O preço da felicidade

Em um lindo vale rico em belezas naturais, cruzado por rios que fertilizam e banham todas as terras altamente produtivas daquele belo reino. Havia bem ao centro um lindo castelo, onde vivia um rei que buscou a vida toda pela felicidade, pura e simples felicidade. A pesar do vale ser muito rico e fértil, as pessoas passavam muitas necessidades, vivendo uma vida de pobreza e sofrimento. Em nome do que ele achava ser a felicidade, o rei monstro como era conhecido, tomava tudo o que os camponeses conseguiam produzir. Os impostos eram altos além do que eles podiam pagar, e depois que pagavam não lhes sobrava muita coisa, às vezes não era suficiente nem ao menos para comer. A fome entristecia a todos, a morte rondava pelas vielas fora do castelo, pessoas morrendo de fome. Jogadas na lama como animais descartados pela sofrida sociedade que não se aguentava mais em pé. Homens que assassinavam seus próprios amigos para lhes roubar um naco de pão para que pudessem alimentar sua família.

Só se via o maldito rei e seus belos soldados nos dias da cobrança de impostos, caso contrário via-se somente dentro dos muros do castelo.

Castelo este muito belo e rico por sinal, de uma riqueza invejada por muitos reis poderosos da época. Uma fartura de alimentos que muitas vezes estragavam e eram jogados para os porcos. Mesmo com toda esta riqueza o rei ainda não era feliz, achava que faltava alguma coisa que não sabia o que era. Por isto continuou a roubar a população que continuava fraca e com fome sem poder lutar. Em um dia o rei recebeu uma carta mandada por outro rei, um amigo de terras distantes. Nesta carta o amigo lhe contava como o seu reino era próspero, e como estava feliz com todas as coisas em sua bela vida. Aquelas palavras preocupavam o rei monstro, pois com tudo o que ele tinha, ainda não era feliz. Pensou ele então que seu amigo pudesse lhe contar o segredo de tal felicidade. O rei mandou então que aprontassem os cavalos. E uma caravana foi formada para que ele pudesse viajar até o reino de seu amigo. Durante a sua viagem, ainda em suas terras, porém já muito distante do castelo, todos já precisavam de água devido o calor elevado.

Então um dos seus soldados avistou uma casa em meio ao campo, com belos animais, uma linda plantação que rodeava a casa, uma horta e muita fartura. E toda aquela fartura preocupou o rei, pois todo o reino sofria com a fome. Então chamou o cobrador de impostos que viajava ao seu lado, e lhe indagou:

— O senhor cobrador por um acaso não deixou de passar por aqui. Deixou?

— Meu senhor! São muitas propriedades para que eu cobre sozinho, não houve tempo suficiente para que eu pudesse cobrá-los. — Respondeu o cobrador de impostos tremendo de medo da reação do maldito rei, devido a sua falha.

Antes que o cobrador pudesse falar mais qualquer coisa em sua defesa, o rei desceu do seu cavalo, desembainhou sua espada, e em um golpe certeiro atravessou a sua garganta, e com o apoio do pé, arrancou a espada jogando o corpo fora do caminho. O rei observou a reação do seu soldado mais frio e desprovido de sentimentos, o chamou até mais perto e lhe disse:

— Parabéns soldado! Você é o mais novo cobrador de impostos.

Chegando àquela simples casa, o rei se apresentou, e pediu que servissem para os soldados e os animais muita água e comida. Um homem veio então e serviu a todos com uma alegria invejável. Fazia tudo com uma felicidade raramente vista, sempre cantando e com um sorriso aberto no rosto. O rei observando isto achou um absurdo, pois a pesar da fartura de suas terras, não havia mais nada. Sua casa era extremamente simples, não havia luxo nem conforto algum, o homem vestia-se com trapos, e não tinha o mínimo de condições para tal felicidade. Com toda a sua riqueza e conforto, o rei ainda não era feliz, como este pobre camponês poderia ser.

— Como pode ser tão feliz vivendo aqui? — Perguntou o rei curioso.

— Ora meu senhor! Eu tenho tudo o que um homem pode querer como poderia não ser feliz?

O rei indignado pela felicidade do camponês pobre, enquanto ele rico e nobre continuava infeliz, mandou que prendessem o homem:

— Soldados prendam este homem, ele deve estar escondendo algo. Que irei descobrir.

Os soldados que além de respeito, mantinham certo medo do cruel e maluco rei, atenderam de pronto a sua ordem. Arrastaram o camponês até a carroça que os acompanhava na viagem, e amarraram-no, neste momento saiu de dentro daquela simples casa a mulher do camponês, que gritava desesperada para que soltassem seu marido, mas o rei não a ouvia, montou em seu belo cavalo e ordenou que voltassem para o castelo, pois adiaria a viagem. Porém quando deu a última olhada para trás, teve a imagem que mudaria toda a sua existência. Corria em direção ao seu cavalo, uma jovem de beleza estonteante, com cabelos longos e vermelhos, olhos de um verde penetrante, e uma pele tão lisa e macia quanto à do mais belo pêssego. O rei mais do que de pressa desceu de seu cavalo, foi até uma floreira a beira da janela, retirou uma flor, e esticou o braço a oferecendo para a bela jovem, que em um só golpe derrubou a flor ao chão, e respondeu ao rei mostrando sua indignação:

— Como pôde prender meu pai sem motivo algum, seu monstro arrogante, ganancioso... — Respondeu a jovem que continuou a falar. Mas o rei só conseguia ter olhos para sua beleza, e ouvidos para sua suave voz. Mas a jovem irritada empurrou o rei, virou as costas, e entrou chorando.

Desde então o rei não falou uma só palavra se quer durante toda a viagem. Todos estavam preocupados com a reação do rei, pois nunca em todo seu reinado ele havia sido ofendido daquela forma. No entanto a sua reação foi oposta da que esperavam. Chegando ao castelo os soldados desamarravam o camponês para leva-lo às masmorras, quando o rei lhes ordenou:

— Leve-o para um dos aposentos do castelo, ele passará a noite aqui, e amanhã quero que deem um cavalo e suprimentos para a viagem de volta. — O rei serviu um banquete ao camponês, porém retirou-se mais sedo, e nesta noite não houve festa, nem comemoração de nenhum tipo, foi uma noite como há muito não se via.

Na manhã seguinte, o homem se aprontava para a viagem de volta, mas antes de sair foi até o rei agradecê-lo pela bondade de soltá-lo, e após agradecer, saiu em direção à porta, mas o rei pediu que esperasse.

— Eu que deveria agradecê-lo, pois graças ao senhor eu pude entender o verdadeiro significado da felicidade, pude ver que estava buscando a felicidade nos lugares errados, e graças a sua filha pude ver onde procurar. Eu a amo. E gostaria de vê-la novamente, com a vossa permissão.

O homem deu um sorrido de felicidade e com muita satisfação lhe respondeu:

— Fico realmente feliz em ouvir isto meu rei, e posso lhe dizer que tem a minha permissão, porém depende dela querer vê-lo.

Nos dias seguintes da partida do camponês, a vida mudou para todos no pequeno vilarejo, o rei devolveu todos os impostos cobrados além do que deveria, a vida voltava a brotar nas ruas da outrora triste e faminta vila, hoje todos estavam felizes, porém o rei ainda pensava na jovem de cabelos vermelhos que mudou sua maneira de ser, e lhe fez ver a vida como ela realmente é, lhe mostrando a verdadeira felicidade, e o verdadeiro preço que se paga por ela. A vida continuava, tanto no castelo quanto no campo, onde uma jovem de cabelos rubros não tirava do pensamento certo rei que mudou graças a uma camponesa.

A cada notícia boa que chegava do castelo era motivo de alegria para aquela jovem, pois ela sabia que cada mudança boa era feita em seu nome. No fundo o rei não era uma má pessoa, só não sabia o verdadeiro preço da felicidade. Porém ela também sabia que ficar ao seu lado era impossível, pois ele era um rei e ela apenas uma camponesa, seria pedir demais ao destino.

Certo dia, a jovem escutou o trotar de um cavalo a chegar à frente de sua casa, e uma sensação a tomou lhe fazendo correr até o portão, com a esperança de ver o seu amor novamente, quando deu de frente com o belo e também jovem rei, se segurou ao máximo para não se jogar aos seus braços, mas não resistiram e se abraçaram. Sem dizer uma só palavra por alguns instantes, talvez os melhores de suas vidas. Ela notou que ele não usava nem sua coroa, nem muito menos qualquer brasão real. E sem que ela falasse ou perguntasse qualquer coisa, ele concordou balançando a cabeça dizendo:

— Sim, estou livre para ficar com você.

E agora saberia o verdadeiro preço que se paga para ser feliz. Saberia que o preço é diferente para cada um, e o que faz a felicidade de um, pode ser a ruína de outro. Mas todos temos algo em comum.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 23/10/2012
Código do texto: T3948426
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