O COLECIONADOR DE FLORES

Introdução

“No alto da colina de uma pequena cidade chamada Maravilhoso Crepúsculo, existiu um floricultor, cujo nome era Epaminondas. Ele ficou obcecado pelas rosas quando após causar e se arrepender de um assassinato teve que cumprir uma promessa, qual seria colecionar todas as espécies. Ninguém pôde ter o maior e mais belo roseiral quanto o dele, pois nele possuiu quase todas as rosas existentes”.

PARTE 1

Numa época que a eletricidade ainda não existia viveu Epaminondas. Filho de uma linda e meiga mulher, Dália, e do rigoroso Bartolomeu, a pequena criança, porém não conviveu muito com os pais, pois esses morreram em um acidente que houve no trabalho. Eles trabalhavam na feira de Maravilhoso Crepúsculo vendendo flores, foram os pioneiros com o negocio da floricultura na cidade, já que ninguém trabalha com o comércio. E surgindo ali uma novidade então começaram a cultivar varias espécies de flores, onde buscavam as sementes, plantava no espaçoso terreno, colhia e depois vendia rendendo alguns lucros ora na feira em forma de ramalhetes, ora na funerária como coroas para funerais, ora em buquês e decorações de casamento. Epaminondas ainda era recém-nascido quando o trágico acidente aconteceu, onde um trem a vapor descarrilou e em toda velocidade foi em direção a feira atingindo vendedores e fregueses. Alguns se machucaram muito, outros morreram. Entre os mortos jazia Dália e Bartolomeu. O menino de olhos claros então ficou aos cuidados de uma irmã mais velha que tomou a responsabilidade de criá-lo. E dela recebeu tanto amor que cada vez que crescia mais acreditava que era sua mãe de verdade. Entretanto de fato Adélia dizia ser, já que não contou a ele que ambos eram irmãos.

Adélia era semelhante a sua mãe e com as mesmas características, portanto também era bela. Com um corpo escultural, nunca tirava do pescoço um cordão de ouro – que havia ganhado de Dália dias antes da mesma falecer -, cujo pingente era um objeto esférico que escorria entre os seios redondos e bem definidos. Ela ainda tinha cabelos lisos e escuros que molduravam um rosto primoroso, composto por olhos grandes e azuis, nariz bem esculpido e lábios delineados.

A formosa mulher gostava tanto de crianças de modo que fazia querer ser mãe. Quando aos treze anos se casou com a principal intenção de providenciar um filho em sua vida, Adélia logo se divorciou devido à profunda depressão por descobrir que não podia engravidar. O sonho de ser mãe acabou se tornando pesadelo. E dias depois que desvendou ser estéril, Dália e Bartolomeu morreram herdando o menino Epaminondas a ela, a qual sozinha decidiu criar o irmão como se fosse o filho que desejava ter saido de seu ventre. E dando o maior amor e carinho que uma criança podia ter, foi assim que Adélia se livrou da depressão, fingindo ser a mãe biológica de Epaminondas. Aliás, não foi por acaso que o menino a idolatrava.

Aos oito anos o vistoso menino já era um floricultor, e na fazenda começou a cultivar diversas variedades de flores, tanto para sustentar a casa como fazia sua mãe - Adélia continuou o legado deixado pelos seus pais-, quanto para contemplar o amor incondicional que por ela sentia. Epaminondas tinha um roseiral especialmente para Adélia, onde plantava diversas variedades de rosas vermelhas para demonstrar o tamanho do seu amor pela mulher que, ao ver aquele gesto do menino ficava com a consciência pesada quando ele demonstrava daquela forma um afeto digno e verdadeiro para alguém tão hipócrita quanto ela. Por nunca ter dito a verdade.

O colecionador de flores tinha tanto ciúmes que não aceitava que Adélia tivesse um marido, já que acreditava que ela poderia ter mais filhos. Epaminondas queria ser filho único e desejava que o amor materno de sua mãe unisse apenas com o dele. Mas a mulher precisava de alguém para conviver a satisfazer seus desejos amorosos, e numa das vendas de coroas para a funerária conheceu Gregório - Um simpático homem responsável por construir os mais variados tipos de caixão, desde os pequenos para inocentes bebes, aos enormes capazes de couber duas pessoas, mas que serviam para corpos obesos -, que uma vez entrado na vida de Adélia, a história de Epaminondas se modificara para sempre.

O jovem floricultor não demonstrava o ciúme e a raiva que tinha por Gregório, e em meio a alguns anos fingiu que nada estava acontecendo diante daquele que fez sua mãe dividir o amor a dois. Embora a raiva falasse mais alto, Epaminondas tratava Gregório como se fosse seu pai, pois o bom sujeito realmente fazia jus como qual. Além disso, foi o trabalho dele como construtor de caixões para a funerária da cidade que fez o rendimento da família aumentar. Contudo, Adélia sabia a verdadeira ira que prevalecia dentro do menino, mas não fazia questão de tocar no assunto com receio de perder ambos que tanto amava.

A solução que fez Epaminondas aguentar todo aquele tempo à fúria da qual dominava seu ser, eram as rosas que cultivava, que além de comprovar ainda maior seu apego por Adélia, fazia ele se sentir mais especial que Gregório. Porém, foi quando completou quinze anos que o menino desabafou toda a raiva que sentia pelo homem, pois ele convencia Adélia a se casar. Não existia hora melhor que naquele momento para o jovem floricultor expressar a verdade de tudo que sentia por aquele que mais uma vez tentava conseguir domar o coração “ingênuo” de sua mãe. Amargamente tinha concordado no relacionamento entre os dois, mas jamais deixaria Adélia aceitar um pedido como aquele. No entanto, Epaminondas nada conseguiu fazer com que a impedisse. Ele se sentiu abandonado só de imaginar Adélia se casando e depois dando filhos a Gregório.

Foi no inicio da primavera que houve o matrimônio, estação que Adélia sempre adorava a temporada das flores. Mas no dia que ocorreu o casamento, ela estava em casa consertando o vestido de noiva a sós com Epaminondas – Gregório estava na igreja preparando a decoração -, quando teve uma grande discussão com ele, que em uma ultima ocasião tentava fazê-la desistir de se casar.

"A senhora vai mesmo se casar?" – dizia o menino já com lágrimas nos olhos.

"Não esta evidente?" - Retrucou concentrada no vestido.

"Mãe a senhora não pode fazer isso comigo."

"Epaminondas não vamos começar de novo com o mais do mesmo. Hoje é um dia muito especial para mim." - Confirmou a mulher.

"Então vai mesmo me abandonar." – Seus olhos azuis cintilavam conforme as lágrimas inundavam e escorria sobre seu rosto.

"Meu filho" – Adélia continuava com um certo aperto no peito ao ver a tristeza do menino -. "Quantas vezes já lhe disse que preciso de Gregório tanto quanto preciso de você. Precisa aceita-lo em sua vida!"– largou o vestido sobre a cadeira e se aproximou do menino.

"Saiba mulher que faz tempo que o aceitei. Aliás, não me importo em deixá-la se casar com Gregório, mesmo porque, de certo modo não é por causa dele que estou impedindo que se case" – disse Epaminondas pela primeira vez. - "Sei que ele é um bom sujeito"...

"Senão é Gregório então é quem?" - interrompeu curiosa.

"Aquele que pode vir a existir se a senhora se casar."

"Do que você esta falando menino?" – interrogou nervosa apertando a mão do floricultor.

"Será que não entende! Mãe, no começo de seu relacionamento com Gregório confesso que sentia muita raiva dele, pois não queria que ninguém ocupasse o lugar do meu pai" – Adélia ouvia atentamente como se não soubesse daquilo -. "Mas conforme o tempo foi passando" – continuou -, "descobri que cometi confusões de sentimento. E na verdade não era o lugar do papai que temia que alguém ocupasse, mas sim, o meu lugar como filho. Sendo assim, não é exatamente por Gregório que sinto toda essa ira dentro de mim. Mas por aquele que pode vir ao mundo se a senhora simplesmente se casar."

"Não é nada disso filho você é e sempre será meu"...

"Já entendi" - interrompeu nervoso sem que Adélia terminasse de falar-. "A senhora deseja ter um filho que não seja como eu que cresci sem pai. Quer ser casar pra formar uma família de verdade com pai, mãe e filhos, e me deixar de lado como se eu nunca tivesse existido. Não é mesmo?"

Adélia era bem compreensiva e respeitava a razão do seu filho não aceitar seu casamento, mas sem admitir aquilo que ele acabara de dizer, ela ficou com tanta raiva que não conseguiu se conter, onde finalmente disse toda a verdade que pesava em sua mente.

"Se você não sabe o que fala, feche sua maldita boca e não fale mais bobagem!" – irritou-se a mulher –. "Não é porque vou me casar que necessariamente vou ter filhos. Aliás, bem que eu queria, mas na verdade não posso, nunca pude e nunca vou ter. Deste modo, você não precisa se preocupar em ter irmãos, pois senão adotado você nunca vai ter um. "– falou de uma vez Adélia abaixando a cabeça.

"Quer dizer que exceto eu a senhora não pode ter mais filhos?" – alegrou-se o menino antes de ter certeza se havia ouvido direito.

Percebendo que não tinha entendido ao certo o que quis dizer. Adélia então explica de uma só vez.

"Epaminondas. Eu não disse que não posso ter mais filhos, mas sim, que nunca pude ter. Sou estéril.”

"O que você esta querendo me dizer mãe?" – o semblante do menino se transformava.

Bateu um certo arrependimento em Adélia ao ver Epaminondas se chocar a cada palavra que dizia, porém não podia voltar atrás, tinha que tocar pra frente o que havia começado.

"É isso mesmo menino. Estou querendo dizer que não é meu filho biológico. Somos filhos dos mesmos pais." – Hesitou – . "Você é meu irmão."

Naquele momento o menino saiu correndo de casa carregado com toda a verdade desvendada pela mulher como acreditava ser sua mãe. Mas era sangue de irmã que corria em suas veias. Após aquela estrondosa revelação que acabara de receber, Epaminondas de repente já não era mais a mesma pessoa.

Na tarde do casamento Adélia não tinha percebido a súbita mudança em Epaminondas, e com Gregório já trocava as alianças no altar da igreja de Maravilhoso Crepúsculo. O floricultor ficou revoltado contra ela, que durante todo aquele tempo fingiu ser a mãe que ele amou de forma intensamente. Que seu passado contado por ela não passava de simulações. O extenso amor que ele sentia por Adélia tinha invertido para tamanho ódio qual fez cometer uma grande tragédia.

Quando terminou a cerimônia Adélia não tinha visto mais o menino, porém mesmo assim junto com Gregório saiu da igreja logo de partida para a lua-de-mel. A sós eles foram de carruagem para um lugar longe da cidade, contudo, quando estavam no caminho para o lugar desejado, inesperadamente apareceu Epaminondas no meio da estrada. Gregório quem estava conduzindo a carroça, mas antes que a parasse e pusesse os pés no chão, ele foi surpreendido com uma paulada na cabeça. E com muito revolta de toda mentira que foi vitima, com o mesmo pedaço Epaminondas parou defronte Adélia, hesitou um momento ao ver o brilho dos olhos azuis da mulher pedindo por clemência, porém a indignação dele era mais forte e sem demora golpeou a cabeça dela, que sem a mínima defesa também caiu inerte sobre a estrada deserta. Posteriormente o jovem floricultor levou com a carroça os dois corpos desacordados até a fazenda. E ao chegar no roseiral tomado pelo ódio e vingança, inexperiente como coveiro fez uma cova e dentro de um grande caixão colocou e os enterrou ainda vivos. Logo após começou a chover, e foi assim sem piedade que Epaminondas aguardou Adélia e Gregório morrerem sufocados no meio do roseiral.

Na mesma noite ainda chovia e Epaminondas não estava conseguindo dormir devido às muitas descobertas e causas que havia acontecido naquele dia. E exatamente quando deitado em sua cama em meio aos barulhos de raios e trovões, de repente o menino leva um grande susto ao ver no cintilar de um relâmpago Adélia vestida toda de branco dentro de seu quarto, onde num piscar de olhos desaparece. O floricultor não soube definir se teve uma alucinação ou se era o fantasma de sua irmã que já o estava assombrando. Porém, mesmo assim não se arrependeu em tê-la matado, pois a mulher que tanto amava o tinha traído.

Não tinha mais razão para o floricultor cultivar rosas, já que tal objeto era somente para demonstrar seu amor por aquela que um dia já fingiu ser sua mãe.

Depois de passado três meses veio o arrependimento de Epaminondas com o ato monstruoso que tinha cometido. Quando ao rondar pelo roseiral enquanto regava as flores, notou que sobre a cova de Adélia e Gregório havia brotado uma rosa. Mais não uma rosa como as outras que tinha cultivado. Aquela era diferente, pois se tratava de uma rosa negra. O floricultor ficou tão comovido com aquela ocorrência que acreditou que o surgimento daquela espécie não tinha acontecido por acaso. Seria um aviso de Adélia clamando perdão por ter mentido ser sua mãe, e ao mesmo tempo dando uma chance para ele fazer algo a ser perdoado por tê-la matado. Logo se ajoelhou sobre a cova e diante da rosa perdoou sua irmã de todos os males que causou. No entanto, ele faltava a ser perdoado, e para ser era preciso fazer algo. Assim, já que a oportunidade dele ser desculpado veio como aviso em uma rosa negra, ele prometeu que se destinaria a trazer todas as espécies de rosas vermelhas para o roseiral. Pois alegou que a rosa negra simbolizava a separação, a tristeza, o ódio, e morte. E enquanto a rosa negra não se tornar vermelha como as outras, ele não teria o perdão de Adélia. Uma vez que a rosa vermelha simbolizava o amor.

A partir daquele dia, mesmo morta Epaminondas refez todo seu afeto por Adélia. E não teve mais olhos para enxergar outros amores.

PARTE 2

Mais belo e vermelho, o roseiral crescia conforme a rotina de colecionar flores crescia junto ao tempo. E após ter se passado quinze anos Epaminondas não era mais um menino, mas com a mesma esperança ele havia se tornado um homem deixado ser levado pela obsessão, que o dominava em sacrifício o fazendo percorrer o mundo em busca das espécies.

Epaminondas havia tomado o oficio de Gregório, e em casa passou a trabalhar no mesmo ateliê. Quando a funerária de Maravilhoso Crepúsculo não encomendava caixões para ele construir, ele aproveitava o tempo livre para viajar em lugares longe a achar as sementes que faltavam a serem plantadas. De porto em porto, o floricultor pegava grandes embarcações e navega por dias a fio aos cinco continentes da terra. Onde depois de rodar toda a America ainda atravessava África, Europa, Ásia e Oceania. Mas em todo lugar que percorria estava mais difícil de buscá-las, pois a cada semente que encontrava nas feiras e floriculturas, ele já tinha a mesma flor no seu roseiral. Diante daquela situação Epaminondas ficou confuso, já que não sabia identificar se já tinha colhido todas as rosas que existiam, ou se elas que estavam em uma coincidência extinção para ele.

As poucas espécies que talvez faltasse para o floricultor cumprir a promessa e receber seu perdão estava mais difícil de encontrarem do que as muitas que já havia cultivado, aliás, cansado de procurar as sementes que não conseguia encontrar, ele desejava cessar para sempre a caçada as flores e acreditar que todas que existiam já estavam intactas no seu bem-sucedido roseiral. No entanto, era algo que não podia fazer, pois para obter o perdão ele precisava cumprir a promessa de modo certo.

Epaminondas sabia que foi ele quem tinha criado a obsessão qual estava prejudicando como também só ele poderia acabá-la. Daquele modo, começou a colecionar espécies de borboletas, achando que assim a mania pelas rosas não o perturbaria mais. Contudo, não foi possível manipular a obsessão, já que era ela que o manipulava.

A obsessão pelas rosas estava o levando ao delírio, até que subitamente o passado lhe indicou uma idéia através da causa que deu origem ao seu sofrimento. A rosa negra. Depois de Epaminondas causar os homicídios de Adélia e Gregório, naturalmente a flor brotou sobre os corpos, e a comoção dele diante o fato o fez acreditar que seria um aviso de Adélia pedindo perdão e no mesmo momento dando uma oportunidade para ele fazer algo a ser perdoado. Mas só depois de passado quinze anos cumprindo a promessa, ele percebeu que a ocorrência daquela flor poderia ser nada mais que uma coincidência da natureza, e não uma declaração de sua irmã por meio dela. Talvez estivesse certo, porém já fora longe demais para acabar com algo que já havia começado há muito. Epaminondas não tinha mais nada a perder quando teve a frieza de planejar mortes de recém-casado, que sendo apenas outras vítimas, o floricultor pretendia causar a mesma tragédia semelhante à de Adélia e Gregório, para que assim como aconteceu com eles, sobre outros corpos acreditava poder nascer outras espécies de rosas. As quais ainda faltavam para completar o roseiral.

De tal maneira a cruel idéia se tornou real. Na fazenda Epaminondas começou a construir vários caixões do tipo para obesos, cada um com espaço suficiente para caber duas vitimas. E com tudo preparado ele tinha se tornado um serial killer, pois na cidade de Maravilhoso Crepúsculo começou a cometer em absoluto sigilo a novos assassinatos de recém-casados.

PARTE 3

Naquela época o sonho de maior virtude das mulheres era se casarem virgens, onde só após o casamento iniciava os momentos de amor. Entre elas viveu Rosário, uma simples, jovem e bela mulher que procurava o homem perfeito, o qual pudesse amar e por ele ser amada, para juntos realizarem o casamento que desde a infância imaginava acontecer. Rosário havia acabado de se mudar com sua família para Maravilhoso Crepúsculo. E embora fosse humilde ela queria um companheiro da mesma condição. A jovem mulher era dona de uma sedução automática, em que atraia todo tipo de homem da pequena cidade, dos mais pobres aos mais ricos. Porém, nenhum indivíduo fazia seu gosto. Exceto um. Venâncio seria o único que ela tinha se interessado. A simplicidade e o bom caráter seriam as qualidades fundamentais qual fez o qual fez o homem essencial que Rosário buscava em se casar.

Logo se tornaram amigos conhecendo melhor um ao outro, até ela descobrir que o aspecto humilde de Venâncio não era o que parecia ser. Ele seria o filho do prefeito da cidade, daquele modo sendo rico. Rosário não só ficou indignada com a descoberta, como também se indignou em não poder voltar o passado, pois ambos já estavam apaixonados. Ela não pretendia casar com alguém que possuísse bastante dinheiro, já que acreditava que o dinheiro quando demais não trazia felicidade alguma. Mas Venâncio tinha sido a pessoa ideal que procurava, foi quando abriu os olhos e enxergou o mais importante. O verdadeiro amor entre os dois.

Após e apenas um mês juntos já queriam romper o namoro. Não porque a relação não estava dando certa. Pelo ao contrário. Por estar indo tão bem, ele desejavam logo se tornarem marido e mulher. Assim, marcaram o casamento para acontecer no inicio da primavera.

As primeiras vítimas de Epaminondas seriam dois idosos que se casariam pela terceira vez por conta das bodas de ouro. Entretanto transpareceu nele um certo aperto no peito ao ter que interferir na vida daquele casal. Ele bem sabia, tinha que agir pela razão e nunca pela emoção. A razão era clara, sequestrá-los e matá-los. Mas naquele caso seu lado emocional falou mais alto, e com pena, poupou a vida dos simpáticos velhinhos.

As próximas vitimas de Epaminondas novamente não deram certo, porém não porque não queria. Mas uma vez que o casal eram dois indivíduos um tanto gordos, daquela forma não caberia dentro do mesmo caixão. O floricultor hesitou ao ver que nada estava ao seu favor. Seria um sinal pra não precisar tirar a vida de alguém? Pensou consigo. Faltou pouco pra desistir de tentar sequestrar novos casais se não fosse à vontade maior de ser perdoado. Logo continuou sua busca.

Depois de todo aquele hiato Epaminondas em fim consegue suas primeiras vitimas. Foram quatro casais, um sequestrado um dia após o outro. Ele secretamente se passava por condutor de noivos, onde após saírem da igreja ao invés de os levarem ate o lugar que passariam a lua-de-mel, o floricultor conduzia a carroça até certa distância da cidade. E quando chegava à estrada de chão longe da população, Epaminondas surpreendia os com pauladas na cabeça. E desmaiados eram levados ao roseiral vermelho.

A cidade que era uma verdadeira tranquilidade tinha se transformado pela primeira vez em um caos. Os moradores de Maravilhoso Crepúsculo ficaram perplexos com os mistérios e não se falavam em outra coisa a não ser os sumiços dos recém-casados, que por sinal parentes e amigos sabiam que os noivos desaparecidos não estavam nos lugares onde combinaram de passarem a lua-de-mel.

Inclusive Rosário e Venâncio, outros também que naquele período iriam se casar estavam apavorados com o mistério. E mesmo que naquela situação ninguém fosse casar o prefeito tinha impedido a igreja enquanto existiam as desaparição, e junto à delegacia local pediu busca de suspeitos e dos desaparecidos. Os quais não encontraram.

Durante três meses (o mesmo tempo em que viu a rosa negra sobre o corpo de Adélia), Epaminondas aguardou alguma flor nascer sobre os corpos dos quatro casais. Mas nem mesmo grama brotou ali. Portanto, sem querer acreditar que passou quinze anos da sua vida cumprindo algo desnecessário, estava começando a crer, que a flor que avistara sobre o caixão que estava enterrado o corpo de sua irmã, era apenas uma coincidência natural.

O colecionador de flores estava perdendo as esperanças quando resolveu operar uma ultima tentativa de vitimas, onde talvez a possibilidade maior dele alcançar o objetivo era apostar no homem e na mulher que casassem no inicio da primavera, ou seja, no mesmo dia do casamento de Adélia, a qual matou e deu origem à flor negra.

Sendo assim, devido à espera da estação das flores chegarem, durante alguns meses Epaminondas ficou sem causar assassinatos. E mesmo que a igreja estava impedida ele tinha certeza, que até atingir o dia desejado ela já estaria liberta para prosseguir os casamentos, afinal a cidade era conhecida por seus constantes matrimônios. No entanto, seu maior medo era de nenhum casal unir as alianças no dia 22 de Setembro.

Por razão de Epaminondas não causar mais assassinatos enquanto não chegava à primavera, fazia três meses que não havia mais casos de sumiços na cidade. Os moradores ficaram felizes por isso, e o prefeito decidiu desimpedir a igreja para que houvesse os matrimônios como de costume, pois também, os boatos foram que os quatro casais não tinham desaparecidos por acaso, eles eram amigos e fizeram acordo de juntos casarem em seguida atrás do outro, para que pudesse ter em segredos uma única lua-de-mel.

A maioria das pessoas de Maravilhoso Crepúsculo não acreditou no comentário, visto que os noivos estavam demorando pra chegarem, além do mais já fazia tempo que ninguém sabia noticias. No entanto, só bastou um homem e uma mulher se arriscarem em casar na igreja e depois de uma semana de lua-de-mel todos poderem vê-los chegando intactos e salvos, para a cidade crer que nada de ruim aconteceu entre os quatro casais de noivos supostamente desaparecidos. A partir daquele dia muitos outros também puderam sem medo se casar desfrutando com sucesso das mais perfeitas luas-de-mel.

PARTE 4

No começo da primavera foi à vez de Rosário e Venâncio se unirem matrimonialmente, e este dia tanto especial para eles quanto para Epaminondas tinha chegado.

O casamento ocorreu num belo dia de sol em que flores de toda parte começavam a desabrocharem, principalmente do maravilhoso roseiral de Epaminondas. Na igreja, o prefeito e parentes juntos aos amigos esperavam a noiva chegar, pois Venâncio o prometido dela no altar já permanecia. Assim que chegou de véu e grinalda saindo de uma carruagem, olhos se fascinaram com a beleza de Rosário, que realmente estava encantadora. E acompanhada com o seu pai ela subiu até o altar, que de encontro com seu esposo tinham iniciado e logo finalizado o casamento tão desejado. Até então o casamento mais badalado.

A cerimônia encerrou emocionando todos que estavam presentes, e do mesmo modo que estreava a estação das flores, também dava inicio a um novo casal de marido e mulher. Foi com muita felicidade que Rosário e seu esposo saíram da igreja para o momento íntimo da lua-de-mel, a ocasião que somente faltava para os dois completarem o verdadeiro amor.

A carruagem qual foram transportadosl foi conduzido pelo mesmo homem que trouxe Rosário para a igreja. Este sujeito era Epaminondas, que disfarçadamente já estava os levando para longe da cidade. Os recém-casados nem faziam ideia que suas vidas estavam próximas da ruína, foi quando no caminho suspeitaram que não estavam sendo carregados para o lugar certo. Porém infelizmente tinham desconfiado tarde demais, pois foi à hora exata que Epaminondas agiu. Ele os feriu a pancada na base de suas cabeças deixando desmaiados enquanto chegavam à fazenda.

Subitamente aquela tarde de sol tinha se transformado em tempo de chuva, e ao chegar com os corpos desmaiados no belo e enorme roseiral, Epaminondas imediatamente começou a cavar uma cova ao lado de Adélia e Gregório, sendo que posteriormente dentro do caixão Rosário e Venâncio estavam sepultados inconscientemente vivos. A chuva desmoronou logo após. E depois da pratica, somente restava o floricultor aguardar três meses para saber o resultado final da cruel experiência que havia causado.

Rosário e Venâncio acordaram do constante desmaio com fortes dores na cabeça, e assim que a consciência retornou neles, o desespero começou a dominá-los ao perceber que em um caixão estavam enterrados. Sem entender a finalidade daquela crueldade eles não se conformaram que o virtuoso amor deles terminaria assim, ainda mais naquele dia que tinham acabado de se casarem. No dia em que estavam prontos para terem filhos e construírem uma nova família.

Os recém-casados não podiam salvar suas vidas, e mesmo que sabiam que logo iam morrer, minimizaram o desespero e ficaram imaginando o futuro que poderiam formar. Mas eles eram capazes de ao menos salvar o amor, porém para que isso acontecesse teriam que primeiro concluí-lo. Sendo assim, apesar de não estarem em um local agradável e conveniente, juntos eles tiveram uma encantadora relação sexual. Ou seja, o contato qual faltava para completar o amor dos dois. Além do mais, ambos apaixonados não poderiam morrer sem antes o amor permanecer nos seus corpos e almas. O amor prevaleceu tão intensamente sobre Rosário e Venâncio que por alguns instantes os fez esquecerem que estavam dentro de um caixão enterrado vivos. Entretanto, após aquele momento acabar mais nada podia fazer, a não ser aguardarem a morte chegar.

Quase no fim da tarde ainda chovia, e certamente sobre o imenso lençol de nuvens cinza que cobria o azul do céu, o sol estava perto de se pôr. E depois de alguns minutos mantidos dentro do caixão, a falta de ar tinha chegado avisando que estava na hora de os casais partirem.

Epaminondas ainda não tinha o perdão de Adélia, mas mesmo assim resolveu que se nenhuma flor brotasse sobre os corpos de Rosário e Venâncio ou se brotasse uma que no roseiral já havia, seria porque todas as espécies que existiam ele teria colecionado, de modo que conseguiria seu perdão. Mas caso nascesse alguma que ainda não tinha, era porque nem todas as espécies ele possuía, o que de fato o fazia não ter cumprido a promessa e muito menos ter conseguido o perdão.

Logo depois da decisão que havia tomado, Epaminondas estava em sua casa recordando os maravilhosos momentos que teve com Adélia. E ao notar que naquele mesmo dia ela completava quinze anos que tinha morrido. Então nem que visse os ossos decidiu desenterrá-la. O floricultor queria relembrar profundamente como era a mulher que ele ofereceu e dela recebeu amor. Daquele modo, mesmo debaixo da chuva ele foi até a cova de sua irmã e após retirar a preciosa flor negra ainda plantada sobre terra em suas mãos, com uma pá, incessante começou a desenterrar. Contudo, ao abrir a tampa do caixão de imediato reconheceu os restos mortais de Gregório através das desgastadas roupas que usava no dia do casório. Mas para sua surpresa o inesperado tinha acontecido. O corpo de Adélia não estava ali.

A forte chuva desmoronava, e encharcado Epaminondas estava diante da cova surpreso tentando entender o porquê do corpo de sua irmã ter desaparecido. Cujo corpo ficava ao lado onde Rosário e Venâncio estava sepultado.

Quando já ofegam os últimos segundos de vida e não restava mais ar para eles sobreviverem, no extremo desespero de saírem do caixão descobriram que podiam mover a terra, que ao absorver a água da chuva tinha se transformado em lama de modo que desbarrancava e assim facilitava o empurro. Então, prestes a morrerem, Venâncio e Rosário se uniram com toda força para saírem vivos dali. Aliás, foi com muito esforço que ambos conseguiram empurrar a tampa do caixão até a superfície da terra. Mas apesar do mérito conseguido, apenas Rosário teve a chance de viver, pois Venâncio não conseguiu sair vivo, já que foi ele quem tinha feito mais forças e assim cansado mais, fazendo com que junto com a falta de ar antecipasse sua morte sem resistir à vida.

Rosário saiu do caixão, e imóvel sobre a terra ficou respirando desesperadamente o ar puro como se fosse à fotossíntese de uma flor que tinha acabado de brotar. E conforme a chuva caía, retirava toda a lama sobre ela, que feliz por ter escapado viva, ao mesmo tempo estava triste com o falecimento de seu marido. Questionando que ele morreu para salvá-la. No entanto, Rosário tinha certeza, Venâncio havia deixado uma semente em seu ventre.

Justamente naquele momento ainda tentando descobrir o motivo de Adélia ter desaparecido, Epaminondas olhou pro lado, e ao ver Rosário em pé sobre a terra o espanto veio à tona, onde aquela inesperada cena deu origem à verdade sobre o que de fato aconteceu com Adélia.

No dia que enterrou Adélia e Gregório ainda vivos, em seguida também começou a cair uma forte chuva, e a revolta dele foi tanto que dentro de sua casa aguardou eles morrerem sufocados. Porém o que Epaminondas acreditou ter acontecido, na verdade somente com Gregório aconteceu - assim como Venâncio, ele exatamente morreu sufocado-. No entanto, o que viu acontecer com Rosário, eram coincidências do que há quinze anos ocorreu com Adélia. Ou seja, graças à chuva e o esforço de seus maridos que morreram para salvá-las, as duas conseguiram sair vivas do caixão.

Epaminondas ficou chocado com a circunstância que jamais esperava acontecer, por fim entendendo que a ultima vez que viu Adélia tinha sido na noite que ela apareceu como fantasma e em seguida desapareceu. E antes de afirmar que a rosa negra então teria surgido por acaso, ele a arranca da terra molhada e nota que na raiz do caule estava preso um cordão de ouro, compreendendo então que a flor não era um aviso de Adélia, nem mesmo um evento natural. Mas após Adélia ter escapado do caixão, enterrou de volta o corpo de Gregório e num gesto de amor e carinho deixou o cordão de ouro como despedida do homem que tanto amara, sem saber que aquele pingente esférico, nada mais era que uma semente de flor, a qual brotou e se transformou na rosa negra.

O floricultor perdeu o chão por descobrir que passou quinze anos cumprindo uma promessa sem precisão. Mas já que não tinha matado Adélia, ao mesmo tempo tinha esperança de um dia poder revê-la. No entanto, já que ela havia conseguido escapar do caixão, Epaminondas ficou sem entender o porquê dela não ter o incriminado.

A chuva tinha cessado, e as nuvens logo se abriram deixando a mostra o “Maravilhoso Crepúsculo” do sol se pondo. E depois de se distrair com a grande descoberta a atenção de Epaminondas voltou-se para Rosário, qual sobre a lama não estava mais. Ela seria a única que poderia evidenciar os homicídios cometidos, por isso a mataria. Mas surpreso por descobrir o inesperado ele ficou sem ação, e ajoelhado sobre o chão não foi atrás procurar, pois achou que com a carroça ela já estava longe da fazenda e perto o suficiente da delegacia. Porém ele estava totalmente enganado, Rosário, uma rosa com seus espinhos fatais ainda encontrava-se no roseiral, e ao notar que Epaminondas observava fixamente em suas mãos a flor negra cujo caule pontiagudo estava voltado para o peito. Não teve outra. Com muita sede de vingança saiu detrás das rosas e aproveitando a imobilidade dele, sem hesitar fez justiça com as próprias mãos ao fincar o caule afiado contra o coração de Epaminondas.

O jorro foi inevitável quando ele ainda ajoelhado arrancou a flor encravada do seu peito e a jogou no chão. A dor foi tanta que fez com que o impulsionasse para frente ficando de quatro sobre a rosa negra. Que de preta se tornava vermelha conforme o sangue escorria sobre ela. A rosa que era negra, agora se camuflava no meio do roseiral vermelho. Seria enfim o perdão que tanto buscava? As mãos de Rosário também sangravam devido aos espinhos da flor, mas sem se importar com aquilo, ela não se intimidou em empurrar Epaminondas no mesmo caixão que o próprio desenterrou onde permaneciam os restos de Gregório. Impossibilitado, logo estava sepultado vivo. Além disso, não existia maneira melhor para ele morrer.

Quando acordou no caixão, desesperado estava sofrendo a mesma agonia que as pessoas que do mesmo modo matou. E já que tudo que fez não tinha servido da maneira pelo qual esperava, ele concluiu que além do sofrimento que estava passando, todos os outros sem necessidade que também passou - se sacrificar por uma promessa sem precisão -, foi um castigo que mereceu por ter cometido o mais inocente assassinato de Gregório qual deu origem aos demais casais incluindo o de Venâncio.

Epaminondas desejava rever Adélia para pedir perdão pelos atos que cometeu, e dizer que ela foi uma grande mãe apesar de na verdade ter sido sempre uma irmã. Mas já era tarde demais e era algo que ele não podia mais fazer, pois naquela noite não mais choveu, e sem chances de se salvar, sufocado o colecionador de flores então morreu. E morreu sem saber que da mesma maneira Rosário teve um filho de Venâncio, Adélia admiravelmente também tivera um fruto de Gregório. Aliás, assim como todas as flores geram seus frutos, as flores de Epaminondas também geraram.

“Logo depois do caso Adélia fugiu para uma cidade longe de Maravilhoso Crepúsculo, onde lá viveu até morrer aos 78 anos com seu filho Pedro, concebido por ela e por Gregório no momento que estavam enterrados. E já que Epaminondas enterrou Adélia, Adélia também enterrou em mente junto ao seu passado Epaminondas”.

“Adélia nunca incriminou Epaminondas porque sabia que foi por causa dela que ele causou a morte de Gregório, e mesmo que nada justificaria um assassinato, ela achou que não seria certo denunciar um crime causado por ele, mas de certa forma por culpa dela. Porém, a mulher nunca soube o que ainda estava por vir depois daquele episódio”.

FIM

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Depois de muito tempo sem postar nada no recanto, estou de volta com esse conto que há tempos não conseguia terminar. E no dia do meu aniversário 22/09/ (que por sinal é um dia decorrente no conto também) enfim consegui tal feito. E o maior presente que eu posso receber é vocês lerem, comentarem e sugerirem. Aliás, é também o início da primavera. O colecionador de Flores não deixa de ser uma pequena homenagem a esta estação maravilhosa.

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DAN WILL 22/09/12

Dan Will
Enviado por Dan Will em 22/09/2012
Reeditado em 28/09/2014
Código do texto: T3895828
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