O CAMINHÃO DE MELANCIAS

Dona Lola enviuvara a pouco e resolveu acompanhar o filho, Evaldo, na entrega de uma carga de melancia, em Bento, cidade

distante uns 300 kilometros da localidade onde moravam. Junto ia a filha caçula Vitória, pois esta com a partida do pai não se afastava da mãe.

Era cheia de lombas e curvas a estrada por onde subia o caminhão cheio de melancias. O motor rangia, parecendo reclamar da dificuldade que encontrava em subir a serra gaúcha. Os barrancos e peraus que ladeavam a estradinha assustavam os olhos cheios de curiosidade da garotinha. Na estrada em curvas, as melancias, literalmente, iam acomodando-se, à medida que a distância era percorrida.

Para a pequena vitória aquela era uma grande aventura, a primeira dos seus cinco aninhos, pois nunca havia saída de sua cidadezinha, nem da barra da saia da mãe. Estava encantada com tanta novidade. Passariam a noite em um hotelzinho, num prédio antigo e de madeira. Pela manhã, no corredor comprido, que parecia não ter fim, a menina sentia subir, pela escadinha em caracol, o cheiro do café novinho que seria servido, junto com pão caseiro e linguiça fervida.

Não havia muito movimento na cidadezinha, mas a Casa Comercial "Flor da Serra" tinha na parte de baixo, um grande magazine com uma vitrine repleta de lindos brinquedos, os quais saltavam aos olhinhos da Pequena Vitória, que saíra para um passeio com a mãe.

Enquanto isto Evaldo se dirigia ao "Atacado da Frutas" empresa onde entregaria a mercadoria. O caminhão ficara estacionado à frente, próximo ao local onde sua mãe passeava com a irmã.

Com a morte do marido, os recursos da familia passaram a ser

poucos, apenas os provenientes da colheita da pequena agricultura familiar. Desse modo as despesa da viagem deveriam ser controladas, sendo do conhecimento de todos, inclusive da caçula que qualquer gasto extra seria considerado superfluo. O que no entender da menina significava:"não pode pedir NADA!"

Que Vitória era inteligente não era novidade nem para a mãe nem para o Irmão. Porém ninguém desconfiava que a pequena tivesse

tino comercial. Mas qual a surpresa de ambos, quando a um descuido de Dona Lola, a mesma percebe que a menina afasta-se entrando loja a dentro, e na ponta dos pés alcança o balcão, onde a sorridente balconista do "Magazine Flor da Serra" houve a seguinte proposta: "a senhora troca aquela bonequinha loira lá da vitrine por uma melancia?"

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 07/11/2012
Reeditado em 07/11/2012
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