A JOVEM BRUXA DO REINO LAREDO

“Por vezes já imaginei como seria se o mundo parasse. Mas eu não gostaria que o mundo parasse totalmente. Eu não iria parar e nem ela, pois eu a amo.”

A jovem bruxa Serena após esboçar seus pensamentos em seu caderno de magia, o fechou com lágrimas nos olhos. Apesar de ser uma bruxa, Serena não se enquadrava nos padrões de fantasias aos quais todas as bruxas são descritas em uma história. Seus cabelos eram negros e lisos, caindo-lhes sobre os ombros, sobrancelha bem feita, nariz empinado, lábios finos e delineados, pele morena e delicada e olhos castanhos escuros tão profundos, que atraia a atenção de todos os homens do reino Laredo, que sonhavam com ela em silêncio.

Mas a bruxa não era diferente somente na aparência, mas também em sua alma, em seu interior, em seu coração pulsava um amor incontável e forte por uma mulher, a bela e soberana rainha do reino de Laredo onde a mesma residia ao quais todos a chamavam de rainha Lunna.

Lunna era mais velha que jovem bruxa, tendo em vista que a mesma dominava todo o reino com o seu marido, o rei de nome Luiz, que não permitia de forma alguma bruxas, duendes, gnomos, fadas, unicórnios, elfos, ogros, magos ou qualquer outra criatura que pudesse contribuir para que a maldade se proliferasse no reino, pois qualquer um desses seres temidos iria ser queimado em fogueira viva, ardente que iria cozinhar a carne em brasa a cada segundo que passasse.

Mesmo sabendo do perigo que corria, Serena ás vezes tinha que ir ao centro do reino comprar coisas para realizar seus feitiços. A jovem morava no fim do reino, bem afastada junto com as demais criaturas que eram excluídas do povo. Residia em uma pequena caverna, onde tinha dois caldeirões, um para comer e outro para realizar suas magias. Era um local macabro, cheio de velas de diversas cores que a própria confeccionava com materiais encontrados na natureza, pedras preciosas, penas de pássaros tingidas por ela e a água do rio que todos julgavam ser encantado, pois quando colocava a mão na água e retirassem, milhares de minúsculos cristais vinham com a água. Tudo isso a jovem bruxa utilizava.

Apesar de amar com toda força do mundo a rainha, Serena nunca se atreveu a se aproximar dela. Tinha medo. Por isso a amava em absoluto silêncio.

A bruxa realizava inúmeros feitiços. Praticava feitiços contra os homens que tentavam tirar sua inocência a todo custo, cercando-a nos becos escuros do reino, bêbados por ficarem nos bares até muito tarde, tentavam-na agarrar e tocarem seus lábios podres e sujos nos delicados lábios da jovem moça, que fixava seus lindos olhos castanhos bem no fundo dos olhos daqueles homens horríveis e dos lábios macios da bruxa, procedia palavras que os amaldiçoavam. E no dia seguinte, o mesmo estava com os olhos arrancados e com a boca pútrida repleta de formigas canibais que devoravam suas carnes.

A jovem ficava o tempo todo em sua caverna pensando em sua amada rainha e sonhando com o dia em que tudo ao seu redor paralisasse menos Lunna, ao qual amava de todo o seu coração. Guardava seus lábios macios para tocarem os lábios perfeitos de sua sonhada rainha.

Apesar de ser uma bruxa que amaldiçoava os que tentavam lhe fazer mal, nunca havia feito nenhum feitiço para prejudicar o rei, a fim de tentar arrumar uma forma de se aproximar da rainha. A única magia que praticava era a de proteção.

Certa noite, enquanto conversava com as criaturas mágicas e preparava seus materiais para realizar uma magia, viu que lhe faltavam alguns apetrechos indispensáveis. Como estava muito tarde, não poderia vasculhar a natureza e pedir aos deuses guardiões da floresta para lhe ajudar a encontrar. Saiu da iluminação da caverna e colocou seus delicados pés na mata verde e mirou seus olhos castanhos para a imensidão do céu. A lua estava cheia e iluminava toda a extensão do reino, as estrelas brilhavam mais do que o normal.

A jovem esboçou um sorriso e adentrou a caverna novamente. Pegou sua capa negra, soltou os cabelos que despencaram em uma cascata negra brilhante sobre os ombros e tingiu os lábios de um vermelho vivido. Iria até o centro do reino comprar o que lhe faltava para sua magia. Pegou uma bolsa de pano e colocou uma galinha e alguns frutos, que trocaria pela mercadoria desejada. Montou em Kurt, seu unicórnio branco de olhos verdes- água e partiu para a cidade em silêncio.

O trote do unicórnio era garboso. Os dois conversavam em sussurros. Tinham medo de que pessoas ruins os escutassem. Estavam quase entrando no reino, e a bruxa puxou o capuz sobre seus cabelos, dificultando a visão de quem os visse.

O reino todo adormecia. Passou em frente ao castelo da rainha, que brilhava com suas paredes de ouro, sendo banhadas pela luz do luar. Toda vez que passava em frente ao castelo, o coração da jovem disparava e sentia o peito inflar-se de esperança. Desejava ver sua amada em uma das torres, sentindo a brisa refrescante da noite tocando-lhe a pele perfeita, mas nunca havia visto. Talvez fosse melhor assim.

Ela e o unicórnio Kurt adentraram um beco escuro, onde havia alguns bares e velas bem precárias iluminando o ambiente, dobrou a esquina do beco e parou em frente á uma loja humilde que também possuía uma iluminação a velas bem mortiças. Desceu do unicórnio e tocou suas mãos delicadas na porta de madeira velha. Segundos depois apareceu uma senhora e a convidou para entrar, mas a jovem recusou e disse que teria que ser rápida, pois teria que realizar um feitiço naquela noite ainda. Trocou a galinha e alguns frutos por algumas ervas e um pó mágico e subiu no seu amigo unicórnio novamente e partiu sendo seguida pelos olhos da velha, que acenava sorridente na porta da humilde loja. Ao virar a esquina do beco escuro novamente, deparou-se com vários homens bêbados, que regressavam do bar para suas casas. A jovem e o unicórnio calaram-se e Serena colocou o capuz novamente, mas não adiantou. Mesmo bêbados os rapazes viram quem era a moça solitária sobre o unicórnio

Quando pensava que já havia conseguido passar pelos homens, sentiu seu unicórnio parando de uma só vez. Fixou seus olhos castanhos acima dos ombros e viu que um homem gordo e de barba mal feita, com um cigarro de palha em sua boca, segurava a cauda do pobre animal que relinchava de dor. O homem sorria irônico e não agüentando a dor em sua cauda, o unicórnio empinou-se, fazendo com que a jovem bruxa viesse ao chão.

Já no chão, Serena escutou gargalhadas e o cheiro de bebida alcoólica forte proliferar o ar. Um deles a agarrou pela cintura e sorriu, mostrando a boca feia com alguns dentes. A jovem bruxa gritava, mas sabia que ninguém se atreveria a ajudá-la. Seu amigo unicórnio estava sendo judiado pelos outros caras e ela estava nas mãos de dois.

O homem tocou seus dedos grossos no pescoço da jovem e levou sua boca imunda aos lábios delicados da jovem, que se debatia. Havia guardado seus lábios macios, puros, inocentes, doces e saborosos para tocar os de sua amada rainha. Sentiu o ódio tocando-lhe o coração. Lágrimas inundarem os olhos e suas unhas longas cravarem a pele suja do homem, fazendo o sangue vivido saltar-lhes a veia. Com as mãos sujas de sangue o empurrou com toda a força odiavel contra a parede fétida do beco, fazendo-lhe cair nos barris de madeiras, de onde saíram grandes ratos.

Mirou seus olhos para o céu e gritou o mais alto que podia, rogando pragas e maldições aqueles homens e a todos do reino que ouviram suas suplicas, mas ninguém teve coragem de ajudá-la, porque era uma bruxa.

Os homens fugiram apavorados e com seus lábios borrados pelo toque da boca imunda do homem, montou em seu unicórnio e partiu chorando de volta a sua caverna.

Agora em seu coração rondava um ódio imortal por todos os homens do reino. Havia tirado a pureza de seus lábios sedutores à força e não havia sido com a amada Lunna. Ao chegar à caverna, cuidou de seu amigo, que sujo e machucado e preparou uma magia negra.

Dias depois os homens do beco foram encontrados mortos, com os lábios dilacerados, carecas e sem os olhos. As mulheres que estavam grávidas de meninos perderam seus bebês, os homens tornaram-se estéreis e fracos. O rei que agora estava tentando gerar um herdeiro com sua esposa Lunna, não estava conseguindo. Era um fracasso. Com a fraqueza se apossando dos homens eles adoeciam e ficavam impossibilitados de trabalharem no campo, o que gerou fome e inúmeras mortes no reino Laredo. Em pouco tempo vários homens começaram a morrer e não foi diferente com o rei. Deitado em sua cama, já doente, ordenou que os guardas sadios que sobraram do castelo procurassem a bruxa responsável por toda aquela desgraça e a queimassem viva, pois o mesmo desconfiava que tudo o que se ocorria era obra de bruxaria.

Após investigarem, uma velha de uma loja humilde, a mesma loja onde a bruxa Serena havia comprado coisas para seu feitiço, contou aos guardas tudo o que havia acontecido naquela noite e disse que escutou a jovem rogando-lhes pragas e maldições. Rapidamente os guardas montaram em seus cavalos e partiram para a caverna distante.

Serena estava meditando em sua caverna, quando a pequena fada a chamou, dizendo ter visto no inicio da colina, guardas do reino montados em cavalos. Duendes e gnomos também vieram avisar-lhes e falaram que os homens estavam furiosos. A morena não tinha escapatória e decidiu ficar a espreita dos homens.

Rapidamente os cavaleiros chegaram acompanhados de uma nuvem de poeira. Em cima de uma rocha, estava a bruxa sentada em vestes escuras. Os homens a pegaram-na com violência, amarram suas mãos para trás e amordaçaram-na e colocaram-na em uma carruagem revestida de ferro, que foi puxada por dois cavalos negros. As criaturas foram aprisionadas junto com a mesma.

À medida que iam adentrando o reino, os olhares das mulheres eram ruins diante da jovem bruxa. De desprezo pela mesma, de ódio por terem feito-as perderem suas crianças e seus maridos ficarem doentes. A ponte do castelo abaixou e entraram. Pela primeira vez depois de muito tempo, Serena estava realizando seu desejo, mas de uma forma desprezível.

Foi jogada ao calabouço junto com seus amigos mágicos para ficar a espera do que o rei iria fazer.

Minutos depois um guarda retornou e disse que o rei primeiro queria escutar o que ela havia feito. A fizeram subir as escadas frias de tijolos a chibatadas, até chegar a torre elevada do reino, onde estava sua amada rainha acompanhada do rei, que ainda fraco, conseguia permanecer sentado.

Os olhos castanhos da rainha penetraram os seus castanhos também. A jovem sorriu para a rainha, deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto sujo pelas mãos dos soldados do castelo. Olhou o rei com desprezo e em seguida foi colocada de frente as pessoas que povoavam o reino, que eram milhares, porém o número de mulheres era superior ao de homens

-Diga sua bruxa imunda! Por que amaldiçoou o reino? – o rei interrogou a moça que estava com as mãos amarradas, as roupas rasgadas, transformando-se em um vestido vulgar para a época, mostrando-lhe as coxas morenas e o colo do seio bem desenhado.

Serena deu um sorriso irônico e respondeu:

-Porque eu odeio homens! Eu odeio homens! É uma raça imunda e nojenta! Como ousaram tocar meus lábios sem minha permissão? – disse em choro.

-Por isso amaldiçoou todo o reino, sua bruxa suja? – o soldado disse encostando a ponta de aço de sua lança na pele delicada da moça, fazendo o sangue escorrer.

Serena gritava de dor. A rainha assistia a tudo temerosa. Era submissa ao marido, portanto não podia interferir na decisão do homem.

-Não foi só por isso. Foi por amor. – ela respondeu com seus joelhos encostados ao chão frio.

A multidão se fez surpresa, assim como os soldados, o rei e a rainha presentes. O soldado fincou mais fundo à ponta da lança na pele da jovem e a rainha cravava suas unhas em sua cadeira de ouro e mordia os lábios cheia de tensão. Ouvia-se mais outro grito horroroso da jovem de dor que percorria seu corpo moreno.

-Por amor? Você é uma bruxa. Bruxa imunda, suja. Trabalha para o Capeta. Bruxas imundas não amam. – soldado e o rei debocharam da jovem.

O publico gargalhou. A bruxa abaixou a cabeça e ainda ajoelhada, sentia a lança perfurando sua pele na altura dos ombros. Gritava.

Como se tivesse tomando força de seu interior pediu aos deuses forças para conseguir concretizar o seu desejo e forças para dizer o que estava preso em seu coração por anos. Ergueu a cabeça, ainda com a lança penetrada na ferida e virou- se em direção a rainha. Olhou-a nos olhos e disse:

-Eu amaldiçoei todos os homens desse reino, porque eu te amo, rainha Lunna. Sempre fui apaixonada por você. Meus lábios estavam sendo guardados para o dia em que a força da minha magia como bruxa se fortificasse, para realizar o meu feitiço. Eu guardei meus lábios pra você, rainha.

A jovem caiu sem forças no chão. Escutou as pessoas rindo e zombando da mesma, escutava palavras ameaçadoras contra a mesma. Desmaiou. Ao acordar estava novamente no calabouço frio e sujo do castelo. As velas iluminavam com fraqueza o local. Avistou seus amigos mágicos adormecidos e ela ferida, dolorida e suja naquele lugar.

Olhou para o inicio da escada e viu um guarda dormindo. Logo chegou outro e pareciam ter trocado de turno. A bruxa ficou encolhida em um canto observando o guarda, que suava. Provável que estava doente.

-Maldita! Amanha mesmo você será queimada na fogueira! – exclamou o guarda enquanto secava com um lenço as gotículas de suor.

A bruxa não se assustava com as ameaças dos homens. Sabia que era superior a eles e que sua maldição os deixavam furiosos, pois estavam dependentes de suas mulheres e impotentes na questão de gerar novas vidas.

-Max! O rei esta te convocando no leito dele. – outro guarda disse.

O soldado mirou seus olhos verdes na bruxa e subiu as escadas. Após alguns minutos, Serena escutou passos descendo a fria escada.

-Maldito! Seu escravo! Eu odeio todos vocês! Mesmo que me queimem, a minha maldição nunca vai acabar! Escutou seu soldado amaldiçoado?! –a jovem gritou com as mãos firmes na grade negra.

-Fale baixo.

Os olhos de Serena brilharam, seus lábios carnudos estremeceram-se diante da imagem que viu. Era sua amada rainha.

-Será que posso chegar perto de você? – Lunna perguntou segurando seu delicado vestido de seda.

A bruxa afirmou com a cabeça e esboçou um sorriso.

-Promete que não vai me machucar? – a rainha perguntou novamente incrédula.

-Eu prometo.

-Então solte a grade.

-Não precisa ter medo, Lunna. – Serena disse. –Eu nunca vou machucar você. Eu só odeio os homens.

A rainha se aproximou mais um pouco da grade e disse:

-Sinto muito pelo o que lhe fizeram hoje. Se eu puder fazer algo pra você...

Agarrando a grade com brutalidade, a bruxa disse:

-Você precisa me soltar. Vão me torturar amanha e em seguida me queimar. Precisa me ajudar! Por favor!

-Como vou fazer isso?

-Não sei. As chaves estão com os soldados. Um eu sei que esta no leito do rei. Só me tire daqui. – ela disse agachando no chão. – Minhas feridas doem, estou com fome, frio, sede.

-Mas e a maldição do reino?

-Mesmo que me queimem ou me soltem a maldição nunca vai acabar.

A rainha ajoelhou-se com seu vestido claro de seda, no chão sujo do calabouço, colocou suas delicadas mãos nas grades e disse:

-Antes do amanhecer. Antes de o primeiro raio de sol tocar nossa terra, você e as criaturas estarão a salvo.

A bruxa esboçou um sorriso suave em seu rosto sujo e a rainha se pôs de pé. Estava subindo as escadas, quando a jovem bruxa a chamou:

-Lunna!

Ela virou sua cabeça por trás dos ombros e Serena disse:

-Eu te amo!

A rainha sorriu e subiu as escadas. A jovem ficou encolhida em um canto esperando à hora para poder fugir daquele reino. Mas se fugisse, teria que abrir mão do amor da sua vida.

Fixou seus olhos pela pequena janela de grade do calabouço e viu que começava a amanhecer. O céu estava ficando acinzentado, as estrelas brilhavam cada vez menos e os animais já começavam a avisar que um novo dia iria começar. Nenhum soldado havia retornado para o calabouço. A cada momento que passava sentia medo. Sabia que alguma coisa estava acontecendo. Nervosa e com medo de ir para a fogueira, começou a sacudir a grade com fúria. Quando a noite se despedia da Terra, a jovem foi surpreendida pela presença da rainha.

-Você veio mesmo! – a bruxa disse sorrindo.

Lunna sorriu e com as chaves nas mãos aproximou-se das grades.

-Você tem que partir rápido daqui. Com muito custo consegui fazer com que os soldados adormecessem, meu marido está muito debilitado na cama, porém com um ódio terrível por você. Fuja o mais rápido e para o mais longe que puder.

O portão se abriu e bruxa saiu do calabouço.

-Terei que te deixar? -A rainha fixou seus olhos no chão e ficou cabisbaixa. -Responda!

Ergueu sua cabeça e segurou com firmeza as mãos sujas da bruxa jovem e disse:

-Não se preocupe. Eu vou ficar bem.

-Mas eu quero ver você. Não saberei viver longe de você, Lunna.

A rainha deu as costas para Serena e destrancou a jaula das outras criaturas encantadas.

-Vá rápido! Fuja!

Serena montou em Kurt, seu unicórnio e subiu as escadas, quando a rainha baixou a ponte, entregou-lhe um saquinho de pano.

-Abra somente quando sentir que está bem longe desse lugar. E não volte, pois eles vão querer matar todos vocês. Você principalmente.

Com os olhos marejados a bruxa interrogou:

-Você fez isso porque também me ama, não é?

Sem respostas partiu para fora do castelo. Os gnomos, fadas e duendes usaram suas mágicas para desaparecerem. Os elfos aglomeram-se no interior das rochas, os magos partiram em busca de outros reinos em outras dimensões. Haviam permanecido somente a jovem bruxa e seu amigo unicórnio.

Depois de cavalgarem muito, pararam em uma trilha no meio de uma floresta bem afastada. Serena estava cansada, com fome, sede e sentia dores por todo corpo. Seu amigo unicórnio também estava faminto por comida e água. A jovem desceu do lombo do animal e caminharam lado a lado até encontrarem um riacho, onde saciaram a sede. A jovem lavou as feridas provocadas pela lança em seu corpo e sentou-se na beira do riacho com o unicórnio para descansarem.

O sol já brilhava forte e sentia uma curiosidade imensa de saber o que se passava no reino. Queria saber o que as pessoas comentavam quem mais havia adoecido ou falecido, como estava sua amada, até que se lembrou do saquinho de pano que havia sido entregue em suas mãos antes de fugir.

Nele continha uma pedra azul marinho, lapidada em forma de coração. Apontou a pedra contra a água cristalina do riacho e viu as pessoas do reino indignadas com fato da bruxa e os animais terem fugido, enquanto os guardas dormiam. O rei Luiz estava furioso. Viu sua amada preocupada sentada na beira da cama do rei.

-É melhor partimos Serena. – unicórnio disse observando a face da bruxa, que agora estava límpida e pacífica. – Se nos encontrarem aqui, vão nos matarem. Estamos longe, porém não o bastante.

-Nós vamos para onde, Kurt? – a jovem interrogou enquanto seus olhos fixavam as rochas das cachoeiras.

-Vamos procurar outro reino. Deve haver algum outro local onde poderemos viver nossas vidas de novo.

-Só viverei minha vida de verdade ao lado da rainha. – falou apertando com força a pedra na mão.

-Se você voltar, eles te matam, Serena. É melhor irmos embora. – o unicórnio rebateu. – Acho que já descansamos o bastante.

Serena apesar de contrariada subiu no lombo do animal e partiram floresta adentro. O silêncio reinava entre a bruxa e o unicórnio. A jovem estava bastante debilitada. Suas feridas apesarem de estarem limpas, ainda ardiam em contato com o vento fresco da floresta. Passaram o resto do dia caminhando na floresta. Alimentaram-se de alguns frutos durante o trajeto, mas estavam famintos por um prato de comida.

-E então Serena? Nós vamos passar a noite aonde? – o unicórnio interrogou á bruxa, enquanto percebiam os últimos raios solares despedindo-se da Terra.

-Qualquer lugar onde possamos ficar seguros. – respondeu cansada.

Caminharam mais um tempo, e pararam em frente a uma caverna, quando a escuridão da noite se apossava da floresta.

-Acho melhor ficarmos por aqui.

A bruxa desceu do unicórnio e observou o lugar. Havia algumas velas, porém todas estavam apagadas, panos novos, porém tingidos a mão, algumas cuias.

-Não sei. Acho que habitam esse local. – ela disse desconfiada após examinar o local.

Os dois permaneceram em silêncio e se entreolharam.

-Tem alguém aí? – o unicórnio gritou, fazendo com que sua voz ecoasse por toda extensão da caverna.

O silêncio continuou a reinar. Serena esboçou um sorriso tranqüilo em seu belo rosto e cansados adentraram a caverna. Só queriam uma boa noite de sono e realizar uma refeição decente, pois estavam famintos.

-Sabe? Acho que as pessoas que habitavam aqui antes eram bruxos. – Serena disse ao Kurt, enquanto acendiam a fogueira.

-Talvez. Essas velas coloridas ao redor da caverna dizem muito.

Após conseguir acender o fogo, Serena alisou a crina do unicórnio com carinho e disse:

-Já que estamos com fome, terei que adentrar a floresta para caçar.

-Pode ser perigoso.

-Não se preocupe Kurt. – ela disse sorrindo ao animal. – Meditarei na companhia dos deuses da floresta. Eles irão me proteger.

Após dizer aquilo, a bruxa afastou-se da caverna em silêncio na tentativa de achar algum animal para comer. Traria algumas folhas e frutos para seu unicórnio.

Após meditar com o deus dos animais, encontrou um pequeno porco do mato que rondava o local. Agradeceu aos deuses pela sabedoria e paciência que lhe deram naquele momento e se colocou em posição de caça.

Silêncio absoluto e seus olhos castanhos fixados no animal, que seria seu jantar. Estava a pouco centímetros do pobre, quando uma flecha passou rápida atravessando a costela do pobre animal, que caiu ao chão urrando de dor.

-Mas o que foi isso? – interrogou a si mesma. – Quem está aí? – gritou em meio à floresta escura.

Duas tochas iluminaram o local, fazendo com Serena se assustasse. Deveria correr? E se fossem os soldados?

-Calma jovem! Não queremos assustá-la. – uma voz suave disse aproximando-se da bruxa.

Serena ainda estava desconfiada. Apertou a visão e concluiu que eram duas jovens moças.

-Não se preocupe. Sabemos que você é uma de nós. Você é uma bruxa. Os deuses disseram.

As duas moças caminharam próximas a Serena, que agora estava segurando firme em um tronco de árvore.

-Não vamos te machucar. Também somos bruxas. – uma das mulheres disse. – Me chamo Jade. E essa é minha amada Emilly.

-Venha conosco. Sabemos que está cansada. Já sabemos que você e seu unicórnio estão na caverna. – Emilly disse. – Estávamos à espreita de vocês o tempo todo.

Ainda tímida Serena falou em baixo tom:

-Como souberam que estávamos na caverna?

-Nossas pequenas fadas guardiãs vieram nos contar. – Emilly respondeu sorrindo.

-Que reino é esse?

-É o reino Genova. – Jade respondeu. –É um reino pacato, porém as bruxas e os seres mágicos não são aceitos nos povos, por isso vivemos afastadas nas florestas.

Serena sorriu. Lembrou-se do reino Laredo. Aliás, as meninas bruxas levavam a vida que ela sempre quis ter ao lado da rainha. Elas tinham um amor diferente pela outra, um amor puro e sincero. As histórias eram ao mesmo tempo tão iguais, mas também tão diferentes e únicas.

-E você? Como se chama? Pertence á qual reino?- Emilly perguntou enquanto aproximavam-se da caverna.

-Me chamo Serena e sou do reino Laredo.

-O que faz por essas bandas, Serena? – Jade perguntou.

-Fui expulsa do reino. Queriam me queimar viva. Fugi hoje pela manhã. Na verdade fui liberta pela rainha. A minha amada e bela rainha. – respondeu com os olhos brilhando. – Aliás, a vida de vocês retrata bastante a minha antiga vida em Laredo.

-Também não somos daqui. –Emilly disse. – Fomos expulsas do nosso antigo reino.

-Foram expulsas por amaldiçoarem a raça masculina? – Serena interrogou com um sorriso irônico em seu rosto delicado, recordando-se dos homens de seu reino doentes e mortos.

-Não. Não foi por isso. – Jade respondeu. – Fomos expulsas, pois não aceitaram o nosso amor.

-Na verdade meus pais não aceitaram que eu me apaixonasse por uma bruxa, outra mulher. Queriam que eu honrasse meu trono de princesa. Discordei, briguei e simplesmente fugi com minha amada. Passamos o dia estudando magia, criando feitiços e meditando. – Emilly contou sorridente a Serena, que colocava em sua mente, ela e Lunna realizando tudo o que as jovens bruxas fizeram para viver juntas.

Kurt logo de inicio teve uma afinidade grande com Emilly e Jade, que lhe saciaram a fome com frutos silvestres deliciosos e várias folhas. As três bruxas realizaram a refeição e após continuaram a conversar:

-Pretende ficar aqui no reino durante quanto tempo, Serena? – Emilly perguntou.

-Não sei. Talvez ao amanhecer eu e Kurt estejamos na estrada. Não temos direção, apenas estamos seguindo nossos corações e as indicações dos deuses.

-Se quiser pode ficar mais um tempo conosco. É perigoso saírem sozinhos, ainda mais agora que estão sendo perseguidos. – Jade disse.

Serena sorriu e agradeceu. Aceitou o convite. Ficaria ali por um tempo até se estabilizarem e até suas feridas se curarem e procuraria outro reino para viver com Kurt. Lembrou-se da pedra que sua amada havia lhe dado antes de partir. Sentiu desejo de ver e saber tudo o que estava ocorrendo no reino Laredo.

Jade e Emilly se preparavam para dormir. Kurt já estava adormecido em um canto confortável da caverna.

-Garotas, há algum riacho por aqui?

-No final da floresta, quase chegando ao inicio do reino há um pequeno riacho. Mas tome cuidado, Serena. Vários guardas rondam o local à noite para garantir que os bêbados não se afoguem. Se virem alguma moça solitária no meio da noite praticando magia, irão te condenar também.

A moça sorriu e saiu da caverna em direção ao riacho acompanhada de uma fada que iluminava o caminho. Escutou barulho de água batendo forte contra rochas e sorriu.

-Bem, acho melhor você ficar me vigiando de longe. Para fazer o que eu desejo preciso estar sozinha e concentrada. – Serena disse a fada.

A bruxa caminhou mais um pouco e sentiu seus pés morenos tocarem a terra úmida em volta do riacho. A lua iluminava a água, deixando-a prateada. O frescor da água tocava sua pele. Sentiu o abraço da brisa fresca contra seu corpo. Sorriu. Abriu o saquinho de pano e retirou sua pedra e mirou contra a água pensando em Lunna.

Ao mirar seus olhos castanhos na água, pode ver uma velha preparando algo em um caldeirão e entregando um frasco bem pequeno á um dos soldados do castelo. Viu alguns homens, inclusive o rei bebendo algo, viu sua amada rainha com uma mistura de preocupação e medo e logo depois sua visão cessou.

-O que será que aconteceu? Quem era aquela velha? O que os soldados e o rei beberam? Por que minha linda Lunna estava tão apreensiva? – interrogou a si mesma a beira do lago.

Começou a chorar. Como desejava retornar para buscar sua rainha e ser feliz, assim como Jade e Emilly eram. Guardou a pedra no saquinho novamente e subiu o riacho de encontro com a pequena fada que a esperava sentada num galho de árvore. Ao retornar para a caverna, estendeu um pano próximo a fogueira para se aquecer e dormiu cansada e com inúmeras interrogações remoendo sua mente.

Quando acordou, sentiu cheiro de ovos fritos. Kurt, Jade e Emilly estavam em volta de uma fogueira e o sol já penetrava a entrada da caverna.

-E então Serena? Descansou? – o unicórnio interrogou.

-Sim Kurt. – ela respondeu.

-E como foi sua meditação ontem? – Emilly perguntou a bruxa.

-Eu vi coisas muito confusas em Laredo. Sinto que vem coisas por aí. – respondeu séria se lembrando do que havia visto no lago na noite anterior.

-Não sabemos o seu nível de bruxaria, mas se quiser depois da refeição poderemos te ajudar. – Jade se ofereceu.

Serena sorriu e se juntou as garotas para realizar o desjejum. Depois acenderam velas ao redor da caverna, sentaram-se em círculo e deram as mãos.

-Concentre-se no que viu ontem, Serena. – Emily pediu.

A bruxa viu nitidamente tudo o que ocorreu ontem. Em um solavanco, Jade soltou as mãos das bruxas e disse:

-Serena você corre um grande perigo!

-O que houve Jade?

-A velha que você viu entregando um frasco para o soldado, é uma velha feiticeira, que preparou uma poção para livrar os homens do reino de seu feitiço. Como a poção é rara e pouca, somente alguns soldados e o rei sorveram do liquido mágico. Eles estão atrás de você. - Jade respondeu.

-E agora? E se eles me acharem? E se acharem vocês? E se acharem Kurt? – Serena gritou aflita.

-Calma Serena! Eles estão longe, mas por pouco tempo. – Emilly disse. – E eu vi outra coisa também.

A jovem bruxa mirou seus olhos castanhos em Emilly e o silêncio se fez, sendo quebrado pela voz da mesma.

-O que você viu?

-Há uma pessoa que te ama em silêncio absoluto, porém está sofrendo com tudo o que está acontecendo. Tem medo que te encontrem, mas não consegui ver o rosto dessa pessoa. Apenas a escutei chorando baixinho por você.

-Rainha Lunna? Será que é ela? – um sorriso iluminou o rosto da jovem. Só de pensar na possibilidade que a amada a amava em silêncio, seu coração se tranqüilizou.

-Eu não sei quem era Serena. – Emilly falou. – Porém sentir uma onda de amor tão grande, quando ela direcionava os pensamentos positivos dela á você.

Serena caiu ao chão. Ainda trajava seu vestido sujo e vulgar, que delineava seu corpo moreno. Suas feridas ainda estavam doloridas. O que iria fazer? Iria fugir? Teria que se esconder, pois sabia que os soldados iriam achá-la.

-Eu preciso me trocar. Eu preciso de vestimentas novas e suprimentos. Terei que fazer uma longa viagem. – Serena disse depois de um longo período em silêncio. – Também preciso de um caderno de magia e ervas.

A jovem bruxa foi ao riacho e se banhou. Depois do banho retornou para a caverna, onde as outras duas bruxas cuidaram de seu ferimento a base da magia e ervas curandeiras encontradas na natureza. Em seguida colocou em seu corpo um vestido negro, batendo-lhe nos joelhos, de manga comprida e transparente.

-Aonde você vai Serena?- Jade interrogou.

-Vou embora. Não quero que os soldados as encontrem.

-Vai para onde?- Emilly perguntou tensa.

-Para longe. Para onde o coração quiser me levar. Longe o bastante para acalmar o coração da pessoa que amo e que agora mais do que nunca sei que me ama também. – respondeu.

-Eu vou com você, Serena. – o unicórnio disse.

-Melhor não Kurt. É perigoso. Se te fizer algum mal, nunca vou me perdoar.

-É perigoso. Eu insisto. E eu vou. – o unicórnio disse em tom autoritário.

Serena permaneceu em silêncio. Amava o animal, e adorava a companhia do amigo, mas tinha medo de que algo acontecesse com o mesmo. Como Kurt era teimoso, não contrariou as palavras do amigo. Despediu-se das jovens bruxas, que lhe entregaram um saco de pano com alguns frutos e folhas, algumas pedras preciosas, uma garrafa de barro com água do riacho e um pequeno livro de magia com folhas brancas que Serena havia pedido.

Ao montar no unicórnio branco, as bruxas entregaram-lhe uma capa negra e a bruxa partiu em direção á lugar nenhum. Mais tarde quando encontrasse um riacho pelo caminho em meio à floresta, iria meditar para as amigas.

O sol já batia alto e a fome dominava tanto o unicórnio quanto a bruxa. Parou em frente á um pequeno rio, onde caia uma fina e fraca cascata de água. Estendeu uma relva com algumas folhas e frutos para o animal se alimentar e ficou pensativa a beira do riacho.

-Será que Lunna te ama mesmo? Será que o que a Emilly viu era real?- o unicórnio perguntou.

-Acho que sim, Kurt. Meu coração diz que a Lunna me ama, em silêncio, mas ama. Eu sei que nos amamos desde o dia em que nossos olhares se cruzaram na feira do reino. – Serena respondeu sorrindo, recordando-se da primeira vez que trocou olhares com a rainha. –Só que o maldito do rei Luiz percebeu o que se passava. Teve medo de perder o coração de Lunna e sua posição de nobre rei de Laredo por uma bruxa, e o pior, uma mulher e desde aquele dia proibiu que as bruxas se aproximassem do centro do reino e só podiam aparecer quando as trevas da noite caíssem. Doeu.

-Eu me lembro desse dia. Mas a rainha te protegeu desde o inicio.

-Como assim?

-Eu era aceito no castelo real. Vivia junto com os cavalos, apesar de ser mágico, o rei gostava de mim. Depois de irem a feira, ele chegou furioso, batendo a carruagem na ponte de entrada do castelo. Ordenou aos guardas que matassem as bruxas e todos os seres mágicos. Lunna ao escutar o que se passava, suplicou ao rei para que não fizesse aquilo. – o unicórnio disse sério. – O rei Luiz obviamente não concordou, mas Lunna chorava e insistia, como se algo precioso e que ela gostasse muito, estivesse entre as criaturas que o rei mandou matar. Após muitas suplicas da rainha, o rei permitiu que as criaturas vivessem no reino, porém afastadas e saírem na noite. E foi assim que nos conhecemos naquela floresta, Serena.

A jovem permaneceu em silêncio se lembrando do sorriso e do olhar que a rainha deu para a mesma na feira de Laredo. Aquele sorriso foi o mais belo e encantador que já viu. A troca de olhares fora tão profunda e intensa, que Serena jamais esqueceu.

-Kurt isso me deixa tão feliz. Agora será que ela fez isso por mim ou por você?

-Foi por você, Serena. – Kurt respondeu. –Eu também faço parte da magia e senti que Lunna suplicava era por uma pessoa, por uma mulher, e essa mulher era uma bruxa, que logo é você. A bruxa Serena.

A jovem deu um salto, assustando o unicórnio e disse:

-Então ela me ama, Kurt! Ela me ama! Ela me ama!

-Ao que tudo indica sim, Serena.

-Kurt, eu também estou sentindo isso. Na verdade sempre senti, mas agora esse amor esta mais forte. – ela disse pegando o saco de pano e o livro em branco que ganhara de Jade e Emilly. Pegou um galho seco bem fino e algumas tintas de alguns frutos para escrever algo em seu livro.

O fechou com os olhos castanhos brilhando, o guardou no saco e disse:

-Vamos Kurt! Precisamos voltar para o reino Laredo. Para minha magia se concretizar vou ter que ouvir dos lábios da rainha que a mesma me ama. – ela falou sorridente ao unicórnio.

-Você é maluca, Serena? Retornar para o reino? Eles vão nos matar.

-Mas preciso arriscar, preciso saber se a rainha me ama mesmo, só assim seremos felizes. E eu volto com ou sem você, Kurt.

O unicórnio ficou calado. Ficou pensando se iria arriscar a vida pela felicidade de sua bruxa amiga. Olhou para a ponta do riacho e avistou Serena caminhando eufórica em direção ao reino de Laredo.

-Serena! -a bruxa olhou para trás. – Eu vou com você!

Em um galope ligeiro o unicórnio estava próximo da moça, que subiu no mesmo e saíram cavalgando em direção ao reino de Laredo. Já estava à noite quando chegaram ao alto de uma montanha e avistaram o reino. Sentiu uma energia negativa, um ódio tão forte, que acabaram desmaiando no alto da colina, em meio ao relento frio tocando a pele de ambos.

-Acorde sua vadia suja!

Ainda zonza por conta do desmaio na colina, Serena abriu seus olhos. Tudo estava embaçado. Forçou os olhos mais algumas vezes e se viu na praça pública do reino de Laredo. Várias pessoas rodeavam a praça e a sua frente estava uma fogueira. A pobreza havia dominado o reino de Laredo em tão pouco tempo. Serena estava em um tronco de madeira, com cordas serrando seus pulsos, com os braços acima da cabeça, uma corda amarrada a sua cintura junto ao tronco e nos tornozelos.

-Onde está Kurt? – ela interrogou para si.

-Seu cavalinho com um chifre no meio da testa está preso logo abaixo de você. Será queimada depois de você, sua bruxa! – um soldado disse.

Rapidamente todos do reino começaram a chamá-la de bruxa em coro. Serena passeava com seus olhos castanhos em meio ao público a procura de Lunna.

-Silêncio! – o rei ordenou.

Rapidamente o silêncio abraçou os presentes na Praça de Laredo.

-Você não foi uma bruxa esperta, Serena. – rei disse. –Por que não fugiu? Por que retornou?

Serena fechou os olhos e pediu proteção aos deuses. Pediu sabedoria e sorte. Abriu os olhos e procurou a rainha novamente. Sem sucesso. Não havia aparecido.

-Eu fugi rei Luiz. Fui para bem longe, no reino de Genova para ser exata.

O rei gargalhou irônico. Serena sentia o calor ardente da fogueira a sua frente aquecer-lhes a pele.

-E por que voltou se estava tão longe?

Serena abaixou a cabeça novamente e fechou os olhos. Desejou mais do que qualquer coisa que sua amada estivesse presente para escutar o que iria falar. Abriu os olhos, respirou profundamente e respondeu:

-Porque eu senti que a sua nobre rainha, sua linda esposa me ama.

O rei ficou furioso. O público ficou surpreso e os soldados mais ainda. Serena sorriu, seus olhos brilhavam. Avistou no meio da multidão a sua rainha, a sua linda, seu sonho, seu grande e verdadeiro amor de nome Lunna, que caminhou até o palco, onde estavam os soldados, o rei, o unicórnio e a jovem bruxa Serena.

-Rainha Lunna, isso é verdade? Você ama essa bruxa imunda que amaldiçoou todo o nosso reino? Que nos deixou impossibilitados de termos o nosso herdeiro? Que está exterminando aos poucos os homens do reino Laredo? – o rei interrogou a mulher.

Todos permaneceram em silêncio escutando a chama ardente da fogueira, estalando os pedaços de madeira. Serena sorriu e fechou os olhos. Fez uma prece mentalmente aos deuses e concentrou todo o seu desejo no pedido que tanto sonhara e que horas antes, escreveu em seu livro de magia:

“Eu, Serena, filha dos deuses, peço e direciono todo o meu desejo e amor pela mulher da minha vida, Lunna, que o mundo todo paralisasse, menos nós duas e todos os seres que se amam. Que esse pedido se realize, a partir do momento que os deuses sentirem que amor dela por mim é forte, puro e verdadeiro.”

Lunna ficou cabisbaixa e logo em seguida o publico começou a gritar eufórico, pedindo que a bruxa Serena fosse jogada na fogueira. Os soldados ergueram o tronco e a bruxa fitou seus olhos com os da rainha.

-Fala! Responda Lunna! Diga que ama! Abra seu coração para a magia poder se concretizar! – Serena gritava com a chama ardente diante de seus olhos.

A jovem sentiu o calor do fogo se aproximando e aquecendo seu corpo, mas mesmo assim não desistiu do seu desejo.

-Parem!- a rainha exclamou.

Os olhos de Serena brilharam e o silêncio se fez.

-Eu amo a Serena. Eu sempre a amei em silêncio, desde o dia em que nos vimos pela primeira vez na feira do reino. Eu te amo Serena.

Tudo em volta de Serena e Lunna começou a girar ao som de harpas. Como que por encanto, a bruxa soltou-se das cordas e se aproximou da rainha, que sorria, agora com seus sentimentos expelidos do seu coração, não sabia ao certo o que estava acontecendo, mas estava feliz.

Serena pegou suas mãos delicadas e segurou as mãos pequenas e macias de Lunna e disse:

-Está vendo isso? É a magia, o desejo, o amor que sentimos uma pela outra, Lunna. Eu te amo e você me ama. Isso é o que importa.

-E o que está acontecendo?

-O mundo todo, junto com as pessoas que queriam o nosso mal, paralisou e estamos indo para outra dimensão, onde seremos felizes juntas.

Tudo girava e os olhos de ambas brilhavam. Serena tocou as mãos no rosto delicado de Lunna e tocou os lábios tão desejados da mesma. Como havia desejado aquele beijo. A abraçou com firmeza durante o beijo e quando abriram os olhos, estava uma floresta repleta de flores, criaturas mágicas, animais, outras bruxas que gostavam das duas mulheres e havia uma trilha ladrilhada em cascatas de ouro, que terminava em um lindo castelo.

-Está vendo aquele castelo ali? Lá nós duas seremos rainhas e governaremos o nosso próprio reino, onde o amor, a magia e a pureza reinara.

Deram as mãos e trocaram mais um beijo e foram felizes em outra dimensão para sempre.

#FIIIM

Marsha
Enviado por Marsha em 11/08/2012
Código do texto: T3825797
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.