SAUDADES DO MAR

SAUDADES DO MAR

Estava sentado em um banco de rodoviária esperando o ônibus que me levaria até a praia.

Resolvi ler um livro enquanto esperava. Leio livros como quem lê um roteiro de viagem, querendo conhecer coisas novas.

O ônibus serpenteia pelos caminhos sinuosos da cidade. Tento entender seu traçado, perceber sua personalidade.

É uma cidade cheia de ruas estreitas, apesar de ser pequena pelo fato de não ser plana no primeiro olhar não há certeza aonde se vai chegar mais adiante.

De frente a parada, o veículo freia, ouço uma moça vinda das bandas do cais se gabar que conseguiu três quilos de camarão. Seria presente de um namorado pescador?

Continuando a minha análise, penso o que tem mais a ver com o jeito da cidade : o movimento na beira da lagoa ou as casas do centro sendo espiadas pelas ruas de terra?

Da janela vejo o mar, tenho uma saudade do oceano de no mínimo uns duzentos anos, meus antepassados habitavam uma ilha e vieram viver entre as coxilhas. O dia que vi o mar pela primeira vez foi um reencontro

Da porta do ônibus descem uns hipies ( ou algo parecido, nem sei se eles existem ainda), não os tinha visto antes Eles retiram de suas enormes mochilas algumas redes e as fixam nos sombreiros, achei de uma praticidade invejável. Às vezes acho sem muita convicção que possuir muitos bens deve ser parecido com andar com uns quilos a mais.

Viagem para mim é uma chance de se reinventar. Noutro lugar não preciso me preocupar com as expectativas que os outros teêm de mim e as que eu penso que eles teêm.

Quem sabe fico por aqui? Compro um barco, vou até na Marinha e faço tudo nos conformes. Se alguém quiser me visitar, ofereço um mate ou um café para os amigos e para um amor ofereço a vista das estrelas de dentro da lagoa com o rádio sintonizado numa balada romântica.

Vou ficar?

Não. Depois de amanhã vou embora, deixar esse belo sonho como um bálsamo para aguentar os “ perrengues” do ano, mas um dia eu volto a pisar essa areia e matar as saudades do mar.

FÁBIO SOUZA DAS NEVES, PINHEIRO MACHADO 26/01/2013 REVISADO 07/02/13

Fábio Souza das Neves
Enviado por Fábio Souza das Neves em 10/02/2013
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