Olhar de saudades

“Olhar de saudades”

Eu estava refletindo em como iniciar este texto. Visto que existem tantos textos de qualidade e excepcionais que me sinto pequeno. No entanto, o objetivo maior em escrever este texto é voltar a banhar-me naquele olhar do passado que neste exato momento busco em minha maquina do tempo – minha mente. É um olhar bem feminil e , elevo o pensamento em busca do meu passado distante, a começar pelos os olhos daquela que me seduzil , surgindo agora aos poucos os primeiros estantes do quadro retinas : o primeiro olhar , o mesmo que me envolveu no mundo fantástico dos olhares e dos sorrisos de Monaliza.

Vem-me agora o ponto e que paulatinamente e por via de regra foram se definindo,surgindo os lábios rubros banhados numa sensatez. São tão poucos estes tipos de sorrisos que , de fato,são considerados uns dons divinos de um valor inestimável. Realmente um sorriso dos céus. Talvez um sorriso de criança com uma pitada de malicia.

Lembro-me explicitamente, ao sair da escola ,quando a vi pela a primeira vez. Ela, estava encostada numa arvore com os cadernos em mãos e ao derredor nada mais que suas amigas, de uma certa forma , ela brilhou em minha direção, todos os que estavam em minha volta desapareceram por completo. Só se via eu e ela e ninguém mais. Foi a partir deste dia que eu pude perceber a influencia em que havia naquele esplendido olhar. Ah, foram tantas das vezes que eu pude enamora-me daqueles olhares de poesia. Ao imagina-la ao sol, ou mesmo saindo do mar , com o queixo tremendo e os cabelos por sobre as espáduas pingando sem parar. Quanta emoção por agora e , por todas às vezes que me recordo disso. Surge-me um olhar meigo e disciplinado no amor e na conquista , como se depois ele fosse me convidando para uma oferenda d’amor.

Eu a vejo neste momento a que escrevo. Mesmo não a tendo aqui ao meu lado neste exato instante. Uma bela mulher com um sorriso doce e um par de olhos a brilhar como dois faróis a me fitar sublime e cheio de afago. Quando começo a percorrer aqueles lábios num sorriso boreal construindo uma rosa entreaberta para o beijo.

Um dia ela me pediu um soneto e, fiquei extremamente feliz.

- Amor meu compõe um soneto de uma forma que eu venha caber tão bem em teus versos!

- Sim meu amor – eu respondi.

Como eu não poderia fazer já que eu estava tão apaixonado? Este foi para mim à oportunidade de demonstrar o meu carinho e minha fidelidade numa exata jura de amor jamais concebido por poeta algum .

Não sei o porquê mas ao me pedir um soneto senti nela uma tristeza na voz outrora cheio de energia . Ah, eu me lembro com ternura, o poeta , que ela havia me feito ser , aconchegada ao meu recanto de amizade , inspirando-me o bem querer de deita-la ao meu colo confortável. A cabeça redonda num formato quase que perfeito sob um cafuné de fazer dormir, mostrando ao mesmo tempo o alvor entre os fios lisos de cabelos. Aquele olhar castanhos , que desde o primeiro momento fez-me a apaixonar-se. O corpo coberto por aquele lindo vestido, agora , amarrotado, porém , num gesto lírico. A simplicidade das palavras, algumas vezes jocosas,com tudo,inspiradoras. Muito gostei do seu jeito doador humano acima de qualquer sistema.

Após uns dois dias , eu pude escrever o soneto . Fui a casa dela, coloquei por sobre a mesa.

Quando ela chegou viu o papel dobrado e o abriu , assim estava escrito:

“A minha vida é você”

Às vezes perco-me na busca do que é o amor,

E esqueço de vez quem sou e o que posso ser,

Escondo-me,transformo-me,numa raiz

Esquecida por baixo de quatro camadas.

Mudei de nome em tantos momentos,

Migrei,viajando de coração a coração,

Fiz-me em mil grãos de areia,

E hoje nem sei quem sou.

E eu nem sei quem és e o que queres comigo,

E se queres – transforma-me então!

Pois a vida é um céu azul relevante,

E necessito do seu amor aprazível

Das que a história há de guardar:

Como o meu coração guarda você

Ao ler a emoção lhe veio com tamanho ímpeto que o coração dela desfaleceu.

Foi a ultima vez que o meu amor pode navegar por sobre as ondas de minha poesia. Depois disso , já não me considero um poeta romântico, se não fatalista.

O que diria Vinicius de Morais a este respeito?

“Que não seja imortal, posto que é chama

mas que seja infinito enquanto dure.”“.

Kalell

Kalell
Enviado por Kalell em 27/03/2007
Reeditado em 29/03/2007
Código do texto: T428297