Zé - Parte 05

Passos largos e decididos, foi em direção ao amigo.

Sonoras palmadas nas costas, seguidas de apertos de mão. Como prometera, lá estava Antonio, em visita à fazenda de Zé.

Ao invés de entrarem na casa, saíram em direção ao riacho. Era este já um hábito dos dois. Quando tinham algo importante a conversar, era para lá que se dirigiam.

Antonio tirou do bolso da calça, um papel cuidadosamente dobrado. Passou ao amigo, o que parecia ser um mapa desenhado a mão.

Apontando para a marca quase no centro do desenho, Antonio perguntou:

_ Conhece este lugar?

Zé olhou para o amigo. Ficou ali parado, papel na mão esquerda. Mão direita alisando os cabelos, como a pensar melhor, revirou o mapa ora para longe e mais perto, analisando. Com um meneio de cabeça, devolveu-o.

_Acho que sei o que é. Será aquela área ao norte daqui, próxima ao rio acima, a uns 50 km?

_ Exato, Zé, exato.

_Sim, mas o que isto quer dizer? Perguntou o já ansioso Zé.

Com a calma costumeira, Antonio arrancou com cuidado, o ramo de capim santo. Levando-o em direção ao nariz, aspirou-lhe o aroma.

_Zé, estive lá, pouco tempo atrás. Como sabe, tenho um grande amigo ali. Fui a convite e, por dois dias, pude conhecer bem a região. E, hoje, estou aqui lhe convidando a ir comigo. Gostaria que você conhecesse o lugar. Será que podemos ir ainda hoje?

_Antonio, não estava em meus planos sair assim. O que pretende por lá? Tenho mesmo que ir? Conseguiremos voltar hoje?

Antonio não pode conter uma gostosa gargalhada.

_ Zé, ah Zé! Calma homem! Posso garantir que não será tempo perdido.

Zé ficou aturdido. Antonio era mesmo cheio de mistérios. Fazer o que lá naquele lugar que mal sabia onde ficava? E onde não conhecia ninguém? Tinha tanta coisa pra fazer... E agora essa viagem sem sentido nenhum.

Quando se deu conta, estavam já entrando pela varanda. A mulher sorridente, embalando o pequeno, os esperava.

Antonio estendeu os braços para o garoto. Levantou-o ao alto, sacudindo-o com cuidando. As risadas dos dois encheram a casa.

_ Garotão, você está forte como um tourinho!

As bochechas de Antonio estavam vermelhas pela risada solta. Os olhos brilhavam de alegria. Antonio, naquele momento, parecia tão criança quanto aquele pequeno. Na verdade, sentia-se um avô daquele menino.

Zé e a mulher olhavam a cena comovidos. Eram como uma só família. Afinal, os amigos são a família que nós escolhemos, não é o que se dizia?

Finalmente, Antonio devolveu o garoto aos braços da mãe.

Sentado à mesa da cozinha, pousou a xícara de café, olhando afetuoso para a mulher do amigo.

_ Luisa,aqui, neste papel, está o telefone de minha casa. Se precisar, chame por Helena. Ela virá fazer-lhes companhia,se desejar.

Em seguida, levantou-se despedindo.

Ainda sem saber ao certo o que estava acontecendo, Zé deixou a família, levando a pequena bagagem.

E pensava, essa era mais uma que Antonio o fazia passar. Somente o respeito e admiração pelo amigo, não lhe deixavam contrariá-lo. Antonio era o tipo de pessoa que inspirava e despertava uma admiração e confiança instantâneas.

Partiram, naquele meio de uma manhã com céu azul e sol forte. Quase não conversaram durante o caminho percorrido em menos de uma hora. Aos poucos, avistaram os primeiros sinais da fazenda. Era mesmo um bonito lugar. De um lado da estrada particular, já de cascalho, uma área de mata virgem. Árvores frondosas lançavam uma sombra acolhedora sobre eles. Do lado oposto, a plantação bem cuidada. Alguns minutos e uma clareira escancarou-se à frente. Uma construção de tijolos antigos, baixa e comprida, estendia-se ao lado.

Em seguida, após uma curva à direita, apareceu a casa. Toda branca, bem cuidada, altas colunas contornavam uma varanda dominante em toda frente. Janelas em verde escuro, completavam o aspecto bem cuidado. Ao fundo e nas laterais, variados pés de árvores frutíferas. Zé olhava tudo com interesse e admiração.

Antonio anunciou a chegada com buzinas intermitentes.

Da casa saíram correndo um casal de jovens adolescentes. Logo atrás, um senhor grisalho, acompanhado de uma senhora.

Acenando e sorridentes, os quatro aproximaram-se dos recém chegados.

Nuria Monfort
Enviado por Nuria Monfort em 23/02/2013
Reeditado em 23/02/2013
Código do texto: T4154994
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