QUANDO A INFÂNCIA SE VAI.

Aos 12 dias de Maio de 1997, decido escrever essa carta. Fiz um acordo com minha mente, deixo essa história em uma página qualquer, afinal, páginas não tem sentimentos que as impeçam dormir.

Minha irmã, Jéssica, lembro-me de seus olhos fundos, resultado de noites mal dormidas. Uma grande responsabilidade para uma menina de 10 anos, cuidar de 4 irmãos mais novos. Enquanto nossa mãe, prostituía-se em nossos quartos. Nos dias de calor, camisas de mangas cumpridas escondendo as queimaduras de cigarro. Era desagradável, mas pelo menos eu ia a escola, na volta, quando nossos três irmãos dormiam, eu ensinava o que aprendia a Jéssica, a luz da vela queimando ofuscava seus olhos sedentos de conhecimento. Seu único sonho, era estudar.

A louça suja, por vezes, rendia surras de cinta em Jéssica. Mãe, queria não tê-la. O leite azedava, mas como única refeição de crianças pequenas, era servido como a mais saborosa refeição junto com bolachas de maizena. Jéssica, sempre me dizia que queria fugir pra bem longe, mas como deixar nós para trás?

Por denúncia dos vizinhos, o conselho tutelar apareceu em casa, levaram os dois mais novos, minha mãe chorava como uma mãe cautelosa, nos agarrando e nos abraçando, eu sentia nojo, e pela feição de Jéssica, ela sentia o mesmo.

Apanhamos muito naquela noite, aquela velha drogada batia-nos demasiadamente sem parar, Jéssica levou um soco e caiu desmaiada, ao ver essa cena, peguei uma tábua e taquei na cabeça dela, desmaiou.

Consegui acordar Jéssica, saia muito sangue de sua cabeça, chamei os vizinhos, que nos levaram para o hospital. Mas antes implorei para que não espancassem minha mãe. Mas merecia.

Naquele dia no hospital, fui separado de Jéssica. Fomos para dois abrigos diferentes, acabei sendo adotado, só fui saber de Jéssica 20 anos depois, até o reencontro com ela.

Meu nome é Sérgio, tenho hoje 27 anos. Sou programador de uma grande empresa, naquele dia de sol do mês de maio meu telefone toca.

-Senhor Sérgio, uma pessoa chamada Jéssica disse que precisa falar com o senhor, disse que o senhor a conhece. Disse minha secretária.

-Não Núbia, estou muito atrasado com esses relatórios, manda voltar outra hora. Respondi.

-disse que é sua irm......... Senhor Sérgio, senhor Sérgio.

Antes de escutar a palavra irmã, sai correndo em direção a porta de entrada, era ela, mesmo com o tempo pude perceber, era ela. Não queria mais largar de seus braços, chorávamos, chorávamos como crianças que nunca pudemos ser. Jéssica foi adotada por uma família rica, era engenheira química era casada, e eu era tio de Sérgio pelas fotos mostradas uma adorável criança, tinha o mesmo nome do tio Jéssica fez questão de ter meu nome em seu filho.

Era inevitável o assunto de minha mãe, estava em estado terminal em um hospital, Jéssica sabia, pois a polícia chegou a ela por intermédio de minha mãe, disse que era a única filha. Eu fui visitar, mas antes de me julgar senhores leitores, quero dizer que, só quem já sofreu por alguém sabe a dor que carrega.

Ela estava ali com aids, eu devia ter sentido dó ou algo próximo, mas pelo contrário, duras palavras saíram:

-Aqui te enterro minha mãe. Não te trouxe flores, pois sua cova é imóvel não poderei eu mais encontrar, você morreu em vida. Deixo-te aqui com sua própria culpa, não lhe rogo maldições, sua mente as fará por mim. Disse de cabeça baixa.

Ao terminar essas palavras virei as costas, mas antes de sair do quarto,

chorei. Fechei a porta, nunca mais a vi. Quero esquecer essa história, que essa folha de papel acabe com esse meu sofrimento, quero ser pai, dar tudo que meus filhos merecem, principalmente a infância.

Eduardo monteiro
Enviado por Eduardo monteiro em 16/01/2013
Código do texto: T4088861
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