O pesadelo - parte III

A necessidade de mostrar a prática de um ato a outros indivíduos é o que faz dele um acontecimento de importância. Essa necessidade de realização em público é o que inflama o ego. Ter o reconhecimento devido é simplesmente fantástico, o sintoma de embriaguez que nos toma por completo faz-nos de fantoches para nossos sentimentos impares de recebimento de afeto. Tal fato não pode ser realizado se não for sob os olhares de outras pessoas, parece que temos a sede de sermos focados pela atenção deles. Somos orgulhosos como os pavões, excêntricos a tal modo que queremos mostrar nossa beleza poética. Mas, eu não escolhi a solidão, ela quem me escolheu. Então vou ficar com o que tenho. Eu acredito em mim primeiramente, e minha solidão me satisfaz. Para mim, viver solitariamente, somente eu e o Lótus, são o que me importa. Construo dentro da minha solidão um campo de diálogo que qualquer outro não entenderia. A minha capacidade de lidar com essa certeza é o que de melhor fiz em minha vida nos últimos tempos. Não tenho dúvidas diante da minha escolha, nunca tive tanta certeza como tenho agora, depois de anos eu me sinto realizado por isto que construí. Sei que estar envolvido pela solidão é simplesmente estar em paz com seu inconsciente. Não vejo necessidade de mostrar o que faço, isso é para quem precisa de olhares, eu preciso apenas de paz, calmaria, silêncio, tudo aquilo em que posso me manter por horas, sem se quer ser perturbado por um chiado. Não sou um louco, não sou consumido pelo consumismo, sou apenas um ser solitário. O mais solitário de todos. Não sou um crente, não creio em ideais, muito menos vivo de verdades absolutas. Mas, realizar minha vida para mim, é o meu desejo persistente, desejo irresistível e fatal. Aquele desejo que crava no peito e nem por cirurgia sairá. Se outro dia resolvi me retirar do mundo não foi por ódio, foi pela necessidade de viver só. E como eu gosto de tal feito. Eu sou como aquele pássaro belo que voou. Um pássaro raro que só podemos ver naquele instante que estamos olhando para o horizonte como se ele não tivesse fim. É assim que costumo me descrever para mim.

Sentei-me junto à Lótus e cocei sua orelha, ele deitou de barriga para cima querendo que eu fizesse cócegas. É o que ele mais gostava. Bebi mais um gole de meu vinho barato, sentia-me levemente embriagado. Já se passavam das oito horas da noite, precisava comer algo, minha última refeição tinha sido feita há 4 horas. Fui até a cozinha e preparei meu jantar. Como sempre, evitei comer carne, para mim não havia necessidade de tal luxo. Eu preferia uma comida saudável e sem proteína animal.

Agora estou em minha varanda lendo. Leitura é o que mais tenho feito ultimamente, leio dois livros semanalmente, e, ultimamente estou planejando procurar outra distração. Já havia pensado em compor musicas, mas também pensei em pintura. Mas o que eu faria ainda estava muito indeciso. Eu apenas dormirei esta noite, dormirei pensando se terei outro pesadelo. Lembrei-me, porém, que amanhã é aniversário de mamãe, então dormirei logo e pela manhã ligarei para ela. Faz alguns anos que eu não a vejo, mas ela também não se importa com isto. Ela sempre estivera muito ocupada com sua vida luxuosa que papai havia lhe dado em forma de cartões de créditos.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 15/06/2012
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