O pesadelo - parte IV

Dona Helena sempre me deixou a cuidados de babá e empregadas até eu completar meus 14, depois disto fui enviado para um colégio interno, a única preocupação que ela teve foi em me manter afastado da sua vida. Papai faleceu quando eu tinha 13 anos. Ele estava em viagem para uma reunião quando dormira ao volante e seu carro colidiu com uma carreta. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu antes mesmo de ser socorrido. Papai sempre tivera muito dinheiro e deixou de herança muitos empreendimentos, casas e fazendas para mamãe e a mim. A única coisa que preservei foram as minhas memórias dos dias em que eu passava com papai; jogávamos bola, pescávamos e andávamos de bicicleta praticamente todos os finais de semana, geralmente alternávamos nossos lazeres para não cairmos na monotonia. Seu Alberto, como era chamado, fora um grande homem, dedicava-se com todo amor a sua família, amava a mim e a mamãe incondicionalmente. Mamãe sempre fora estranha comigo, mas isso não me importava papai sempre me amou por eles dois. Depois do seu falecimento e minha ida para o internato me mantive sempre afastado da vida ao lado de Helena, ela nunca se interessou e eu também não queria incomoda-la. A grande tragédia de nossas vidas foi a partida de papai, ele era o laço que nos mantinha unidos, depois disto se foram as reuniões em família, e o amor nunca mais existiu entre a gente. Eu nunca a culpei pelo que ela tenha feito a mim, aliás, ela apenas me manteve distante. Sempre ouvi que mães amam seus filhos antes mesmo de nascerem, que o amor surge na gravidez e se torna ainda mais forte quando os filhos nascem. Mas este amor por mim nunca foi conhecido, mamãe apenas fingia a frente de papai para agradá-lo, já que ele não aceitava que mamãe me despreza-se. Para mim, mamãe sempre fora alguém normal, meu sentimentos por ela sempre foram neutros, minha verdadeira mãe sempre foi minha babá. Ela, uma senhora já de idade sempre me mantivera sobre seus cuidados e sempre me amou. Por ela eu desenvolvi um afeto que deveria ter sido para com minha mãe. Ter sido internado e estado longe dela foi uma grande angustia e minha vida. Eu às vezes lhe enviava alguma carta, mas nunca obtive respostas. Descobri mais tarde que mamãe sempre as interceptou para que a babá nunca as recebesse. Parecia até então que mamãe me odiava. Que o amor ela que deveria ter por mim na verdade se transformara em ódio crescente por minha pessoa.

Minha vida no internato foi longa e dolorosa, eu apenas não gostava de estudar todas aquelas coisas como também vivi os piores anos da minha vida desde que papai tinha falecido. Parece que quando é para algo sair errado acontece um desencadeamento de coisas ruins em nossas vidas a tal ponto que se está ruim pode ficar tudo pior. Primeiramente, eu já sentia falta de papai e da babá Amélia, e como se não bastasse mamãe me odiava sei lá eu o porquê. Depois também existia aquela intolerância dos professores por minha falta de interesse nas aulas. Talvez eu tenha culpa por não se interessar por todo aquele conteúdo chato, mas de que nada me serviriam. Os dias ali se passavam lentamente, e, a cada instante de vida longe de tudo que eu amava me parecia que iria morrer sufocado. Um garoto de apenas 14 anos, sem amor, sem destino e sem alguém com quem contar. Era um solitário desde então, meu pai, aquele que sempre esteve comigo, havia morrido. Minha babá, que sempre cuidou de mim eu havia a deixado para trás. Mamãe tirou de mim o que restou de amor. Hoje é seu aniversário e não vejo nenhuma vontade em ligar para ela para desejar felicidades, felicidades estas que nunca tive por conta de seu ódio para com um garoto de catorze anos, ela me roubou o amor. Eu nunca fui vencido pelo ódio, eu aprendi sozinho que o amor está para além do bem e do mal.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 18/06/2012
Reeditado em 19/06/2012
Código do texto: T3731198