EM BUSCA DA FELICIDADE

José, sentado em seu sofá, cansado pela luta do dia, assiste ao jornal. É um homem pacato. Sem saber o que de fato é felicidade, tem certeza de que sua vida não é aquela desejada por todos. Decide mudar. Promete para si, que aquele foi o seu último dia de infelicidade e, comunica à sua mulher, a boa nova.

Praticar esporte é o começo. Após a prática esportista, ele percebe que teve momentos prazerosos, mas que existe ainda um vazio. É, ele ainda não era feliz. O programa da tv dizia que junto com exercícios físicos, uma pessoa equilibrada deveria cuidar da alimentação. José resolveu vigiar a ingestão de doces e carboidratos. A esposa Gertrude também seguia a filosofia de José, afinal, confiava por demais em seu marido e ele nunca a levaria para o mau caminho. Gertrude, então, fazia igual busca.

_Meu bem, preciso de uma panela elétrica de arroz. Olha que maravilha! Quanto facilitará nossa vida!

José deu razão à Gertrude. Precisavam de uma panela elétrica de arroz.

Um comercial de Tv mostrava o lançamento de um celular. Era um espetáculo. Mp4, filmava, fotografava, conectividade planetária em tempo integral.

José, homem crítico, logo percebeu o que a propaganda queria dizer. Encarou seu antigo celular que executava e recebia chamadas perfeitamente: _Preciso de um novo celular.

José e Gertrude fizeram muitas modificações enquanto se atiravam a esta procura da vida feliz. Os velhos cronistas dizem que ele experimentou carnes novas; Outros , que Gertrude recebia muitas aulas particulares do personal trainer. Outras conversas de rua dizem que mais coisas grupais aconteceram, mas isto, o leitor que identifique, pois não quero ser responsável por falação alheia.

Trocaram de carro semestralmente, vestiram a roupa da moda, compraram todos os utensílios domésticos essenciais para uma vida feliz. Adquiriram todos os eletrônicos, todos os portáteis. Pois era isto que havia nas propagandas de TV. Às vezes, José tinha crises nostálgicas, mas logo isto se resolvia. Era preciso progredir e estes fantasmas que ele tinha deveriam ser coisa de quem estivesse ficando velho.

Por outro lado, os vestidos, os jeans e os sapatos nem eram tão belos assim _refletia Gertrude, enquanto buscava aquele livro empoeirado da estante, afinal, o tablet agora era seu parceiro. Os batons nem eram tão sedosos_ divagava Gertrude durante a arrumação da maquiagem.

Essas coisas se passavam por dentro deles, mas não revelavam um ao outro. Pois estavam se adaptando aos novos tempos e todos que usufruíam daqueles benefícios apresentavam-se alegres o tempo todo. A prova disso era o face book.

Semana passada, encontrei José e Gertrude, sentados na pracinha da cidade. Ele e Dona Gertrude estavam muito estranhos. Ele jogava um tabuleiro de botão e Dona Gertrude lia um velho livro com capa amassada. Eles acenaram prá mim, mas eu ia tão feliz com meu ipad que não ouvi quase nada. Qualquer dia desses, pergunto-lhes o que aconteceu.

Eliane Vale
Enviado por Eliane Vale em 31/03/2013
Reeditado em 31/03/2013
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