O Segredo de Grayirá

No século XVIII habitavam os Kamakã em pequenas aldeias às margens do rio Pardo. A tribo ficou conhecida pela semelhança com a família Gê e por uma mulher que em 1938 era a única que restava na tribo, uma índia velha, de sangue puro e fibra. Jacinta Grayirá carregava consigo séculos de tradições orais. Um serviço de proteção dos índios no Sul da Bahia passou a cuidar daquela preciosa relíquia indígena. Ela sempre contava sobre uma estória com pica-paus, capivaras, preás, caratingas e flechas que transformaram dois irmãos em astro e satélite de toda humanidade.

Apocai e Puá viviam em uma floresta e costumavam caçar preás para se alimentarem. Puá sempre cuidava do seu irmão e o repreendia pelo péssimo comportamento que tinha. Ele fazia sempre o que queria e almejava ser rei para governar todas as estrelas. Um dia Apocai trouxe para a irmã preás, que tinham o sabor de carás cultivados, mas eles fugiram antes de serem comidos por Puá. Revoltado, Apocai correu até alcançá-los e matá-los com os dentes. Depois sentiu sede e bebeu toda a água do rio.

Puá ficou nervosa com a atitude do irmão e como ainda estava com fome comeu algumas caratingas. Sem perceber, os dois estavam matando animais destruindo a floresta. Eles acabaram sendo presos em uma caverna. Lá Apocai descobriu uma fórmula milagrosa e se transformou em um carrapato, fugiu e viveu vários anos como um inseto. Um dia sentiu falta da irmã e foi buscá-la, mas Puá não estava mais na caverna. O irmão enfurecido, roubou as flechas de todos os índios das tribos Kamakã. Na aldeia, os índios furiosos pediram a pica-paus que tinham nas penas o poder do fogo para atacar Apocai. Ele fez uma porção de lama para jogar no pássaro até que as chamas se apagassem. A tribo furiosa, rogou uma praga a Puá, ele começou a arder, foi isolado da Terra queimando e ganhou o nome de Manyuán, o sol dos povos indígenas.

E Piá? Onde foi parar a irmã do agora governador das estrelas? Ela também se encheu de fúria e foi roubar flechas em uma aldeia distante entre Minas e o Espírito Santo. Mas os Masakarí eram mais fortes e conseguiram atingi-la. Ela ficou marcada, mas as flechas platinadas lhe deram o brilho de um espelho. Ela foi condenada a ficar isolada junto com o seu irmão, mas precisava do calor do sol para curar suas feridas. Foi assim que Sol e Lua reinaram para sempre no céu e passaram a iluminar os dias e as noites dos povos indígenas que foram atacados por eles.

Brenda Marques Pena
Enviado por Brenda Marques Pena em 09/02/2005
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