Mais uma vitima

A noite anterior não havia sido uma das melhores para Clarisse, os pais alcoólatras entraram em guerra mais uma vez e apesar de já ter se tornado um habito a garota ainda se chocava ao ver os dois em discussões calorosas, sabia que no final sobraria para ela, seria apontada como um fardo, seria acusada de algo que não teve culpa: o fim de um relacionamento que talvez nunca tenha existido e então mais uma vez subiria ao quarto e se trancaria em seu mundo, abraçaria o travesseiro e em seguida descontaria em si tudo o que havia acontecido. E realmente foi desta forma que aconteceu e que vinha acontecendo há muito tempo.

O dia amanheceu e mais uma vez Clarisse precisou esconder as marcas, marcas que o desespero, a incompreensão e a dor a fizeram, Foram necessários mais do que apenas uma manga comprida para esconder o sofrimento, precisou estampar no rosto um sorriso que não lhe pertencia e preencher o olhar vazio com uma alegria que nunca havia sequer sentido.

Ao chegar à escola Clarisse pode sentir mais uma vez a angustia desta vez um pouco pior do que a do dia anterior: Adolescentes também sabem ser cruéis. Como se não lhe bastasse toda a tortura em casa.

Clarisse não tinha muitos amigos, vivia reclusa em seu próprio mundo não só em casa, mas também na escola. Escola? O colégio alpha se parecia mais com um inferno pelo menos era assim que ela o via.

O colégio alpha era formado por um seleto e especializado grupo de professores, Com salas de aulas bem equipadas, fazia jus ao premio de melhor colégio do estado, só tinha um problema, um diretor omisso perante aos problemas dentro e fora de classe, o colégio tinha grandes índices de bulling; Clarisse era só mais uma vitima entre as estatísticas. Ninguém faria nada pra mudar isto.

O dia já havia começado da pior maneira, ao chegar ao inferno Clarisse pode notar que um de seus agressores estava lá e isto era desanimador. Os agressores costumavam andar em grupos talvez só assim se sentissem fortes o suficiente para atacar de maneira tão cruel pessoas tão aparentemente fracas.

Clarisse evitou a troca de olhares ao passar pelo corredor cheio deles, abaixou a cabeça e seguiu seu caminho, com medo de ser atacada mais uma vez sem motivos. Mas desta vez a deixaram em paz ao menos por um tempo.

Tudo havia começado com os insultos, mas com o tempo as coisas foram ficando mais graves, passando dos limites. O que para uns era apenas uma maneira de se sentir melhor, de se divertir para Clarisse, era a amostra grátis da morte afinal cada brincadeira sem graça se tornava mais um motivo para desistir do que pra ela já havia se tornado um tormento.

Clarisse não era a garota mais bonita da classe, porém obtivera com êxito o posto de aluna exemplar, carregava boas notas e também bom comportamento dentro e fora da sala de aula. Era uma típica nerd, tinha uma baixa estatura, sardas, era um tanto rechonchuda, com os cabelos negros lindos que viviam amarrados em um coque.

Clarisse era atraente e incrivelmente inteligente talvez, este fosse o grande motivo para tanta zombaria afinal era comum que os outros adolescentes se sentissem ameaçados. Ela já havia sido premiada três anos consecutivos com o boletim de ouro, havia passado em vários concursos, em especial um no qual fora escolhida a garota mais inteligente do colégio alpha.

Ela era o destaque da escola, o cartão de visitas, fazia parte da elite do colégio, e graças a todos os atributos havia se tornado a garota propaganda da escola, devido a isto se sentia obrigada a viver com um sorriso estampado em seu rosto mesmo que não fosse assim tão sincero.

As primeiras aulas haviam passado devagar talvez pelo fato de que um dos professores tenha se ausentado deixando a turma sozinha. São nessas horas que a tortura tem seu inicio. A baderna começa e junto com ela as brincadeiras de mau gosto.

Apesar de gostar tanto de estudar aquele ambiente não fazia bem para Clarisse e por isso ela se sentia tão ansiosa, antes mesmo de entrar já queria sair de lá.

Em aulas vagas Clarisse se esconde em um canto da sala com medo dos ataques, mas ainda assim pode senti-los se aproximar.

Mesmo que pareçam inofensivas palavras também tem o poder de ferir, com o tempo Clarisse já havia se anestesiado e as palavras não lhe afetavam tanto assim e foi a partir dai que as agressões ficaram constantes.

Clarisse não era assim tão frágil, na verdade era forte, forte o suficiente para agüentar tudo calada, forte o suficiente para não revidar, pois sabia que ela era melhor do que eles e o fato de saber disto já lhe trazia certo alivio.

Faltavam apenas alguns minutos para o próximo professor adentrar a sala e então temporariamente se encerrar as torturas.

Em poucos minutos muita coisa pode acontecer, o destino de Clarisse estava agora nas mãos deles: Os agressores. Em meio a socos e pontapés, a blusa de Clarisse acaba sendo rasgada deixando à mostra as marcas, as suas marcas, marcas que há tanto tempo ela manteve em segredo.

Todos ficaram chocados com a cena horrível, marcas ainda não cicatrizadas, cortes profundos, sangue, e lagrimas, muitas lagrimas que antes estavam contidas, mas, que no momento já haviam se tornado incontroláveis para ela que agora estava ali totalmente frágil, se sentindo ainda pior (se é que isto é realmente possível). Clarisse se sentiu ainda mais indefesa, precisava mais uma vez do vazio de seu mundo ainda sangrando pegou sua mochila e correu para o banheiro.

E então chorou, chorou muito e gritou o quanto pode e decidiu acabar com a dor pegou seu canivete e se preparou para o fim, mas, antes pensou em uma forma melhor de dar Adeus pegou na mochila o caderno e a caneta e em meio a lagrimas escreveu.

Perdoem-me sei que fui fraca, mas, já estou aguentando tudo isto há muito tempo.

Em casa as coisas nunca estiveram boas e de uns tempos para cá andam piorando, a escola sempre foi este inferno do qual sempre desejei fugir.

A todos vocês só tenho a agradecer por ter deixado os meus dias ainda piores.

Vocês tinham a chance de mudar as coisas, mas resolveram fazer desta forma.

Lembrem-se as suas palavras e atitudes podem acabar com a vida de alguém assim como aconteceu com a minha.

Fiz o que fiz por não encontrar outra forma de me sentir melhor. Adeus

Em seguida ainda tremula, porém decidida pegou seu canivete, o mesmo que esteve presente todas as outras vezes e delicadamente o posicionou cuidou para que desta vez fosse algo fatal mais do que um simples corte para esquecer da dor, desta vez a dor era enorme , corte nenhum poderia ajudá-la, aos poucos foi cortando, tomando cuidado pra que desta vez nada desse errado, o sangue foi jorrando e então ela pode sentir a morte estava se aproximando algo lhe apontava a saída, em pouco tempo a pouca vida que restara já havia acabado sobrando apenas um corpo vazio e um bilhete ao lado.

Clarisse estava morta nada poderia mudar isto.

Foi encontrada duas horas depois pelo diretor da escola.

Clarisse Ficou conhecida não apenas por que havia se suicidado em um banheiro mas, porque havia feito a diferença na escola alpha, ela se tornou bem mais que uma lenda pois foi o pontapé inicial para a luta contra o bulling.

Nada podia ser feito a respeito do trágico fim de Clarisse porém muitas outras historias como essa poderiam ser evitadas com a conscientização.

Quantas Clarisses serão necessárias para que atitudes como esta cheguem ao fim?

Ps: Historia Fictícia, baseada em alguns fatos reais.

Ps²: As vezes uns precisam se sacrificar para que outros possam viver mas, isto não significa que todo seu esforço será valido.

Ps³: Suicídio não é a solução.

Bruna Carvallho
Enviado por Bruna Carvallho em 19/12/2012
Código do texto: T4042934
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