Lúria entrou para a escola muito antes de perder a mãe, desde o início conquistou a simpatia e o carinho de todos, educada, comportada e inteligente, era quase impossível não se encantar com aquela menina de olhos tão pedintes de atenção, quase um bichinho acoado.
Estava sempre de cabeça baixa e sua voz, de tão suave, parecia quase um lamento, o silêncio naquela sala, naquela noite distante, deixava evidente que o pensamento daquelas três mulheres era o mesmo, qual seria a consequência deste novo e tenebroso fato na vida de Lúria.

Apesar de todas as marcas que a vida havia deixado em Lúria, ela era feliz, seus avós se desdobravam para lhe dar toda a atenção e carinho possíveis, moravam em uma casa simples, em um conjunto habitacional popular, daqueles onde todos se conhecem.
A rua estreita estava sempre repleta de crianças descalças, jogando bola, soltando pipas, supervisionadas pelos moradores mais velhos que em suas rodinhas de conversas e risos, relembravam o passado, contavam causos sentados em cadeiras que se multiplicavam pelas calçadas, nesse ambiente Lúria se sentia profundamente feliz.
Foi nesta época que se iniciou um costume que ela levaria para toda a vida, por ser tímida, não participava das brincadeiras, preferia apenas olhar, escutar as conversar e criou assim o hábito de observar atentamente as pessoas, perguntava-se porque algumas falavam mais, outras menos, algumas que pareciam abraçar as tristezas enquanto outras sorriam à espera das alegrias vindouras, sua jovem mente era um turbilhão processando mil informações, trejeitos e diferenças, seu mundo interior era riquíssimo e bem escondido dos olhos zelosos de seus avós.
Nessa mesma época começaram seus questionamentos, insistia em tentar entender porque a vida lhe tirara o pai, pensava também na falta que a mãe lhe fazia, sentia-se cada dia mais só, sua única companhia era seu diário, nele se perdia e se encontrava, registrava ali suas dores passadas, seus planos futuros, ele se tornara um amigo, quase humano, ela dividia tudo com o diário, imaginava e escrevia como seriam os conselhos e as conversas que não teria com sua mãe, as palavras que jamais seriam ditas e eram tão necessitadas, ainda mais agora que já estava deixando a infância para trás.



............... continua.




Loira Paulista
Enviado por Loira Paulista em 24/05/2013
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