À sua sombra

Em uma terra distante, havia um sábio que vivia rodeado por seus jovens discípulos o tempo todo, por ter um vasto conhecimento sobre tudo. Era um homem com muita experiência, cultura, e havia viajado quase todo o mundo. Os seus discípulos o adoravam, e sempre procuravam fazer tudo o que o mestre fazia, imitando seus movimentos, suas ideias, seus hábitos e tudo que era possível. Mas o velho sábio cultivava um costume que não agradava seus discípulos. De tempos em tempos, o velho sábio os abandonava à própria sorte, e ordenava que cada um tomasse seu próprio destino. O velho sábio subia as montanhas e passava um bom tempo em meio à natureza meditando, e sobrevivia somente do que a natureza lhe dava, Retornando alguns meses depois para iniciar seus ensinamentos novamente, e desta vez com novos discípulos.

Os discípulos não gostavam nem um pouco de serem dispensados pelo mestre, e saíam furiosos em busca de outros mestres, ou até mesmo em busca de autoconhecimento.

Muitos deles tornaram-se mestres em outros lugares, mas odiavam seu antigo mestre pelo que fez. Em um dia, um de seus discípulos percebendo tudo isso, resolveu perguntar ao mestre o porquê de tal atitude. O velho mestre lhe entregou um saco enorme de sementes de uma mesma árvore, e lhe pediu que separasse a melhor e a pior semente daquele saco. O jovem discípulo saiu com raiva pelo pedido que o velho sábio havia feito, sem entender qual era o significado daquele saco inútil de sementes, mesmo assim o fez.

No outro dia, o jovem chegou ao mestre e lhe entregou duas sementes, uma boa e outra ruim. O mestre pegou as sementes, chamou seus discípulos até um campo próximo a uma enorme e linda árvore, a qual deu as sementes, pediu que o jovem discípulo plantasse a semente boa na sombra daquela linda árvore, e a semente ruim bem longe. O jovem plantou as duas sementes, uma à sombra e outra distante da árvore, mesmo se perguntando qual seria a ligação das sementes com a sua pergunta. O mestre dispensou os discípulos e subiu em direção as montanhas, novamente os discípulos saíram furiosos, e o jovem com muita raiva do mestre resolveu por si mesmo buscar conhecimento.

Muito tempo se passou e o autoconhecimento lhe fez mestre no vilarejo onde vivia, era consultado por todos em relação a tudo, já que era o homem mais sábio de toda região. Em certo dia ele se lembrou do velho mestre e seus ensinamentos, resolveu então voltar até onde vivia o velho mestre para vê-lo. Chegando lá, encontrou o velho mestre na sombra de uma das duas árvores enormes que havia, Mas havia também uma árvore bem menor ao lado de uma das maiores, o homem percebeu que as sementes que plantou haviam tornado-se árvores, a semente à sombra tornou-se uma arvore pequena e sem vida, e a que ficava distante tornou-se enorme e imponente. Vendo isto o homem entendeu o que o sábio mestre queria dizer. Agradeceu então ao mestre pelos ensinamentos e por tudo que havia feito, e saiu pensando alto:

— Uma grande arvore não nasce à sombra de outra, mesmo sendo uma ótima semente, toda semente plantada a sombra de outra será sempre a menor, cada um precisa de seu espaço e seu tempo para crescer. Se meus discípulos me seguissem e vida toda, nenhum deles se tornaria um mestre um dia, por isso a paciência é uma virtude, pois se esperar a semente germinar e a árvore crescer, sempre colherá bons frutos.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 13/10/2012
Reeditado em 29/10/2012
Código do texto: T3930319
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