Quantas Chances Houver – Capitulo dois: A fuga

Aquele garotinho havia trazido meu ânimo de viver, pois tinha um por que em minha vida, daquele dia em diante comecei a me preocupar mais com o trabalho, parei de beber definitivamente, me divertia muito mais, parei de comer só porcarias e passei a me preocupar com o Benjamin, sua vida e sua alimentação. Passeávamos na praça, nos parques no fim de semana, durante a semana enquanto eu trabalhava, ele estudava com o padre, pois não tinha idade para entrar na escola e o padre era uma boa influencia para ele.

Para Benjamin, tudo aquilo era mais que um sonho, nunca em sua vida alguém o tratou com carinho amor ou qualquer compaixão que fosse. Apesar de pouco dinheiro, não faltava comida e não havia nada que ele precisa-se que eu não compraria. Sem que ele soubesse eu fui descobrindo tudo da sua curta vida, e seu triste passado, não entendia como uma pessoa podia fazer o que fez com uma criança tão pequena e indefesa. Fui descobrindo que o passado dele era mais complicado que eu havia pensado. Após ter estudado em jornais, cartórios, órgãos públicos, todos me ajudaram a descobrir a vida dos pais de Benjamin.

Ele não chegou a ter o que chamamos de família, nem mesmo antes de ser abandonado. A mãe dele, Catarina, morava com a mãe e o padrasto, que por sua vez, abusava sexualmente dela desde criança, o pai de Catarina morreu bêbado pelas ruas e bares da cidade antes dela fazer cinco anos, o padrasto era cruel e a maltratava muito, com quatorze anos fugiu de casa para escapar do padrasto. A sua mãe soube de tudo sempre, e nunca a ajudou por medo. Como não tinha para onde ir, acabou em uma casa de prostituição, ao menos teria um lugar para dormir, com dezesseis anos conheceu Rafael, um cliente da casa que acabou por gostar de Catarina. Passaram a se relacionar também fora do prostíbulo. Rafael era um garoto de classe alta, seu pai era dono de várias empresas, e sua mãe era uma médica muito bem sucedida, ele sempre ganhou de tudo, brinquedos caros, roupas de marca, relógios caros, motos esportivas, carros do ano, uma mesada bem gorda. Muitos garotos da idade dele já trabalhavam para se sustentar, mas Rafael não precisava de trabalho, pois seus pais o davam de tudo, menos atenção carinho e uma família de verdade, coisas que não se compra. Com quinze anos por más influencias começou a roubar e se envolver em brigas de gangues nas ruas ou em qualquer lugar, com dezessete foi preso pela polícia pela terceira vez, um ano mais tarde conheceu Catarina e começaram a se ver. Catarina devia muito dinheiro para a dona da casa e era praticamente uma escrava, Rafael não podia ajudar, pois nesta época estava sendo caçado por traficantes a quem devia horrores, em suas festas com os garotos da alta sociedade, rolava de tudo. Até se endividar na sua ultima festa onde destruiu a casa de seus pais e quase teve uma overdose. Foi expulso de casa quando descobriram toda a verdade.

Na tentativa de saldar sua dívida com o tráfico, juntou-se com alguns comparsas para roubar caixas eletrônicos. Em um assalto mal sucedido a polícia foi acionada, e um tiroteio começou. Vários carros de polícia cercaram o local, só se ouvia o “clac” “clac” das armas, a tensão cada vez maior, Rafael se sentiu acuado e com medo, vendo seus colegas de crime ser mortos um a um como patos em tempos de caça, e viu que só teria duas opções no momento, se entregar, coisa que arruinaria seu futuro por mais sujo que fosse, iria piorar muito. Ou então tentar a fuga, por mais maluco que parecesse, era uma chance de fugir e tentar uma vida nova, se não fosse morto. Em um ato de desespero entrou no carro que ele gostava tanto, preto brilhante, potente. Arrancou com o carro passando por uma chuva de balas e cantadas de pneus, e por um milagre ele escapou da polícia, batendo em duas viaturas paradas, atropelando alguns policiais, com vários tiros pelo carro todo, mas escapou, por enquanto. Aproveitou para pegar a Catarina e fugir antes que a polícia fosse atrás dele, mas Catarina não queria, pois estava grávida dele e estava prestes a ganhar aquele filho que toda vês que citado, Rafael torcia o nariz, o desprezando, dizendo que seria um atraso de vida ter esse filho. Pegou Catarina a força e colocou-a no carro com brutalidade e arrancou em direção ao interior do estado.

Após horas de estrada na escuridão, o sono começa a bater atrapalhando a atenção do volante, então Rafael resolve parar em um hotel de beira de estrada e passar a noite. Quando amanhece o sol batendo na janela do quarto, Rafael é acordado por gritos de dor de Catarina:

— O que está havendo? — Perguntou Rafael.

— Acho que vai nascer! — Gritou Catarina com medo.

— Aonde vou achar um hospital para te levar? — Perguntou nervoso.

— Não sei se vai dar tempo de ir até um hospital! —A bolsa rompeu!

Sem saber o que fazer, Rafael vai até Catarina tremendo de medo e acaba fazendo, sem querer, o parto de seu filho que até então estava bem, tudo havia corrido bem. Um pouco mais calmo Rafael se sentou na cama e por alguns minutos não se lembrou de ser um fugitivo da polícia, e pensou em como sua vida havia mudado em tão pouco tempo. Porém logo se lembrou de que teria que fugir, levantou-se e puxou Catarina pelo braço, pedindo que o acompanha-se, mas Catarina não estava em condições de sair daquele quarto, pois acabava de ter um filho, era loucura querer sair dali nesse momento, Rafael sem pensar puxou-a novamente e a colocou de pé ordenando que entrasse no carro, neste momento Catarina muito fraca desmaiou caindo e batendo a cabeça no chão fortemente, em um ato repugnante de desespero arrastou Catarina sangrando muito, colocou-a no carro, pegou o bebê e saiu logo depois de limpar o quarto. Alguns quilômetros depois, Catarina já não aguentava mais, havia perdido muito sangue. Vendo que Catarina morreria, sentiu medo e a necessidade de ter que fugir sozinho, Sabendo que a poucos quilômetros dali haveria uma cidade onde deixaria o bebê e Catarina abandonados à própria sorte, para continuar sua fuga até as fronteiras do Brasil. Nesse momento a polícia de todo o estado já sabia de sua fuga e estavam todos em alerta, e já enviavam reforço para região que sofria com poucas viaturas para as rondas na cidade, uma das viaturas recebeu um chamado do hotel onde Rafael passou a noite, então sabiam que estavam na cola de Rafael.

Quando entrou na cidade, logo avistou a praça com um belo riacho que a cortava, poucas pessoas andavam por ali, pensou que seria o local perfeito para deixar a criança e Catarina. Parou, desceu do carro, pegou o bebê e o levou até o banco da praça, o enrolou com uma manta e o deitou no banco, arrastou Catarina já desacordada até a praça, junto ao bebê, quanto ouviu as sirenes que apontavam ao longo da estrada prestes a chegar, entrou em seu carro novamente e saiu em alta velocidade, fazia curva depois de curva, para tentar ganhar tempo e fugir dos policiais, então em um cruzamento sem olhar ou se preocupar, cruzou em alta velocidade atropelando uma mulher e seu filho, sentiu o estrondo na lataria do carro, sentiu o solavanco, ouviu o barulho de estouro quando passou, o seu corpo se arrepiou todo, o cheiro de sangue tomou conta do carro, o desespero aumentava a cada centímetro, os carros da polícia cada vez mais perto, uma curva mais aberta, acelerou o carro e se perdeu, se jogando em uma arvore, dobrando o carro ao meio e morrendo despedaçado como um animal atropelado. Então este foi o fim da família de Benjamim, que foi criado no orfanato até o dia em que, eu Dimas o encontrei.

Não foi fácil descobrir que o pai de benjamim era o motorista que havia atropelado minha família, foi uma surpresa pra mim, como o destino pregava peças, e como tudo estava ligado. Mas a esta altura, o ódio que sentia nem se comparava com o amor que eu sentia pelo garoto, que nesse momento se tornava meu mais novo filho.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 14/11/2012
Código do texto: T3985718
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