A lágrima do nego.

Uma certa vez, um escravo, com os anos a pesar em suas costas, foi fazer uma oferenda ao seu deus.

Após organizar todos os objetos como mandava o ritual e as tradições, fez um longa prece.

- Pai, obrigado por todas as dádivas que tu me deste, hoje não sinto mais o peso da chibata, com seu auxílio e suas bençãos aprendi a curar, porque tu me deste este dom, eu lhe agradeço.

- Pai, mesmo assim peço desculpas porque em retribuição, só posso lhe fazer esta pequena oferenda.

Foi quando ele ouviu de dentro do seu coração uma resposta.

- Filho, agradeço a ti, pelo templo que criastes.

- Meu pai de que templo falas?

- Eu falo do templo em que eu moro, nele não há sujeira, porque tu afastaste toda a dor e a mágoa que um dia carregou, minhas oferendas são as mais lindas, por causa das orações que tu fazes com amor e perdão.

- Meu templo filho, é o mais lindo porque não negas ajuda a ninguém, mesmo que um dia a mão que levantou a chibata, hoje lhe peça ajuda, tu agradece por todas as bençãos e provações, entendendo os seus significados afastando a vaidade e a revolta.

- Tendo tão pouco ainda se lembra de mim. Eu que lhe agradeço, por ter construido uma morada tão bela para mim, pois resido em seu coração.

E neste momento a voz cessou.

O senhor ficou pasmo com a resposta que lhe foi enviada e mesmo na penumbra da noite em meio a mata foi possível se ver duas gotas de luz escorrerem pelo seus olhos.

Pois estas corriam dos olhos mas vinham do coração.

Não se esqueça de sonhar...

Marcelo Rebelo