Quantas Chances Houver - Capítulo três: O susto

Um ano se passou desde o dia em que Benjamin veio morar comigo, agora ele já está com seis anos, me trata como pai, é muito inteligente, e está louco para começar a ir à escola. Nesse tempo fizemos muitas coisas, fomos muito felizes, foi o melhor ano da minha vida desde a morte da minha esposa, Viajamos para vários lugares, o ensinei a pescar, está aprendendo a andar de bicicleta, aprendeu a ler e escrever e estamos nos preparando para viajar novamente, estou o levando para conhecer o cinema, e aproveitarei para dar entrada na documentação de adoção, quero adotar Benjamin dentro dos trâmites da lei. Comprei um novo carro para eventuais emergências e acabou por servir muito bem, vamos viajar com ele, depois do trauma acho que estou mesmo recuperado.

Dias antes de viajarmos recebi uma visita inesperada, ouvi as batidas no portão, abri a porta e lá estava um agente do conselho tutelar, dizendo receber uma denúncia de que eu estava com uma criança do orfanato sem autorização. Tentei negar, mas era inútil, estavam levando minha única chance de viver, estavam levando o garoto. Acompanhei o agente até o orfanato, para tentar contornar a situação, porém seria difícil, então perguntei o que poderia ser feito, e o agente me respondeu:

—vai ser difícil sem a ajuda de um bom advogado e de muita paciência.

Saí de lá novamente destruído, pensando no que fazer, como poderia conseguir benjamim de volta. Fui até a igreja pedir conselhos ao padre.

— Então padre, o que posso fazer?

— Conheço um bom advogado, e tenho certeza que se eu pedir, ele vai te ajudar. —Vá para casa e descanse, e amanhã me procure que lhe apresentarei ao advogado.

Passei a noite olhando para as fotos de Benjamim, e pensando em que fazer para trazer o garoto de volta, ele era tudo para mim. Pensava como seria tratado lá dentro, e como ele estaria sentindo minha falta, já que para tudo ele dependia de mim e eu o mimava o quanto podia. No outro dia fui até a igreja falar com o Padre Valentino:

—Então Padre, falou com o advogado?

—Sim!— Ele vai assumir seu caso, prepare os seus documentos e o encontre aqui na igreja, pois ele vai dar entrada no pedido de adoção, porém ele já adiantou que será um processo demorado e doloroso.

—Enfrentarei qualquer coisa para recuperar minha única família.

Voltei rapidamente para casa e revirei todo meu escritório atrás de todos os documentos necessários, ajuntei tudo em uma pasta e voltei à igreja, e lá estava o Dr. Martins, o advogado e amigo do Padre.

Dr. Martins quando me viu logo abriu um sorriso simpático típico de um bom vendedor, em seu terno azul escuro, cabelos penteados como se fosse lambido por uma vaca, um óculos quadrado, e uma caneta brilhante no bolso. Cumprimentou-me, e batendo em meu ombro me perguntou:

— Então, pronto para começar?

— Sim! Respondi sem muito floreio.

Com o rosto franzido de preocupação, entreguei a pasta a ele e perguntei:

—quanto tempo vai levar para resolver tudo?

—Fique Calmo garoto! Respondeu sorrindo.

—Vamos analisar a situação e entrar com o pedido de adoção, logo após, terá que atender as exigências feitas por eles, e lembre-se, não importa quanto dinheiro você tenha, o que importa é a vida e a educação que poderá oferecer ao garoto!

Depois de dar entrada na documentação, começaram as visitas da assistente social, psicólogos, e etc.. Meses se passaram e a angústia só aumentava. Eles revistaram minha vida, minha casa, meus pensamentos, eu já não aguentava mais fazer tudo pensando na assistente social e no que ela iria achar de mim. Durante este tempo eu fazia visitas frequentes ao orfanato para ver Benjamim, e saía de lá pior do que entrava, pensando naqueles olhos tristes me perguntando:

— Pai, por que não posso voltar pra casa com você? Estou com saudades.

Sempre saía uma desculpa esfarrapada, que nem ele acreditava, mas, o que eu poderia falar? Se nem falar eu conseguia, com os olhos cheios d’água, a voz me fugia, e o que me sobrava era disfarçar para que não notasse e engolir o choro, tudo era motivo onde arrumar mais forças para lutar. Não entendia por que os avós de Benjamim o negaram, e por que eu um estranho se preocupava mais com o garoto de que eles.

No meu tempo livre preparei um quarto para ele, arrumei toda a casa para a chegada dele, brinquedos, roupas, até desenho nas paredes do seu quarto eu coloquei. Nem acreditei como um homem tão desprovido de emoções poderia mudar tanto por uma criança, porém, não sabia se era pela criança ou pela segunda chance que a vida me dava. Algum tempo depois, recebi a visita da assistente social me dizendo que meu cadastro havia sido aprovado, e que eu deveria comparecer em certo endereço para assinar os termos de adoção.

Depois de assinar todos os papéis possíveis, me pediram uma ultima coisa, porém, não menos importante, que eu levasse Benjamim a um médico e fizesse todos os exames necessários.

Em fim fui busca-lo no orfanato e desta vez não precisava de desculpas, pois hoje eu o levaria para casa. Nunca em minha vida eu vi um sorriso tão espontâneo e verdadeiro quanto o de Benjamim naquela hora. No mesmo dia fizemos os exames pedidos e fomos curtir o resto do dia, o levei ao parque, ao cinema que havia lhe prometido há tanto tempo, comprei tudo o que ele me pediu e fomos para casa.

Foram muitos dias felizes, coisa que nem eu, nem o garoto tínhamos há muito tempo, a vida realmente voltava ao normal, Benjamim estava muito saudável e fazia muita bagunça. O Matriculei em uma escola e todos os dias ele levantava animado para começar a estudar, e dizia que seria escritor como eu, ele era meu orgulho.

Henrique Serafini
Enviado por Henrique Serafini em 30/11/2012
Código do texto: T4012902
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