ZÉ - Parte 06

Antonio escancarou aquele sorriso franco e largo. Sufocou o amigo Valdemiro num abraço apertado.

Cavalheiro como sempre, tirou o chapéu fazendo uma mesura para Jeane.Admirava-lhe a beleza, a delicadeza feminina.

Brincando costumava dizer ao amigo Valdemiro:

_ Se eu não tivesse encontrado a Helena, me casava com a Jeane.

Valdemiro não se importava. Estava acostumado com o jeito menino de Antonio. Sabia o quanto ele era correto. Mas tinha uma veia humorística sem igual.

E ele agora, cumprimentando Claus, o jovem filho do casal. Um aperto de mão, seguido de punho fechado em toque. Em seguida, num movimento rápido, arrancou o boné do garoto. Seguiu-se uma corrida um atrás do outro, em volta do atônito Zé. Antonio abanando o boné, numa provocação para Claus. E este, vermelho pela corrida e mais ainda pela gargalhada. Ofegantes pararam e finalmente Claus com o boné de volta à cabeça. Mas claro, com a aba virada para trás, em mais um gesto brincalhão de Antonio. Todos caíram na risada, contagiados pela brincadeira.

_Ops, minha lindeza! Cada vez mais bonita , hem? E a jovem Elisa era agora o alvo de Antonio. Num movimento rápido se viu rodopiando nos braços fortes. Colocada ao chão, e um beijo estalado no rosto corado pelo riso.

Finalmente, parece que Antonio se deu conta do amigo.

_ Deixa eu apresentar: este é o Zé.

Os olhares de todos se voltaram para o calado homem. Tímido e ainda meio sem jeito, ele tirou o chapéu e inclinou a cabeça em cumprimento geral.

_ Não reparem não, ele é meio estrupício assim, mas é gente boa.

Era Antonio de novo, fazendo das suas, provocando risos em todos.

Zé era puro embaraço. Sem saber o que fazer, o que falar.

Antonio deu-lhe um tapinha animador no ombro e indicou-lhe o caminho à frente.

Todos seguiram em direção à casa. Num instante, estavam em animada conversa.

O casal Jeane e Valdemiro quiseram saber as novidades e um pouco do novo amigo. Este, já bem mais descontraído, falou de sua vida na fazenda, sua mulher, seu filho. Não tocou no assunto que mais lhe afligia, a construção da estrada que num futuro breve passaria por suas terras.

O casal também lhe falou de seu dia a dia. Ficou sabendo que o lugar se chamava Recanto Feliz. Soube que o casal, pais dos jovens Claus, quinze anos e Elisa, dezessete, planejavam uma viagem longa.Estariam fora por um ano, numa cidade da Itália, berço das famílias de ambos. A razão disso era levar os jovens filhos para um tempo de estudo e maior conhecimento da terra de origem de seus avós. Os planos eram muitos.

Zé, pressentiu serem Jeane e Valdemiro, um casal com boa condição financeira e cultural. Estava claro também, em sua intuição, que eram pessoas do bem.

Sentados à mesa farta, a conversa se estendeu entre bolos, pães e café servidos de maneira casual, mas que denunciava uma educação refinada.

Zé sentia-se muito bem. Logo estava entrosado, falando solto, de seus projetos para a vida.

_ Valdemiro, preciso te perguntar se ainda tem a idéia de contratar um capataz para cuidar de suas terras, quando estiver fora. Se tiver, aqui está a pessoa certa.

Epa! Zé não acreditou no que ouvia. Estaria Antonio falando dele? Mas ele nem sabia disto tudo... Olhou sem jeito para o casal sorridente à sua frente. E espantado, voltou-se para Antonio. Não sabia o que dizer, sequer onde olhar.

_Aceita mais uma xícara de café? Era Jeane, oferecendo o bule delicado de porcelana.

O gole do líquido quente e perfumado, poupou Zé da pergunta que lhe temia no pensamento.

Antonio, agora, estava sério. E a mão alisava com cuidado o queixo e a barba por fazer. Zé conhecia bem aquele gesto do amigo. Sabia que algo importante ele planejava falar. Mal lembrava o jeito brincalhão de poucos minutos atrás.

_ Sabe, Valdemiro. Tenho pensado bastante no que me disse na última vez que estive aqui. Deve se lembrar que eu fiquei de lhe ajudar na busca de uma pessoa para suas terras. E hoje, aqui está este meu grande amigo.

Falou e estendeu o braço em direção ao ombro do Zé. Num gesto confiante, olhou firme para o casal.

_ Esta é a pessoa certa. Será bom pra vocês. Será bom pra ele.

Valdemiro apenas assentia com a cabeça. Percebia-se o grande respeito por Antonio. Jeane, olhava calmamente sem nada dizer. No ar, pairava um clima de confiança e entendimento.

Em seus pensamentos, o sempre aturdido Zé, pensava:

“Este Antonio não tem mesmo jeito, me coloca em cada uma! Como nem me falou, perguntou nada?”.

_ Nem precisa responder agora, Valdemiro. Podemos dar uma volta por aí? Mostrar a propriedade para o Zé?

A passos lentos, os três homens. Três gerações: Antonio, o mais velho, seguido de Valdemiro e o mais jovem e surpreso, Zé.

Passaram pelo gramado nos fundos do casarão. Caminharam à sombra de um arco de parreiras. Abelhas zuniam entre os cachos enormes e perfumados .

Mais alguns metros adiante, chegaram à coudelaria. Atrás do cercado impecável, vários cavalos de raça. Um deles chamava a atenção pela beleza e porte. Um belo cavalo branco, árabe, trotava ao redor do cercado. Parava por instantes, inclinando a cabeça e voltava a trotar imponente. Era um espetáculo digno de ser visto.

Zé estava deslumbrado. Ali era tudo além do que já pudera imaginar.

Só uma pergunta lhe batia sem cessar: qual o plano de Antonio? O que ele, Zé, tinha a ver com isto tudo?

Nuria Monfort
Enviado por Nuria Monfort em 08/03/2013
Reeditado em 16/04/2013
Código do texto: T4177064
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.