Herói

Até uns dez anos, eu teria dito que sou um super-herói. Minto, até bem uns 5 anos.

Amadureci muito nos últimos 3 anos, principalmente no ultimo ano quando eu descobri.

Afinal, eu tenho as características. Vôo (um pouco mais rápido do que o meu correr, mas é um vôo), invisibilidade (na verdade lembra muito o filme do Predador. Será que alguém lá...), resistência razoável (coisas como ser acertado por um ônibus a toda e sair andando... ta, mancando!), uma regeneração esquisita (ei, a um mês tentei me matar me jogando em um forno industrial e eu sobrevivi, se bem que doeu muuuuito), poder de curar os outros, uma leitura de emoções fortes e pensamentos muito proeminentes.

Parece bastante espetacular, não? Material para uma lenda viva! Mudar o mundo com isso o que eu faço!

Mas esses últimos tempos me mostraram que eu sou tão inútil. O que uma pessoa sozinha pode fazer para parar os políticos corruptos, empresários inescrupulosos, todos os doentes do mundo, as guerras, a violência, etc... etc... etc...

Você acha que ser um herói é divertido? Que é um jogo? O herói é uma pessoa que fica a margem. O herói não faz mais parte do corpo da humanidade.

O herói anda no fio da navalha entro o céu e o inferno porque não se importa com sentimentalismos ou fantasmas da opinião pública.

O herói segue um padrão elevado de verdade e justiça.

Herói, é apenas um título deixado, em geral, para a posteridade.

Droga. Texto inspirado não? Bonito, filosófico, honrado! Pena que quem disse isso foi o Batman, na verdade o roteirista (agradeço ao senhor Bronwyn Carlton) e não eu.

Mas eu concordo. Pior, eu sei que tem um fundo de verdade nisto tudo e eu sei que eu não sou um herói. Sei que posso escrever o que quiser que, no máximo, vão pensar que é mais um louco delirando na internet.

Não se pode ver uma pessoa com poderes. Não se pode saber que elas existem.

Imagine você, que teve a infelicidade de ler meu texto, se o mundo tivesse pessoas com poderes. Engraçado, pois aí sim o mundo acabaria. Ninguém ficaria satisfeito. O “super” do outro é sempre melhor, ou pior, nunca vão existir pessoas com poderes em quantidade suficiente para satisfazer a ganância de uns, o medo dos outros e a curiosidade científica (dissecação, ergh).

Não. Realmente fico com minha vida diária. Fazendo meus milagres só quando não tenho escolha. Sabendo que a vida de incontáveis escorre pelas minhas mãos, simplesmente por minha ausência.

E se eu for o único? Eu acho que não. Eu já vi coisas esquisitas nesta vida. Mas e se eu for? Como poderei ajudar os bilhões que precisam de mim? Impossível. Depois além de tudo, a ingratidão por não ter salvo esta ou aquela vida. Como decidir qual vida tem prioridade? Como decidir o que é mais importante?

Voar pelo mundo salvando doentes terminais poder ser muito bonito de se imaginar, mas nunca haveria tempo de salvar todos que morrem a cada SEGUNDO.

Mesmo que eu não pudesse salvar pessoas (eu acredito que seja minha maior maldição), o resto que eu faço poderia causar problemas. O que é mais importante? Ajudar a capturar bandidos? Traficantes? Espionar terroristas?

Como fazer tudo?

Impossível.

Por isso meu desabafo aqui. Onde vai simplesmente parecer que eu sou mais um louco. Onde vai parecer mais uma história absurda e triste, que alguém inventou na internet!

Ignore.

Não se preocupe comigo, vai passar. Eu fico assim sempre que passo em um hospital. Eu fico assim quando calho de passar em um hospital e ver pessoas que se machucaram em briga de traficantes e que eu poderia ter evitado.

Eu não posso estar em todos os lugares.

Eu não pude fazer nada quando vi de perto atentados terroristas, que simplesmente calharam de acontecer do meu lado. Ou você acha que eu nunca usei o que eu sei para poder passear?

Agora não uso mais. Assim como uma foto velha, o que eu faço vai ficar esquecido em um álbum. Quem sabe um dia, daqui muitos anos, eu volte e veja minha foto, minha decisão, e pense se eu fiz o certo ou não.

Só quero dizer, caso eu esteja certo, e exista mais com habilidades (iguais as minhas ou não), cada pessoa é uma pessoa. Cada pessoa tem seus atos e deve conviver com eles. Eu vou conviver com os meus, mas você não deve pensar em mim, como seu fiador. Eu sei que sou fraco em desistir. Não posso suportar o peso do mundo em minhas costas e prefiro ser mais um a pesar nas costas dos outros.

Viva sua vida com base em suas decisões.

Se você não tem poderes. Seja feliz. Só peço que faça algo que eu nunca vou poder fazer. Viva sua vida ao máximo, explorando todos os dias, seu potencial. Ajude, faça seu papel até onde for humanamente possível. Se você chegar no fim do dia com a sensação de exaustão do dever cumprido, vai ser um herói melhor do que eu e eu vou saber que meu desabafo serviu a alguém.