A Pedra

Bastava anoitecer para uma avalanche de sentimentos invadir-lhe a mente.

Sentava-se na enorme "pedra" em frente à casa junto

ao portão.Dali vislumbrava as luzes pequenas,da cidadela.

A casa era simples circundada por uma enorme varanda.O homem velho para os seus sessenta e poucos anos,cabelos brancos,trazia no rosto as marcas do tempo,pele grossa enrugada.No entardecer calorento sentava-se ali naquela pedra enrolando o cigarro de palha,mãos calejadas meio trêmulas,fazia disso um ritual,passava a lingua e fechava.Esquecia-o no canto da boca;não se preocupava em acendêlo.Não era de muita conversa e vez por outra passava um conhecido que sentava ao seu lado,ele escutava apenas escutava preferia conversar com os seus pensamentos.

Ficava vislumbrando as densas nuvens que encobriam os últimos raios de sol transformando o céu em um matizado de extrema belaza em tons amarelados, alaranjados e quanto mais o sol ia se pondo mais cores iam surgindo,levando-o a dar asas a imaginação podendo escutar perfeitamente os acordes do Bolero de Ravel interpretado por algum tropentista solitário. Lentamente o sol parecia que ia sendo engolido pelas agúas mansas do Paraíba.

O dia dava lugar à noite que chegava vagarosamente sem pressa e como numa mágica entraria em cena outros personagens,outras vozes e outras luzes..

Os coaxar dos sapos,os zum zum zum dos grilos,dançavam os vagalumes e morcegos,piavam as corujas.Todos em busca da sobrevivência e dando continuidade à vida.

A pedra lhe servia de divã, sentado nela fazia sua

auto- análise tirava suas conclusões da vida que tivera e a deixou passar sem dela tirar nenhum proveito.

Algumas lágrimas teimavam em descer pels face.Que segredo ele trazia no peito?

Nunca o revelou a ninguém, mas com certeza a enorme "pedra" sabia .

Mas como as pedras não falam...

Aline Sierra
Enviado por Aline Sierra em 16/02/2007
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