Paixão no metrô

Era uma tarde ensolarada, bonita, estava no subsolo, na estação da sé,mas ainda assim era possível ver o brilho do sol no ambiente.

Esperava o trem vir, entretido com a movimentação das pessoas do outro lado da estação que pareciam tão apressadas andando e se esbarrando como formiguinhas apressadas em guardar suas comidas antes do inverno, e, naquele breve momento de transe, eu percebi que tinha alguém perto, bem próximo, dava até para sentir seu perfume, em uma olhadela para o lado a vi, era uma bela moça, longos cabelos escuros franjado, de pele clara e seus olhos eram escuros, pude ver o brilho deles antes que ela voltasse o olhar para o chão rapidamente como se estivesse disfarçando ou não quisesse que olhasse para ela, não entendi muito bem o que se passou na cabeça dela e tornei a olhar as pessoas do outro lado da estação...

O trem havia chegado e enquanto esperávamos a porta abrir para podermos entrar, pude ver novamente no reflexo do vidro a bela moça ela estava ao meu lado, voltei a olhar para ela e desta vez ela não desviou seu olhar para lugar algum, ela estava olhando para mim e ficamos ali nos olhando com olhares fixos um ao outro, até ela se moveu para dentro do trem e eu voltei de um outro mundo para qual viajei por alguns breves segundos que pareceram anos,séculos,milênios ou qualquer outra coisa que me fez parar no tempo.

Entrei no trem junto a ela. Eram cerca de três horas da tarde e não estava muito cheio como era normal de ser. Ela sentou em um assento, havia um assento disponível ao seu lado, mas me sentei ao lado de uma senhora do outro lado do trem, um pouco distante dela,mas podíamos manter contato visual, eu gostaria de ter sentado ao seu lado e lhe perguntado seu nome,seus gostos,seus sonhos,seus desejos,suas vontades,tudo que pudesse perguntar e tudo que quisesse saber,mas estava nervoso,algo me prendia me senti arrependido. Quando direcionei novamente meu olhar a ela,lá estava ela,linda,lia um livro,o sol batia em seus cabelos que brilhavam,seu charme me cativava cada vez mais,ela estava com o braço escorado no descanso da janela sua cabeça estava amparado por sua mão que tapava parte de sua boca,ela sorriu, estava entretida com a leitura o livro parecia ser bom,pois ela sorria bastante,um belo sorriso,belos lábios, realmente eu estava entorpecido com aquela moça me perdi novamente no tempo e não conseguia mais tirar os olhos dela,quando de repente, ela deu uma olhadela para mim,desviei o olhar ligeiramente,mas ela pode perceber que a olhava ,logo comecei a sentir uma sensação estranha,algo novo para mim, sei que não era nada emocional,pois não pensava em nada naquele momento a não ser nela,era algo físico, minhas mãos suavam ,meu estomago estava embrulhado e sentia os pelos do meu corpo arrepiado, estava em estado de choque como se estivesse feito algo muito diferente do comum,mas não, tinha sido apenas uma troca de olhares com uma desconhecida que nem se quer sabia o nome,mas sabia que com um simples olhar dela, sentia uma adrenalina no meu corpo fora do normal,me sentia desconfortável, de repente fiquei sem jeito, com vergonha, não sabia o que fazer.

Quando olhei novamente, ela ainda estava me olhando e sorriu timidamente, naquele momento eu poderia afirmar, com certeza , que ela era a mulher mais bonita do mundo,única,perfeita, a mais bela de todas a mais charmosa, e sorri espontaneamente,a beleza dela me fazia feliz,me perguntava como poderia haver um ser daquele nesse mundo tão feio.

Ela fechou o livro e guardou em sua bolsa, e tornou a olhar para mim, o meu nervosismo só crescia, o livro parecia ser tão importante para ela e de repente ela o deixa para trocar olhares comigo... Meu coração parecia mandar o corpo ir lá,sentar ao lado dela, mas meu cérebro não deixava,achava mais inteligente ficar ali admirando,afinal de contas um ser tão perfeito como aquele fora feito para outro ser perfeito e não para mim , um ser com mil e um defeitos.Mas meu coração parecia ter certeza do que queria,parecia querer sair pela boca e ir lá,mesmo sabendo que poderia se ferir depois,mas não, ele estava certo daquilo... Comecei a pensar em algo para falar para ela,mas nem a conhecia,não poderia saber como reagiria a um estranho ,talvez não gostasse... Pensava em mil coisas e ao mesmo tempo a olhava e vez ou outra ela me olhava também,junto com o olhar dela um sorrisinho no canto da boca meio tímido,ela parecia estar sentindo um pouco do que eu estava sentindo, ela ficava inquieta ,arrumava o cabelo toda hora,mordia os lábios e fingia procurar algo em sua bolsa,mas não conseguia me enganar com seus olhares... Sabia que ela gostava daquilo tudo, no fundo podia sentir que ela estava com a mesma sensação estranha que eu estava sentindo.

Algumas estações passaram e ela levantou, não acreditei naquilo, ela não poderia me deixar ali, no vazio. Tinhamos acabado de nos conhecermos, já estava imaginando o resto da minha vida ao teu lado, velhinho, lembrando-se deste momento. Mas não havia muito coisa para fazer, afinal de contas, a culpa era toda minha. Não tive coragem de ir lá, sentar-se ao teu lado e lhe dizer um “oi”.Me senti o ser mais tolo do mundo por isso.Perdi uma imensa oportunidade de ser feliz,de curtir a vida, de fazer cada segundo valer a pena, de amar, de fazer como nos comerciais de TV ,nas novelas, nos filmes do cinema... De fazer à vida valer a pena, pois dizem que o que vale na vida é o amor, o amor, tema de diversas discussões filosóficas, o amor, que faz com que ficamos idiotas, completos tolos, sem nenhum senso, sem nenhuma sabedoria...

Mas ela ainda estava ali, em pé e vez ou outra ainda olhava, eu queria ir lá pegar em seu braço e lhe dizer o quanto queria saber o seu nome, o quanto precisava dela, o quanto a queria, mas não era possível, minhas pernas perderam as forças parecia que meu corpo pesava uma tonelada e que estava colado com a melhor cola do planeta junto aquele assento. O trem já estava reduzindo sua velocidade... Ela coçou a cabeça, arrumou sua franja, passou a língua em seus lábios e numa ultima olhada nos fundos de meus olhos ela me deixou um sorriso, um belo sorriso, cativante, meio meigo meio sedutor, mas nada tímido. Ali pude ter a certeza que ela sentiu o mesmo que senti.

O trem enfim chegou à estação “praça da arvore”, as portas se abriram e assim ela foi embora. Até então, aqueles poucos minutos que passei perto dela, fora os melhores da minha vida, mas no momento que as portas se fecharam, tornaram-se os mais tristes de toda minha vida, os mais lastimáveis.

Uma melancolia tornou conta de mim,pensei que nunca mais a veria novamente, mas, de repente, por algum motivo as portas se abriram novamente, com rapidez, saltei para fora. Olhei para todos os lados em busca da bela moça com longos cabelos escuros franjados, vi um lance de escadas, era certo que ela estivesse passado por ali, fui pelo mesmo caminho, mas eram tantas pessoas,tantos cabelos longos e escuros...

Andando feito um louco atrás da bela moça, me dei conta do enorme erro que havia cometido, perdi ali a chance de, talvez, conhecer o amor da minha vida, a oportunidade de ser feliz e de ter um sentido para minha vida, mas não. Fiquei quieto e às vezes ainda me vejo pensando nela, numa estranha que troquei míseros olhares no metro e que me fez feliz por breves momentos, talvez devesse ter arriscado mais,ter feito daquela paixão momentânea algo mais sério,talvez devesse não ter deixado ela terminar algo que o acaso começou...

Talvez, devesse ter saído do ‘talvez’ e partido para uma atitude e me preocupasse menos e errado, um erro é um enorme aprendizado. Mas mesmo assim não deixei de aprender, muito pelo ao contrário, aprendi! Pude tirar uma enorme lição disso tudo, aprendi que quando menos esperamos aparece alguém em nossas vidas que nos fazem sorrir e nos fazem sentir bem, fazem nos sentirmos vivos! E que devemos viver nossas vidas e deixar de lado todo o medo e simplesmente viver, viver como se não houvesse outra oportunidade para ser feliz, pois tudo nessa vida é passageiro e existem certos momentos que não podemos deixar passar, devemos ter esses momentos especiais sempre conosco, pois são esses momentos que fazem com que a vida vale a pena, pois breves momentos resumem uma vida inteira... Viva!