe mãe. – já me arrependi de ter ligado para ela, mas continuo a falar-lhe. — Só senti sua falta hoje e quis conversar um pouco com a senhora, minha mãe. Há dias que tenho tido insônia, até voltei a fumar, mas de nada adianta, sempre procuro algo para fazer, mas nada me satisfaz. A senhora mesmo sabe, eu nunca me senti bem com nada a vida toda, e agora, parece que as coisas somem a minha vontade, e tudo perde a graça logo.

Ela hesita um momento e responde: — Filho, já lhe disse para parar com essas loucuras, você é apenas muito indeciso, procure uma mulher, você já tem 25 anos de idade e nunca teve algum compromisso sério, é isto que lhe falta meu filho, apenas isto. Agora vou desligar, preciso ir ao massagista.

— Até mais. – eu respondo, e logo o telefone fica mudo.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 13/06/2012
Reeditado em 14/06/2012
Código do texto: T3722394