Curta Metragem, 5º Take

Surpreso, do ônibus mesmo já a avistava parada em frente ao mercado, a fêmea que refletia toda a minha fraqueza. E, como qual um protagonista me fiz ser visto, mas como um personagem que não vê.

Em ação, atuei no meu maior papel, e o fiz com o “timing” digno de um Almodóvar, até os degraus do coletivo participaram da primeira cena, na segunda, apesar do calor, me envolvi em meu paletó negro com uma manobra que ensaiava há tempos, imaginei-me em primeiro plano, câmeras, luzes e apenas um em ação, confesso que senti tremer as mãos antes de me decidir ator naquela hora, mas encarei, pois o personagem já estava pronto pulsando sua leve canastrice, que deixei escorrer pelas minhas duras sobrancelhas. A cena valeu, apesar de não ter certeza do efeito que o ex-figurante provocou na única expectadora que interessava. E então, com o ar e o peso de um galã desconhecido, retirei-me daquele palco, passos firmes, decididos, sem olhar para a câmera e para o que agora chamo de um filme que vivi na madrugada da minha carne.