O pesadelo - parte V

O clima estava pesado, havia neblina e mal se enxergava. O lago estava totalmente parado. Parecia não haver vida em lugar algum. Não ventava, e também não se ouvia ruídos em parte alguma. Estava ficando cada vez mais frio e eu apenas andava em passos lentos. Esse tempo costuma me agradar, parece que com ele vêm a serenidade e a calmaria; as pessoas se tornam brandas, elas ficam menos efusivas e se portam com quietude. Todo o pátio fica vazio e o bosque, se torna propicio para caminhar solitariamente. O inverno nunca fora tão rigoroso como tem sido neste ano. São nesses dias que eu me sinto vivo como a primavera. Sentir o frio me envolvendo com seus braços gélidos a me causar arrepios me transforma em outra pessoa, só assim para eu aproveitar a existência da minha alma e suportar a vida.

Estava me despedindo desse último inverno aqui no internato, estava prestes a completar 18 anos e procurar o meu destino. Com o passar dos anos eu me acostumara com a falta de papai, mas nunca havia perdoado mamãe por me abandonar totalmente, parecia que em mim crescia algo muito forte que eu não sabia explicar. Talvez fosse um tanto a tristeza quanto a angústia ou talvez desejo de vingança. Nesses três anos de internato eu havia conhecido apenas uma pessoa, e ela se tornara para mim indispensável. Foi pela sua companhia que consegui superar toda a minha angústia. Ela se tornara essencial para mim, assim como papai um dia tinha sido. Eram poucos os momentos em que nos encontrávamos a sós, mas de qualquer forma eu nunca poderia passar maior tempo com ela. Madalena Albuquerque, uma garota de cabelos lisos e dourados, olhos verdes como esmeraldas. Sua pele morena bronzeada de sol me seduzia. Sua fala, doce e delicada como o ar acalmava a tempestade que minha vida se tornara. Havíamos nos conhecido pelo acaso, os pais dela haviam falecido e ela vivia com os avós; ela, diferente de mim, optara por vir ao internato. Desde que nos conhecemos, nossas vidas passaram por diferentes rumos. Madalena, sempre fora minha companhia, mas sempre eu quem a procurava quando me sentia distante, em alguns momentos no internato eu fugia para o encontro dela no bloco feminino e ficávamos por horas conversando sobre os mais diversos assuntos, isso tudo apenas para me sentir melhor e poder voltar ao meu quarto. Em algum instante, no passar dos anos, eu sabia que nossas vidas tomariam destinos opostos, mas eu custava a acreditar nessa realidade tão amargurada que apertava o coração. Madalena, não se importava muito com o fato de ela ir embora para um lugar diferente do meu, ela sempre parecia estar calma e serena e nunca dava muitas explicações e fora sempre concisa. Um adeus para ela não passaria de um até logo, talvez. Para mim, se distanciar da sua presença, seria uma dor profunda. Eu pensava que enlouqueceria com o menor tempo possível. O destino sempre rouba de mim as pessoas que mais gosto, me colocando em caminhos tempestuosos antes mesmo do alvorecer.

Hoje, estou imerso na profundeza dos meus pensamentos, e algumas verdades não são para se acreditar.

Guilherme Cesar Meneguci
Enviado por Guilherme Cesar Meneguci em 09/07/2012
Reeditado em 17/10/2012
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