Amor de giz (III PARTE): O Encontro

Colegas de trabalho sim, mas nunca trocaram duas palavras, só cumprimentos formais.

Ela era tímida demais, certinha demais, provavelmente frígida ou lésbica não assumida. Ficava curioso para saber como aquela patricinha fazia para controlar turmas de quinta série. Tinha um nomezinho esquisito e falava tão baixo que após a terceira tentativa, desistiu de procurar saber.

Blindada por amigos igualmente chatos, todos bem passadinhos, uniformemente perfumados e penteados. Parecia que sentiam nojo da Humanidade, chegavam juntos, diziam um solene bom dia e continuavam a conversar animadamente sobre trabalho, educação e projetos, ignorando o restante do grupo. Que criaturas aborrecidas, esnobes!

Ela era até apetitosa, mas para encarar..., só bêbado! Tudo aquilo era vergonha ou gênero? Hã! As mais acanhadas en-tre qua-tro pa-redes...!

Ele era rude, estilo cafajeste, amarrotado, cheirava a ônibus lotado, sempre suado, um jeans que vinha sozinho trabalhar. Falava alto, fazia perguntas indecentes e olhava a gente como se tivesse visão de raio X. Parecia tarado. Quem era louca de se trancar com aquele tipo dentro de um laboratório??? Coitada das alunas?! A sorte é que seus horários não coincidiam e se viam muito pouco.

Um certo dia, chega para as aulas da tarde e percebe-se que está diferente, pálida. Viera de uma consulta médica. Sentado na sala dos professores, atento, elogia seu perfume e diz uma frase de conforto. Ela sorri e percebe, pela primeira vez, que ele sabia ser amável.

Meses depois, o filho caçula, vítima de assalto, fratura a coluna. A escola e os colegas se revezam em solidariedade. Informada do fato, num impulso, abraça-o e beija-lhe a face. Ambos se desconsertam quando seus olhares se cruzam.

Um ano se passa e chega o dia do aniversário de casamento dos pais dela. Durante a recepção, seus colegas aparecem e ele está no grupo. Surpresa mas cicerone, ela senta-se e conversa por horas com o convidado, descobrindo-o interessante. Riem, cochicham, brindam, dançam. Prometem-se outro momento para retomar o papo.

Muitas semanas mais tarde, ele liga e marca o encontro: Um jantar preparado por ele na casa dela.

Naquele momento nada parecia fazer muito sentido em sua vida, demitida por queda de produtividade, com o financiamento do carro atrasado, amigos desaparecidos e dez quilos mais gorda, pensou: “Por que não?!”.

CONTINUA...

Arsenia Rodrigues
Enviado por Arsenia Rodrigues em 10/02/2007
Reeditado em 26/06/2008
Código do texto: T376998
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