OS CABELOS BRANCOS DE MAMÃE
A hora de fazer o pão era um momento de muita agitação na casa de dona Zefa. As crianças pulavam em torno da mesa, querendo pedaços da massa, que era sovada e amassada para depois ser esticada com uma garrafa, em cima da grande mesa daquela cozinha de colonia.
Dona Zefa, viúva com cinco filhos pequenos, defendia-se entre os lavados e o fabrico de pães e doces que os filhos mais velhos vendiam nas casas vizinhas. Quem mais gostava de ficar junto, na hora de amassar os pães, era a pequena Sara, que subindo na cadeirinha pegava os restos de massa para fazer pequenos doces. Suas mãozinhas delicadas davam forma a corações, trevos e estrelas. Seus docinhos de massa ficavam expostos sobre a mesa, onde ninguém podia tocar.
Os filhos extremamente carinhosos recebiam de Dona Zefa a força que só as mães tem e o arrimo desprendido que só as guerreiras possuem. Entre os filhos amados, Albertinho era o mais apegado à mãe e muito grande era o seu receio de perde-la. Esse sentimento chegava a tal ponto, que certa ocasião ao chegar na cozinha, onde Dona Zefa envolvida com o preparo das massas, virara um pouco farinha e ao passar as mãos pela cabeça deixara nos cabelos um faixo da farinha branca como a neve. Tal tonalidade alva na cabeleira negra de sua mãe assusta albertinho que grita: "Mamãe com cabelos brancos!!! mamãe velha!!! as mães não podem envelhecer!!!"