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O CAMARADA
 
               Choveu o dia todo, quase sem tréguas. No final da tarde o pôr do sol ficou rubro, sinal de tempo bom. A lua prateada grande e linda, inspiração para os poetas, convite para os namorados. Do edifício Zotl, um suicídio estaria prestes a acontecer. Só quem estava perto que sabia. Enquanto alguns namoravam numa pracinha próxima, os bombeiros trabalhavam tentando salvar uma vida. O Camarada. Essa era o apelido do homem ricaço morador do apartamento de cobertura que ninguém sabia o nome, com exceção do síndico, porque era antipático, pretpotente e não fazia amizades. Este estava pula ou não pula, sentado no parapeito do terraço do prédio de dezoito andares. Alguns curiosos diziam que era apenas ceninhas pra chamar atenção. Outros assustados pediam aos guerreiros do fogo que fizessem alguma coisa e  que não o deixasse morrer.
 
               Enquanto um soldado tentava conversar e convencer o Camarada pra desistir da ideia de morte, um outro policial militar chegou por detrás, e num bote certeiro o agarrou derrubando-o para o lado de dentro. Em seguida chegaram outros e ajudaram o rapaz. Estava mais calmo.
 
               No dia seguinte ao passar pela portaria, viu que no balcão havia vários folhetos com mensagens maravilhosas. Pediu ao porteiro e apanhou dois daqueles. Eram diferentes, mas impressos na mesma gráfica. Sentou na escadaria do prédio, o mesmo que na noite anterior queria dar fim na sua existência. Um dos panfletos começava dizendo que: “Muitos tem tudo, mas não tem nada. Outros não têm nada, mas são possuidoras da maior riqueza que existe no Universo”. Ao ler aquelas palavras chocantes, seu olhos começaram a marejar. Lá dizia também que muitos  têm bens materiais, mas não tem Deus. Outros são pobres de coisas, mas não se conscientizam da riqueza que existe dentro deles, que se chama Deus. Leu o restante do texto que explicava com detalhes. Terminava com uma frase que era aquilo que ele mais procurava. Dizia: “A verdadeira  felicidade está em Cristo. Creia  nEle e segue-O. Aprenda a Sua Palavra...
 
               O rapaz leu e releu várias vezes. Lembrou-se de quando criança sua mãe  falava mais ou menos daquela maneira, mas nunca a ouvia e a deixava muito triste.
 
               O outro panfleto era uma mensagem positiva e entusiasta. Terminava com a frase: “Não seja covarde. Vai em frente. Levante a cabeça e sai da caverna. Tu és especial pra Deus e às pessoas”.
 
               Camarada não conseguia ler, porque as lágrimas cegavam-lhe os olhos. Foi até um monte de livro no seu granfino apartamento de cobertura, e achou um livro grosso, capa escura. Estava todo empoeirado. Era uma Bíblia Sagrada. Pegou um pano úmido, limpou a poeira e começou a ler. A tristeza e a depressão fugiram como por um passo de mágica. Sentiu alegria e a felicidade que tanto buscava, estavam ali diante dos seus olhos embutido nas sagradas letras. Transformou-se num homem alegre e feliz.
 
               No dia seguinte, o Camarada foi em cada apartamento pedir desculpas e contar da mudança que houve em sua vida. Com seu testemunho levou várias pessoas daquele edifício a imitá-lo na sua segunda atitude...
 
(Christiano Nunes)